Capítulo 01- Anunciação

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Miranda estava exausta, o dia tinha sido particularmente estressante e, apesar de sua rotina de exercícios matinais e da perfeição esperada em cada aspecto de sua vida, ela sentia o peso de algo que não conseguia nomear. As gêmeas já estavam na cama, a casa finalmente em silêncio. Miranda deitou-se, fechando os olhos com um suspiro profundo, tentando afastar pensamentos sobre o trabalho, sobre Andrea.

No sonho, Miranda se encontrava em um ambiente nebuloso e indistinto, algo entre o escritório da *Runway* e a sala de estar de sua casa.

Havia um silêncio desconfortável no ar, uma espécie de tensão que ela não conseguia entender. As gêmeas estavam lá, de pé ao seu lado, os rostos pálidos e os olhos cheios de lágrimas, mas sem emitir som algum. A sensação de pânico rastejou pela pele de Miranda como uma serpente fria, apertando-lhe o peito.

Ela tentou falar, tentou perguntar o que estava acontecendo, mas sua voz não saía. Tudo parecia imóvel, suspenso no tempo. Foi então que ela percebeu uma figura deitada no chão, meio oculta por sombras e papéis espalhados, como se tivesse sido parte de uma tragédia silenciosa. O coração de Miranda se apertou, e suas pernas, antes fortes e decididas, pareciam ter se transformado em chumbo.

Aproximando-se lentamente, cada passo um esforço imenso, ela viu o contorno familiar daquele corpo: era Andrea. Ela estava ali, deitada, imóvel, a pele estranhamente pálida, os olhos fechados como se estivesse apenas dormindo. Mas Miranda sabia. Sabia que algo terrível havia acontecido. O choque a atingiu com força, uma dor que não poderia ter previsto. Ela caiu de joelhos ao lado do corpo de Andrea, as mãos tremendo ao tocá-la, na esperança irracional de que talvez houvesse algum sinal de vida, algo que provasse que aquilo não era real.

Mas o corpo de Andrea estava frio, desprovido de qualquer calor humano, e isso fez o pânico dentro de Miranda explodir em uma torrente de desespero silencioso. Ela tentou gritar, mas sua voz não saía. Tentou chamar por ajuda, mas era como se estivesse presa em um pesadelo onde ninguém a escutava.

De repente, as gêmeas surgiram ao lado dela, pequenas e frágeis, segurando suas mãos com força. Caroline, com os olhos cheios de lágrimas, murmurou algo inaudível, enquanto Cassidy, mais resoluta, olhava para Miranda com uma seriedade que a assustava ainda mais.

- Ela foi embora, mamãe. - disse Cassidy, sua voz como um eco distante. "Ela não volta mais.

Miranda balançou a cabeça freneticamente, recusando-se a aceitar aquelas palavras. Não podia ser verdade. Não Andrea. Não ela. O peito de Miranda parecia se partir ao meio, uma dor que nunca havia experimentado, mais devastadora do que qualquer decepção ou fracasso que já havia enfrentado.

As imagens ao redor começaram a desvanecer, mas o corpo de Andrea continuava ali, uma presença perturbadora e final. Miranda sentia as lágrimas escorrerem por seu rosto, uma vulnerabilidade que ela nunca permitira antes, nem mesmo a si mesma. Ela segurou o rosto de Andrea com delicadeza, os polegares traçando as linhas de suas bochechas como se quisesse memorizar cada detalhe, como se quisesse trazê-la de volta à vida com o simples toque de suas mãos.

Mas nada acontecia. Não havia milagres ali. Apenas a escuridão se fechando ao seu redor.

De repente, Miranda despertou com um sobressalto, o corpo coberto de suor frio. Seu coração disparava no peito, os batimentos tão altos que quase doíam em seus ouvidos. Sentou-se na cama, ofegante, e levou as mãos ao rosto, tentando entender o que acabara de acontecer. O quarto estava escuro, silencioso, mas o sonho ainda pairava sobre ela, real demais.

Sem pensar, ela pegou o celular ao lado da cama. Eram três da manhã, mas isso não importava. Suas mãos tremiam ao abrir o contato de Andrea, hesitando por um segundo antes de pressionar o botão de discagem. O telefone chamou uma, duas, três vezes antes que a voz sonolenta de Andrea atendesse do outro lado.

- Miranda? - Andrea murmurou, a voz rouca de sono. "Está tudo bem? O que aconteceu?

Miranda não conseguia falar. Apenas o som da voz de Andrea a trouxe de volta para o presente, como se, por um momento, tudo tivesse ficado bem novamente. Ela inspirou profundamente, tentando controlar o tremor em sua voz antes de responder.

- Nada. Eu... só queria saber onde você estava.

- Estou em casa. Está tudo bem, Miranda? Você soa estranha.

Por um segundo, Miranda quase se rendeu à verdade, quase confessou o que estava sentindo. Mas, como sempre, a máscara se colocou no lugar, escondendo a tempestade que havia se formado dentro dela.

-Sim. - disse Miranda, com a voz mais firme. Está tudo bem. Volte a dormir, Andrea.

Ela desligou antes que Andrea pudesse responder, deixando o telefone cair ao lado da cama. A sensação de alívio era quase dolorosa, como se tivesse sido arrastada de volta de um abismo escuro. Andrea estava viva. E, por mais irracional que fosse, Miranda se permitiu respirar novamente.

Volta pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora