Capítulo 16 - Fenix

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Dois meses haviam se passado desde o dia em que Andrea saiu do hospital, e a sua recuperação, embora lenta, era impressionante. A dor constante que a acompanhara nas primeiras semanas começou a ceder, e cada sessão de fisioterapia era um pequeno avanço em direção à sua antiga mobilidade. No entanto, ela sabia que não estava apenas lutando para se curar fisicamente; havia também um processo emocional em curso. O acidente não havia deixado apenas cicatrizes visíveis, mas também traumas mais profundos que ela ainda estava descobrindo.

Miranda tinha sido fundamental nesse processo. Desde o momento em que Andrea foi transferida do hospital para a mansão, a poderosa editora não havia permitido que a assistente, agora muito mais do que isso, ficasse sozinha. Miranda a queria por perto, não apenas para observá-la de longe, mas para realmente cuidar dela, participar de cada etapa, acompanhar cada progresso, e até nos momentos em que Andrea parecia mais frustrada, sem paciência para o ritmo da própria recuperação. Miranda, que muitas vezes se mostrava impassível em público, se desdobrava em atenção, delicadeza e carinho dentro dos muros de sua casa.

Cassidy e Caroline também tiveram um papel essencial. As gêmeas, com sua energia juvenil e empatia, nunca tratavam Andrea com pena, o que ela apreciava imensamente. Elas faziam questão de incluir Andrea em suas rotinas, e em vários momentos, as risadas delas ajudavam a aliviar a tensão. Elas desenhavam pequenos cartões de apoio para Andrea, um mais colorido que o outro, e os deixavam ao lado da cama ou da poltrona onde Andrea passava parte do dia. Cassidy, em particular, desenvolveu uma conexão especial com Andrea, frequentemente ajudando-a com pequenos exercícios de fisioterapia, sempre com aquele entusiasmo contagiante. Caroline, mais serena, sentava-se ao lado de Andrea, lendo ou apenas fazendo companhia em silêncio, o que também a confortava.

Andrea se perguntava, com frequência, como sua vida havia se transformado tão drasticamente. O apartamento que ela dividia com Doug e que fora seu refúgio por tanto tempo, parecia agora um lugar distante, quase irrelevante. Desde o acidente, ela não voltara mais lá. Miranda, decidida e implacável como sempre, havia sido clara: Andrea ficaria na mansão até que estivesse completamente recuperada, e talvez até mesmo além disso, se assim desejasse.

— Não faz sentido você ficar sozinha ou em um apartamento sem os recursos necessários — dissera Miranda, em um tom que não deixava espaço para debate. — Aqui, você terá tudo o que precisar.

E Andrea não conseguia recusar. A verdade era que, por mais desconcertante que fosse no início, a presença de Miranda tinha se tornado essencial para ela. Havia algo profundamente reconfortante em saber que, ao final do dia, mesmo quando Miranda estava imersa no caos da Runway, ela voltaria para casa, para Andrea, com um olhar terno que contradizia toda a severidade de sua postura profissional.

Molly, a enfermeira que havia cuidado de Andrea durante o tempo no hospital, também se tornou uma constante em sua vida. Miranda fez questão de contratá-la, e Molly agora passava boa parte de seus dias na mansão, cuidando de Andrea com o mesmo carinho e atenção de antes. Miranda confiava plenamente em Molly, algo raro para ela, mas via o vínculo genuíno que a enfermeira havia criado com Andrea.

— Você tem sorte de ter Miranda ao seu lado — dissera Molly certa vez, enquanto ajustava as almofadas ao redor de Andrea para a sessão de fisioterapia. — Não é todo mundo que teria uma parceira tão dedicada.

Andrea sorriu, mas uma parte dela ainda lutava com a ideia de "parceira". Ela sabia que Miranda a amava, mas às vezes se questionava sobre o quanto aquilo duraria. Havia momentos de insegurança, principalmente quando ela se sentia vulnerável por depender tanto dos outros. Ainda assim, Miranda nunca dava espaço para essas dúvidas, sempre tão presente, tão firme. O toque delicado de Miranda em sua mão, o jeito como ela a observava atentamente durante as sessões de terapia, o olhar preocupado quando Andrea demonstrava qualquer sinal de desconforto — tudo isso a fazia acreditar que Miranda realmente estava ali para ficar.

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