Capítulo 07 - Sem querer te deixar

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Quando Miranda chegou em casa, o silêncio na entrada era quase sufocante. Ela fechou a porta com cuidado, como se qualquer barulho pudesse quebrar a frágil calmaria que envolvia a casa. O cansaço finalmente a atingiu como uma onda pesada, e por um breve momento, ela fechou os olhos, respirando fundo.

A casa estava escura, com exceção de um abajur na sala de estar, e Miranda soube que as meninas estavam acordadas, esperando por ela. Mesmo no auge de sua exaustão, ela podia sentir a preocupação latente no ar, como se as paredes da casa tivessem absorvido a tensão que ela trazia do hospital.

Ela ainda estava tirando o casaco quando ouviu passos leves descendo as escadas. Cassidy apareceu primeiro, seguida de Caroline, ambas com os rostos marcados pelo sono interrompido, mas com os olhos arregalados de ansiedade.

-Mãe? - Cassidy perguntou, sua voz fina e hesitante. - Como está a Andrea?

Miranda não conseguiu responder de imediato. A emoção que vinha tentando controlar a noite toda ameaçava transbordar novamente. Ela olhou para suas filhas, os rostos preocupados, e de repente tudo parecia demais. O peso de suas próprias emoções, o medo sufocante de perder Andrea, e agora, o olhar ansioso de suas meninas.

Cassidy e Caroline se entreolharam e então se aproximaram, seus passos hesitantes, mas decididos. Elas sabiam que algo estava muito errado. Elas sentiam isso há dias, mas naquele momento, vendo sua mãe diante delas, tão vulnerável quanto nunca tinham visto antes, a percepção foi ainda mais dolorosa.

Caroline foi a primeira a falar.

- Mãe, você está bem? - Sua voz estava suave, mas cheia de preocupação genuína.

Miranda, pela primeira vez naquela noite, sentiu sua postura rígida desmoronar. Ela não estava bem. Nada estava bem. O medo de perder Andrea a estava corroendo por dentro. E ela, que sempre foi a fortaleza inabalável, não conseguia mais manter a fachada.

- Ela está estável,- Miranda finalmente conseguiu dizer, com a voz embargada. -Mas ainda na UTI... e eu... eu não sei.

Cassidy deu um passo à frente e, sem hesitar, abraçou sua mãe. Caroline logo se juntou, abraçando-a do outro lado. As duas garotas pressionaram seus rostos contra os ombros de Miranda, oferecendo o que podiam: conforto e presença. E ali, no meio da noite silenciosa, Miranda se permitiu ceder àquele momento. Ela, que sempre foi o pilar, a mulher de ferro, deixou-se ser amparada por suas filhas.

As lágrimas que havia segurado no hospital começaram a descer silenciosamente por seu rosto. O desespero que ela havia sentido, a angústia de ver Andrea tão frágil, veio à tona. As meninas não disseram nada, não fizeram perguntas. Apenas ficaram ali, segurando-a, enquanto Miranda se desfazia em prantos silenciosos.

- Ela não pode morrer,- Miranda sussurrou, com a voz embargada. - Eu... eu a amo. Eu não posso perdê-la.

Cassidy apertou mais forte o abraço, e Caroline, com a voz suave, disse:

- Nós sabemos, mãe. A gente sabe há muito tempo.

Miranda piscou, surpresa com a calma de suas filhas.

- Vocês... vocês sabem?"

Caroline assentiu.

- Nós sempre soubemos que a Andrea é especial para você. E a gente gosta muito dela também, então não vamos deixar ela ir a lugar nenhum, tá bom?

Miranda soltou uma risada curta, entre soluços, e acariciou os cabelos das filhas.

- Vocês... vocês são maravilhosas, sabiam?

Cassidy olhou para cima, sorrindo levemente.

- Claro que sabemos. Somos suas filhas e somos Priestlys.

Aquele comentário arrancou um sorriso genuíno de Miranda, algo que parecia impossível minutos antes. Ela puxou as meninas para mais perto, sentindo o calor de seus corpos e a força do amor delas. Durante toda aquela noite, ela havia se sentido tão só, mas ali, naquele abraço triplo, Miranda finalmente sentiu que não estava sozinha.

Elas ficaram assim por mais alguns minutos, apenas respirando juntas, até que Cassidy, com uma voz suave, disse:

- Vamos levar você para tomar um banho e tirar essa atmosfera de hospital e depois te levar pra cama. Você precisa descansar.

Miranda assentiu, exausta demais para discutir.

- Só um pouco - ela concordou, sabendo que o dia seguinte traria novos desafios. Mas, por agora, estava grata por suas filhas, por aquele apoio incondicional, por poder ceder, ainda que por um momento, ao amor que as cercava.

Com as meninas ao seu lado, Miranda subiu as escadas, sentindo-se um pouco mais leve, um pouco mais forte. Elas a guiaram para sua suíte. Tomou um banho demorado e relaxante e após, quando finalmente se deitou, Cassidy puxou o cobertor sobre ela com cuidado, enquanto Caroline apagava as luzes.

Antes de saírem, Cassidy se inclinou e beijou o rosto de sua mãe.

- Vai ficar tudo bem, mãe. Nós vamos cuidar de você.

E pela primeira vez em horas, Miranda se agarrou na esperança de que as coisas realmente pudessem ficar bem.

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