Capítulo 04 - Noiva?

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A sala reservada estava silenciosa, exceto pelo som ocasional dos passos apressados do lado de fora. O espaço era pequeno, frio, e a tensão no ar fazia cada segundo parecer mais denso. Miranda e Nigel estavam sentados lado a lado, em poltronas duras e desconfortáveis, a espera de notícias que pareciam nunca chegar. O tempo estava suspenso, como se o mundo tivesse parado, e Miranda, sempre tão controlada, estava prestes a desmoronar.

Nigel, que conhecia Miranda há tanto tempo, sabia que algo estava profundamente errado. Desde que haviam chegado ao hospital, ele notara as pequenas rachaduras em sua fachada-os dedos trêmulos, o olhar fixo na porta, a respiração pesada que ela tentava mascarar com a usual expressão impassível. Mas agora, sozinhos naquela sala, ele sentia que algo maior estava por vir.

Por um longo tempo, eles permaneceram em silêncio. Nigel não ousava falar, apenas a observava de soslaio, respeitando seu espaço. Miranda parecia estar à beira de um colapso, mas lutava para se manter firme.

Então, de repente, sem aviso, a barreira de ferro que Miranda sempre ergueu começou a ruir. Ela inclinou a cabeça para frente, seus ombros caíram, e sua respiração se tornou mais irregular. Nigel a observou com atenção crescente, até que o silêncio foi rompido.

- Ela não pode morrer, Nigel,- Miranda sussurrou, a voz rouca, quase inaudível, como se as palavras fossem tão difíceis de pronunciar quanto o medo que carregavam. -Andrea não pode morrer. Eu não posso perde-la Nigel, não posso.

Nigel virou-se para ela, sua surpresa crescente a cada palavra que Miranda deixava escapar. Ele conhecia o poder que Andrea exercia sobre Miranda, o impacto que sua presença tinha em sua chefe, mas nunca havia imaginado que fosse tão profundo.

- Eu não posso... eu não posso perdê-la, - Miranda continuou repetindo, a voz tremendo enquanto lágrimas silenciosas começavam a rolar por suas bochechas. - Eu... eu a amo, Nigel.

A confissão saiu quase em um gemido, como se o peso daquelas palavras, mantidas em segredo por tanto tempo, finalmente tivesse se tornado insuportável. Nigel, por mais chocado que estivesse, manteve-se em silêncio, permitindo que ela falasse, sabendo que este era o momento de Miranda se libertar de tudo o que vinha reprimindo.

Ela cobriu o rosto com as mãos, seus ombros sacudindo com os soluços que agora escapavam sem controle. Nigel, sem saber exatamente como confortá-la, estendeu uma mão e a colocou suavemente sobre o ombro dela, num gesto silencioso de apoio. Ele nunca tinha visto Miranda Priestly chorar antes, e a visão o atingiu com uma força devastadora.

- Eu... eu nunca disse isso a ela, - Miranda continuou, a voz cortada pela dor. - E agora... e se for tarde demais? E se ela nunca souber? Andrea precisa saber que... que eu a amo. Que... que ela é a única coisa que faz tudo isso- Miranda gesticulou com as mãos, como se se referisse a todo o mundo ao seu redor -valer a pena.

Nigel apertou o ombro de Miranda suavemente, tentando transmitir uma sensação de segurança, embora suas próprias emoções estivessem em conflito. Ele conhecia Miranda como uma mulher forte, ferozmente independente, mas naquele momento, ela estava despida de todas as suas defesas, vulnerável de uma forma que ele jamais poderia ter imaginado.

- E essa mentira... essa mentira que eu disse sobre Andrea ser minha noiva...- Miranda soltou uma risada amarga, entremeada de lágrimas. - Você sabe o que é pior, Nigel? Não foi uma mentira completa. Era o que eu queria. *É* o que eu quero. Eu quero me casar com ela.

Nigel piscou, absorvendo as palavras que ecoaram pela pequena sala. O choque se misturava com uma compreensão crescente. Ele sempre soubera que havia algo mais profundo entre as duas, mas jamais imaginara que Miranda pudesse nutrir um desejo tão forte e real de compartilhar sua vida com Andrea.

- Eu menti para eles, mas não para mim,- Miranda continuou, agora com a voz entrecortada pela emoção. -Esse é meu maior desejo... vê-la viva, casada comigo, ao meu lado. Eu... eu não posso perder isso, Nigel. Não posso perder Andrea antes de ter a chance de contar a verdade a ela.

Miranda respirava fundo, como se lutasse para recuperar o controle sobre si mesma, mas a batalha estava perdida. Cada palavra que dizia era acompanhada por novas lágrimas, por novos soluços, e Nigel, ao seu lado, simplesmente ouvia, oferecendo o único conforto que sabia que poderia dar: sua presença.

- Eu a empurrei para longe tantas vezes - Miranda continuou, a voz mais fraca, - mas agora... agora eu vejo que não posso mais fazer isso. Ela precisa saber que... que eu a amo. E se ela não souber, se eu nunca tiver a chance de lhe dizer isso... eu nunca vou me perdoar.

Nigel a observou, seus próprios olhos marejados. Ele conhecia Miranda há anos, mas este lado dela era completamente novo. Ele não sabia o que dizer, mas sabia que não precisava. Miranda não queria palavras de consolo, não queria ser tranquilizada. Ela queria Andrea viva. E, naquele momento, tudo o que Nigel podia fazer era ficar ao seu lado e esperar que o destino fosse misericordioso.

A sala voltou a ficar em silêncio, interrompido apenas pelos soluços suaves de Miranda. Ela permaneceu com o rosto escondido nas mãos por mais alguns minutos, e Nigel esperou pacientemente, oferecendo seu apoio silencioso. O peso do que Miranda havia confessado pendia no ar, denso e inescapável.

Finalmente, Miranda levantou a cabeça, enxugando as lágrimas com um gesto apressado e tentando recuperar a compostura. Seus olhos, embora ainda vermelhos, estavam novamente fixos na porta. Ela estava, de alguma forma, se reconstruindo, erguendo novamente a armadura que a mantinha protegida do mundo.

Mas Nigel sabia que algo dentro dela havia mudado para sempre.

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