Capítulo 05 -Me Deixa Ficar

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O silêncio na pequena sala foi interrompido pelo som da porta se abrindo suavemente. Miranda levantou a cabeça com um sobressalto, os olhos ainda inchados e vermelhos, mas fixos na figura que entrava. Um médico, de expressão cansada e séria, mas com um ar de controle, entrou, segurando uma prancheta.



Nigel se levantou imediatamente, movido por uma mistura de ansiedade e esperança, e Miranda, ainda que lutando para manter sua compostura, fez o mesmo. Ela tentou, sem sucesso, esconder a tensão crescente em seu corpo, suas mãos se apertando fortemente uma contra a outra.



- Como ela está?- A voz de Miranda saiu mais dura do que ela pretendia, mas era impossível evitar. Cada segundo de espera havia sido uma tortura, e agora, ela exigia respostas.



O médico olhou para ambos antes de falar, escolhendo suas palavras com cuidado.



- Andrea está estável agora. A cirurgia correu bem. Ela sofreu algumas fraturas e uma lesão interna que ocasionou um sangramento importante, porém conseguimos controlar. Neste momento, ela está na UTI, e o próximo passo é monitorar sua recuperação de perto.



Miranda sentiu o chão sob seus pés quase ceder. Estável. A palavra ecoou em sua mente, como se fosse a primeira gota de alívio que ela experimentava desde que tudo havia começado. Ela fechou os olhos por um breve instante, permitindo-se respirar, mesmo que ainda estivesse longe de estar completamente tranquila.



- O que isso significa exatamente? - Nigel perguntou, sua voz quebrando o silêncio que parecia pairar no ar. - Ela vai... ela vai ficar bem?



O médico hesitou por um momento, medindo sua resposta.


- Estamos otimistas. As próximas 48 horas são cruciais. Se ela continuar a responder bem aos tratamentos e não houver complicações, temos uma boa chance de uma recuperação completa. Mas, no momento, o mais importante é que ela está estável. Ela vai ficar na UTI por enquanto para uma observação cuidadosa.



Miranda assentiu lentamente, absorvendo cada palavra. Embora ainda houvesse risco, a simples ideia de que Andrea havia superado a cirurgia e estava viva trouxe uma onda de emoções conflitantes. Alívio, medo, e uma esperança tímida que ela mal ousava sentir.



- Posso vê-la? - A pergunta saiu quase automaticamente de seus lábios, surpreendendo até mesmo Miranda. Ela sabia que não era comum permitir visitas na UTI, mas o desejo de estar ao lado de Andrea era mais forte do que qualquer protocolo hospitalar.



O médico a olhou com empatia.



Por enquanto, ela precisa descansar. Vamos informá-los assim que as visitas forem permitidas. Eu sei que isso é difícil, mas o melhor que podem fazer agora é esperar.



A palavra "esperar" parecia cruel. Tudo que Miranda queria era estar ao lado de Andrea, segurar sua mão, ver com seus próprios olhos que a jovem estava viva. Mas sabia que não havia outra escolha. Era tudo uma questão de tempo.



Quando o médico saiu, deixando-os novamente sozinhos, a tensão na sala não se dissipou por completo. Havia uma calma relativa, mas ainda pesada, como se o ar estivesse carregado com a incerteza do que viria a seguir.



Nigel suspirou profundamente, sentando-se de volta na cadeira e esfregando o rosto com as mãos.


- Bem, isso é... uma boa notícia, certo? Estável é... bom.



Miranda permaneceu de pé, as costas eretas, mas sua expressão traía o turbilhão de emoções que ainda a consumia. Ela olhou para a porta por onde o médico havia saído, como se esperasse que ele voltasse com mais respostas, com mais garantias. Estava longe de ser suficiente.



- Ela está viva. - Miranda disse em um tom baixo, quase para si mesma. - Isso é... o que importa agora.



Nigel a observou por um momento, sentindo que, por trás de sua tentativa de manter o controle, Miranda ainda estava à beira de desmoronar novamente. Mas ela se agarrou àquela pequena fagulha de esperança com todas as forças. Ele sabia que a batalha interna de Miranda era gigantesca - não apenas pelo medo de perder Andrea, mas também pela avalanche de sentimentos que agora não podiam mais ser ignorados.



- Miranda, - Nigel disse suavemente, tentando alcançar sua amiga. - Ela vai superar isso. Ela é forte, você sabe disso melhor do que ninguém.



Miranda não respondeu de imediato. Em vez disso, finalmente se permitiu sentar, seus olhos fixos no chão. O silêncio voltou a preencher a sala enquanto ambos assimilavam a realidade da situação.



Andrea estava estável. Mas o que vinha agora era uma nova espera. Uma espera cheia de incertezas, mas também de uma esperança frágil que começava a se formar.



- Ela precisa ficar bem, Nigel, - Miranda murmurou, com um cansaço profundo em sua voz. - Ela *vai* ficar bem. - Era mais uma ordem para o universo do que uma declaração. Como se, de alguma forma, Miranda pudesse controlar o destino de Andrea com sua força de vontade.



Nigel assentiu, respeitando o momento de Miranda. E enquanto eles permaneciam ali, naquele quarto fechado, ambos sabiam que o que restava era exatamente o que Miranda mais detestava: esperar.



O silêncio, dessa vez, parecia menos opressor. Havia um futuro para esperar, uma esperança à vista, mesmo que tênue.


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