Capítulo 06 - Lutando por Você

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Nigel se levantou lentamente da cadeira e observou Miranda, que continuava sentada, com as costas eretas, mas os ombros tensos e o olhar fixo em um ponto qualquer da parede à sua frente. A rigidez em seu corpo não escondia o quanto ela estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. A luta interna para manter o controle era visível, mesmo para alguém que não conhecesse Miranda tão bem quanto Nigel.



Ele respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. Sabia que não seria fácil convencê-la de qualquer coisa naquele momento, mas também sabia que ela precisava descansar, precisava voltar para casa.



- Miranda, querida - ele começou suavemente, mantendo o tom cuidadoso. - Você precisa ir para casa.



Ela não se moveu, mas Nigel percebeu o leve tremor de sua mão. - Não vou deixá-la aqui Nigel. - foi a resposta firme, embora não tão cortante quanto ele esperava.



Ele se aproximou, sentando-se ao lado dela, como se a proximidade pudesse ajudá-la a entender o que ele estava prestes a dizer:



- Eu sei o quanto você se importa com a Andrea. Todos nós sabemos. Mas ela está estável agora, e a melhor coisa que você pode fazer é cuidar de si mesma, para estar pronta quando ela precisar de você. E suas filhas... estão preocupadas. Cassidy e Caroline têm te ligado sem parar, elas querem notícias da Andrea e, principalmente, querem saber como você está.



Miranda piscou, seu olhar finalmente quebrando o foco no vazio, mas ela ainda não olhava diretamente para Nigel. Ele podia ver o conflito em seus olhos, a relutância em admitir que talvez, por uma vez, ela precisasse se afastar. Não por muito tempo, mas o suficiente para recarregar as forças.



- Eles não vão me deixar vê-la ainda. - Miranda disse baixinho, quase como se estivesse processando essa informação pela primeira vez. - Então, qual seria o ponto?



Nigel inclinou a cabeça.


- O ponto é que você precisa estar em condições de enfrentá-la quando ela acordar. E as meninas estão ansiosas, Miranda. Elas gostam muito da Andrea, você sabe disso. Estão preocupadas com ela e, mais do que tudo, estão preocupadas com você.



Miranda respirou fundo, as mãos se entrelaçando mais uma vez no colo. Nigel viu a dureza de sua expressão começar a suavizar, uma pequena fissura na armadura que ela vinha mantendo desde que receberam as notícias do acidente. As palavras "preocupadas com você" pareciam ecoar na mente dela.



As gêmeas eram a maior prioridade de Miranda, sempre. E se elas estavam preocupadas... talvez fosse o que ela precisava para reconsiderar.



- Você não precisa ficar aqui, sozinha, sem poder fazer nada, Nigel continuou. - Nós vamos voltar amanhã cedo, assim que puderem liberar as visitas. Mas agora, você precisa ir para casa. As meninas estão esperando. Elas sabem.



Miranda finalmente olhou para ele, surpresa.


- Sabem o quê?



Nigel sorriu suavemente.


- Elas sabem o que todos nós percebemos há algum tempo, Miranda. Elas sabem que você se importa com a Andrea... mais do que como apenas sua assistente. Já faz algum tempo que elas vêm juntando as peças. Não estão preocupadas apenas com a Andrea. Estão preocupadas com o quanto isso está te afetando.



Miranda piscou, claramente tentando processar essa revelação. Havia uma parte dela que sempre subestimava o quão perceptivas suas filhas eram. Cassidy e Caroline sempre tinham sido incrivelmente inteligentes, mas Miranda nunca imaginou que fossem capazes de notar algo tão delicado e pessoal.



- Elas...- Miranda hesitou, olhando para o chão. - Elas realmente...?



- Sim, - Nigel afirmou, sua voz cheia de compreensão. - E, honestamente? Acho que elas estão mais aliviadas do que qualquer coisa. Elas querem que você seja feliz, e podem ver que Andrea significa algo muito importante para você.



Miranda balançou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de incredulidade e exaustão. Parte dela parecia querer contestar, resistir, mas outra parte estava cedendo. Ela sabia que Nigel tinha razão. Sabia que suas filhas estavam esperando por ela, e que, no fundo, queria poder segurá-las, acalmá-las e talvez, apenas talvez, admitir que tudo o que estava acontecendo com Andrea estava a destruindo por dentro.



- Eu não posso perder Andrea. - ela murmurou, mais para si mesma do que para Nigel. Era uma verdade que finalmente escapava de seus lábios. - Ela não pode... não pode ir embora e me deixar.



Nigel assentiu.



- Ela não vai, Miranda. Ela é forte. E você também precisa ser agora, para estar com ela quando ela acordar.



O silêncio se instalou novamente por alguns momentos, antes que Miranda finalmente assentisse, quase imperceptivelmente.



- Vamos. - ela disse, com uma voz que carregava um cansaço profundo, mas também uma aceitação relutante. - Vamos para casa. Mas voltaremos amanhã.



Nigel sorriu, sentindo uma onda de alívio passar por ele. Ele sabia o quanto havia sido difícil para ela tomar essa decisão, e estava grato por ter conseguido alcançá-la.



Quando saíram do hospital, o ar da noite parecia mais leve, embora o peso da situação ainda pairasse sobre eles. As luzes da cidade brilhavam ao redor, mas tudo parecia distante, irrelevante. Miranda estava silenciosa, e Nigel respeitou isso, entendendo que as emoções ainda estavam à flor da pele.



Quando o carro finalmente começou a rodar pelas ruas, a caminho de casa, Miranda olhou para fora da janela, as luzes se refletindo em seus olhos. Sua mente ainda estava com Andrea, em algum lugar naquela UTI, lutando para se recuperar.



Mas agora, ela sabia que tinha que estar lá por suas filhas também. Elas estavam esperando por ela, preocupadas, e talvez... apenas talvez... houvesse algum consolo em compartilhar com elas o que estava em seu coração.



O que quer que acontecesse no dia seguinte, Miranda iria lutar por Andrea. E pela primeira vez, sentiu que não estava mais sozinha nessa luta.


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