Capítulo 6

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Distrito de General Isidoro Resquín, departamento de San Pedro, República do Paraguai, 08 de dezembro de 2018.

A noite estava escura como breu em San Vicente Pancholo. A lua nova mal iluminava o céu, e o vento trazia o cheiro da terra úmida das plantações ao redor. O som de um grilo distante apenas perturbava a paz. A fazenda da empresa agropecuária local estava tranquila. Mas no meio da obscuridade, um grupo de figuras se movia com determinação.

Osvaldo Villalba liderava o avanço, seu olhar afiado cortava a escuridão. Sua presença impunha respeito; cada movimento seu era calculado e preciso. Ao seu lado, Maria Rosa avançava rapidamente, segurando uma lata de combustível em uma mão e uma tocha improvisada na outra. Seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e adrenalina.

— Lembre-se, sem baixas — murmurou Osvaldo, olhando para os outros guerrilheiros que se espalhavam pelo campo. — Vamos dar o nosso recado sem derramar sangue.

Maria Rosa assentiu, mas sua mandíbula estava tensa. Ela queria mais do que apenas um recado. Ela queria que os fazendeiros e os grandes donos de terras sentissem o peso de sua ira, o peso das injustiças que seu povo havia sofrido. Mas ela sabia que Osvaldo não toleraria desobediência — pelo menos, não nesta missão.

Osvaldo parou ao lado de um trator estacionado próximo aos galpões da fazenda. Com um movimento rápido, ele abriu o galão de combustível e começou a derramá-lo sobre os pneus e o motor. Maria Rosa fez o mesmo com um dos caminhões ao lado. O cheiro forte de gasolina logo tomou conta do ar, misturando-se ao cheiro de grama molhada.

— Pronto? — perguntou Maria Rosa, seus olhos encontrando os de Osvaldo.

— Vamos fazer isso — respondeu Osvaldo, acenando para que os outros se preparassem. Ele ergueu sua tocha, olhando fixamente para as aeronaves de fumigação estacionadas a alguns metros de distância. — Incendiamos essas máquinas e enviamos uma mensagem clara. Queimar o que destrói o nosso povo.

Maria Rosa não perdeu tempo. Ela jogou a tocha acesa contra o caminhão encharcado de gasolina. As chamas explodiram em um clarão que iluminou a noite, lambendo a carroceria e subindo em espirais furiosas. Logo, o trator também estava em chamas, crepitando como uma fogueira gigantesca.

Osvaldo se moveu em direção às aeronaves. Com movimentos rápidos, ele e outro guerrilheiro começaram a espalhar o combustível pelas asas e fuselagem. Quando a primeira tocha tocou o metal, o fogo tomou conta com uma fúria intensa, iluminando os campos ao redor.

— Vamos, rápido! — gritou Osvaldo, gesticulando para que todos recuassem. O calor das chamas era opressivo, e a fumaça começava a subir densa e negra contra o céu.

Maria Rosa, no entanto, hesitou por um momento. Seus olhos estavam fixos nas aeronaves queimando, uma expressão de satisfação sombria em seu rosto. Para ela, aquelas chamas eram mais do que uma tática de guerrilha; era vingança. Ela se virou para Osvaldo, que já estava recuando para a segurança da floresta.

— Isto é apenas o começo — murmurou Maria Rosa, como se falasse para si mesma.

— Maria! — gritou Osvaldo, com a voz firme. — Agora!

Maria Rosa se moveu, correndo atrás dos outros, enquanto as explosões menores de combustível ecoavam no campo. Eles desapareceram na escuridão da floresta, deixando para trás apenas o rugido das chamas e a fumaça subindo como um sinal de que o Exército do Povo Paraguaio ainda estava ali, desafiando a autoridade e o poder daqueles que oprimiam.

Quando já estavam longe o suficiente para as chamas parecerem apenas um brilho no horizonte, Osvaldo se virou para Maria Rosa.

— Você precisa controlar essa raiva, Maria — disse Osvaldo com um tom firme, mas sem raiva. — Hoje, não houve vítimas. Da próxima vez, não quero surpresas.

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