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Colônia Ararokẽ, departamento de Amambay, República do Paraguai, 08 de julho de 2019.
O sol tinha se ocultado atrás das montanhas de Amambay, pintando o horizonte com tons de vermelho e dourado. A noite chegava com rapidez, envolvendo as árvores ao redor da fazenda Ñandu'i. As cigarras ainda entoavam seu canto, mas uma sensação estranha permeava o ambiente, como se a natureza estivesse ciente do tumulto que se avizinhava.
Osvaldo Villalba colocou a alça da metralhadora sobre o ombro e observou o ambiente, avaliando a condição de sua equipe. Vinte guerreiros — entre eles, cinco indígenas com rostos decorados e passos tão silenciosos quanto os da floresta. Junto a ele, Maria Rosa ajustou o fuzil que carregava nas costas, enquanto Arapoty, um dos homens indígenas, passava a mão no cabo do machado cerimonial e sussurrava orações em guarani. Aquela não era a primeira missão que realizavam juntos, e certamente não seria a última.
— É o momento — afirmou Villalba, com um tom de voz suave, porém decidido.
Maria Rosa lançou um olhar fugaz para ele, quase como se dividissem uma ideia silenciosa, e logo fez um gesto para o grupo. Com movimentos ágeis e discretos, os guerrilheiros se dispersaram, ocupando suas posições em torno do cerne da propriedade.
O relógio indicava exatamente 19 horas. As luzes da casa principal permaneciam acesas, enquanto alguns funcionários da fazenda se movimentavam pelo pátio, concluindo suas últimas atividades do dia. Mal sabiam eles que, à sombra da vegetação, se ocultavam homens e mulheres preparados para o ataque.
Com um gesto de Villalba, o grupo seguiu em frente.
O primeiro disparo quebrou a tranquilidade da noite, ecoando como um trovão. Um dos operários foi derrubado, ferido no ombro, enquanto os outros gritavam e se dispersavam em desespero. Os guerrilheiros se acercaram dos demais trabalhadores com agilidade, forçando-os a se reunir no centro do pátio sob a ameaça das armas.
— No chão, agora! — exclamou Maria Rosa, com um tom que não permitia contestação.
Alguns demonstraram hesitação, mas um golpe brusco com a coronha de uma espingarda foi suficiente para persuadir os mais obstinados. Em poucos minutos, dezessete pessoas se encontravam de joelhos, com as mãos na cabeça, sob o olhar cuidadoso dos guerrilheiros.
Villalba atravessou o pátio a passos lentos, analisando a situação com um olhar atento e estratégico. Ele aguardava a vinda do administrador, que era, na realidade, o foco da operação. O esquema era direto: eliminar o brasileiro e transmitir uma mensagem inequívoca às autoridades do país adjacente. Eles não iriam mais aceitar a influência imperial em seu território.
Maria Rosa se dirigiu em direção a Villalba.
— Ele não deve levar muito tempo. Nossos contatos informaram que ele frequentemente passa por aqui por volta deste horário.
Villalba apenas fez um movimento com a cabeça, enquanto seus dedos batucavam na empunhadura da metralhadora. A atmosfera estava carregada de tensão, quase podendo ser sentida.
Pouco tempo depois, o som de um motor ressoou à distância, se aproximando pela trilha de terra que conduzia à fazenda.
— Ali está ele — sussurrou Villalba, um sorriso gelado começando a surgir em seu rosto.
A caminhonete de Avelino Camargo apareceu à distância, iluminando a escuridão com seus faróis. Quando ele chegou perto do portão da fazenda, Villalba levantou o punho, indicando a seus homens.
— Esperem até ele parar — murmurou.
A van diminuiu a velocidade ao se aproximar da entrada. No momento em que Avelino puxou o vidro da janela para ativar o portão eletrônico, a armadilha foi acionada.
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O Labatut
General FictionE se, em 1964, após o golpe militar, o Brasil vivenciasse uma guerra civil? E se os generais optassem por restaurar a monarquia em 1985? E se o Brasil se tornasse uma potência global? "O Labatut" apresenta uma narrativa empolgante protagonizada pelo...