Capítulo 2

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Uma batida na porta me trouxe de volta à realidade. Por um segundo, hesitei, mas abri devagar. Do outro lado, estava uma mulher de aparência tranquila, mas com olhos afiados.

- Bom dia. Sou Shen Daiyu - ela se apresentou, com um sorriso curto. - É hora do café da manhã.

Meu estômago embrulhava de ansiedade, mas a fome era maior. Entrei no quarto por um instante, procurando algo para me proteger, e meus olhos caíram sobre um abridor de cartas na escrivaninha. Peguei-o discretamente e o enfiei na manga. Com o coração acelerado, segui Shen Daiyu pelos corredores intermináveis da mansão, cada passo ecoando. A arquitetura era impressionante, mas eu só conseguia pensar em uma saída.

Finalmente, chegamos a uma porta grande. Quando ela se abriu, os olhares de várias pessoas na sala de jantar caíram sobre mim. Senti o impulso de correr ou me esconder, mas mantive minha expressão neutra. Wei Wuxian, sentado à cabeceira, sorriu largamente e fez um gesto para que eu me sentasse.

- Como está se sentindo, Jin Ling? - ele perguntou, ainda sorrindo.

- Estou bem - respondi com a voz mais firme que consegui. Mas por dentro, uma tempestade rugia.

- Não precisa se preocupar - disse ele, como se lesse meus pensamentos. - Deixe-me apresentar todos.

Ele apontou para as pessoas ao redor da mesa, uma a uma.

Lan Wangji estava sentado ao lado de Wei Wuxian. Ele era sério e taciturno, com olhos frios como gelo e uma postura impecável. Seu manto era de um branco puro, decorado com detalhes azuis. Havia uma quietude nele, algo que falava de um poder contido, mas esmagador.

Lan Sizhui, que estava ao lado de Lan Wangji, era mais jovem, de aparência calma, mas seus olhos pareciam me estudar com uma intensidade desconcertante. Seu manto era semelhante ao de Lan Wangji, e seu comportamento parecia refletir a mesma serenidade calculada.

Lan Xichen, o irmão de Lan Wangji, era elegante e sereno. Ele usava roupas semelhantes, mas seu semblante era mais caloroso. Seu sorriso era gentil, mas ainda assim carregava uma estranha autoridade.

Jiang Cheng, com seus olhos duros e uma postura sempre em guarda, parecia pronto para lutar a qualquer momento. Suas roupas escuras e sua expressão feroz me colocaram imediatamente em alerta.

Lan Jingyi, ao lado de Jiang Cheng, era talvez o mais jovial do grupo. Seus olhos brilhavam com curiosidade, e ele parecia menos rígido do que os outros. Seu sorriso sincero, pelo menos, não me colocava tão tenso.

Wen Qing me observava com um olhar clínico. Havia algo severo nela, um controle inabalável, e seus olhos perscrutavam cada movimento meu, como se pudesse ler meus pensamentos. Ela vestia roupas vermelhas e brancas, combinando com seu ar sério e determinado.

E então... Wen Ning. Ao vê-lo, meu sangue gelou. A pele pálida, quase translúcida, e seus olhos mortos me deram a certeza de que estava frente a um fantasma. Não havia como negar: era o General Fantasma, Wen Ning, o mesmo sobre o qual eu ouvira tantas histórias. Ele era real, e estava ali, sentado na minha frente. Tive que me controlar para não gritar. Mantive meu rosto o mais impassível possível, enquanto o pânico crescia dentro de mim.

Wen Ning, o General Fantasma. A morte encarnada. Ele não parecia agressivo, mas sua presença era sufocante. Eu sabia o que ele era capaz de fazer, as histórias sobre ele eram suficientes para me fazer querer sair correndo.

Agora eu tinha certeza: estava entre bruxos e loucos. Tudo isso era um castigo. Eu sabia. Pelo padre que matei. Por Jin Su. Por tudo. Eu olhei para a faca na mesa e pensei seriamente em usá-la para acabar com isso antes que eles decidissem me usar como sacrifício em algum ritual.

A Maldição do Nunca Mais - Zhuilingyi Onde histórias criam vida. Descubra agora