Chains | l.s.

XII. Spaces between us keep getting deeper

O clima entre Harry e eu estava estranho.

Em teoria, nada havia mudado, mas ele parecia mais... cauteloso. Não era algo que qualquer um notaria, não era explícito. Mas eu? Eu conhecia Harry o suficiente para perceber as pequenas mudanças. Ele ainda estava presente, me mandava mensagens carinhosas, fazia piadas, ria comigo, mas algo ali não era mais como antes. Ele se afastava, não de uma forma óbvia, mas nos pequenos detalhes que, com o passar das semanas, foram ficando cada vez mais nítidos para mim.

Em uma tarde de um domingo qualquer, estávamos no sofá, tentando assistir a série que acompanhávamos juntos, mas a minha atenção estava em qualquer lugar, menos na tela. Ele estava sentado ao meu lado, mas não da maneira como costumava fazer. Antes, ele se jogaria no sofá, jogaria as pernas sobre as minhas, ou se inclinaria para mim, buscando qualquer desculpa para o contato físico. Agora, havia um espaço entre nós. Apenas alguns centímetros, mas era suficiente para eu sentir como se fosse uma parede intransponível.

Ele estava ali, com os braços apoiados nos joelhos, o corpo relaxado, mas algo em sua postura parecia tenso, contido. A mão dele descansava ao lado da minha, mas ele não fazia o movimento para se aproximar como antes teria sido o natural. O toque que eu esperava não veio. Era como se ele estivesse esperando que eu o fizesse primeiro, e isso me deixava estressado, porque eu nunca precisei ser quem tomava a atitude quando o assunto era contato físico.

Por que ele não me tocava?

Eu virei a cabeça em sua direção, observando seu perfil iluminado apenas pela luz fraca da TV. O maxilar firme, os olhos focados no filme, mas a expressão distante, como se sua mente estivesse em outro lugar. Meus olhos desceram para a mão dele, tão próxima da minha, e senti um nó se formar no estômago. Bastaria eu mover um pouco os dedos, e nossas peles se tocariam. Mas eu estava tão confuso e frustrado que, ao invés de buscar o contato, cruzei os braços, criando ainda mais distância entre nós.

E ele percebeu. Claro que ele percebeu.

A reação dele foi sutil, mas ali estava. Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto nervoso, e suspirou baixinho, como se estivesse esperando algo que nunca vinha.

Eu sabia o que ele estava fazendo. Ele estava esperando. Esperando que eu tomasse a decisão. Esperando que eu mostrasse a ele que estava pronto, que queria mais. Harry estava me dando o tempo e o espaço que achava que eu precisava, mas, sem perceber, isso só tornava as coisas mais insuportáveis.

Eu queria gritar.

"Está tudo bem?", ele perguntou de repente, a voz baixa, suave, mas com uma preocupação que cortou o ar entre nós. Ele virou o rosto para mim, os olhos verdes me observando com cautela. Não era o olhar de sempre, aquele cheio de intensidade e desejo. Agora, ele olhava para mim como quem tenta medir até onde pode ir sem causar danos.

E aquilo me partiu.

"Está", respondi, seco, antes de voltar os olhos para a TV. Só que não estava. Nada estava bem. O silêncio voltou a cair entre nós, denso, sufocante.

Cada pequeno gesto, cada ausência de toque, cada vez que ele hesitava em ser próximo... tudo estava me matando por dentro. Era como se ele estivesse construindo uma barreira que eu não sabia como atravessar. E o pior de tudo era que eu sabia que a culpa era minha. Eu era o responsável por esse abismo que crescia entre nós. Harry estava só tentando ser paciente, dar o tempo que eu precisava. Mas essa paciência estava o afastando de mim. Ele se retraía, deixava de me tocar como antes, de me provocar espontaneamente.

O pior de tudo é que eu sabia que ele estava esperando algo de mim, e eu não sabia se conseguia dar o que ele queria agora.

Eu não sabia como lidar com o que estava sentindo. Como admitir que a cada dia eu só me sentia mais confuso? Como dizer que, ao mesmo tempo que o queria perto, algo em mim ainda me impedia de avançar? E ele, sem saber o que fazer, fazia o que podia: se afastava lentamente, esperando que eu me decidisse.