VI. Oh my, my, you just took me by surprise

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Quase três semanas depois de todo o caos, eu estava deitado no sofá da sala do Niall, que tinha saído para buscar comida, me deixando sozinho com meus pensamentos. E, claro, meu celular.

Depois de ficar encarando a tela bloqueada por alguns minutos, resolvi desbloqueá-lo. Não era como se eu tivesse muitas opções além de rolar pelas redes sociais ou responder às mensagens acumuladas.

Passei alguns dias mais introspectivo do que gostaria, mas eu precisava desse tempo sozinho para digerir melhor tudo o que havia acontecido.

Há dois dias tinha aceitado conversar com Eleanor sobre nossa situação, mas por conhecer bem demais sua capacidade de transformar tudo em um grande show, achei prudente me encontrar com ela em um local público, escolhendo um ponto um pouco mais isolado no Hyde Park, próximo ao Serpentine Lake.

Não era exatamente um lugar escondido, mas oferecia alguma privacidade longe do agito. Era o suficiente para evitar que ela fizesse uma cena, mas também não estava tão perto das pessoas para que alguém se importasse com uma discussão mais acalorada. Estávamos à beira do lago, e eu conseguia sentir a tensão em cada movimento dela.

"Eu ainda acho que podemos resolver isso..." Ela começou, sua voz carregando um tom doce que eu já conhecia muito bem. "Eu não quero o divórcio, Louis."

Suspirei. Já estávamos ali há quase meia hora, e essa conversa estava indo em círculos.

"Eleanor, isso não é mais sobre o que você quer ou não. Eu já disse que não tem volta." Respondi, cansado.

Ela estreitou os olhos, o sorriso desaparecendo gradativamente. Eu sabia que essa era a transição para a Eleanor impaciente e calculista.

"Então, se é assim que você quer, vamos fazer isso do meu jeito. Eu quero metade do que é nosso."

Soltei uma risada amarga.

"Como assim 'nosso'? Não existe 'nosso', Eleanor. Fui eu quem comprou o apartamento, o carro, e ainda paguei por quase tudo durante esses anos. Além disso, nós casamos com separação de bens, lembra?" Pelo menos nisso eu havia sido inteligente nessa relação.

Ela bufou, os olhos agora faiscando com raiva.

"Você acha que é justo? Eu mereço uma parte depois de aturar você por tanto tempo!"

Aquilo foi a gota d'água. A frustração queimou dentro de mim, mas me forcei a respirar fundo. Eleanor queria uma briga e eu não ia dar esse gostinho a ela.

"Sabe de uma coisa?" Eu disse, tentando manter a calma. "Pode ficar no apartamento por mais dois meses. Dá tempo de procurar um emprego e ajeitar sua vida até lá. O carro também é seu."

Ela pareceu confusa por um segundo, surpresa por eu não ter caído na provocação.

"Só dois meses?" Ela replicou, sua voz um pouco mais aguda. "E o que eu vou fazer depois?"

"Isso é com você, Eleanor." Eu dei de ombros. "Não é mais problema meu, sinceramente."

Ela tentou argumentar, tentou me persuadir a reconsiderar voltar. Eu sabia o que ela realmente queria: não perder a estabilidade financeira que o nosso casamento proporcionava. Ela até tentou e tentou mais de uma vez me convencer a desistir do divórcio, mas eu já estava firme na minha decisão.

"Não vou cair nesses joguinhos, Eleanor." Eu disse, exausto, mas decidido. "Não precisamos disso. Acho que é melhor cada um seguir seu caminho."

Ela me lançou um olhar furioso, mas depois suspirou, resignada. Finalmente, pareceu entender que não haveria mais volta.

Chains | l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora