V. A sentimental comedy, the joke is on you. It's on me, too.

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É claro que se as coisas podem dar errado, elas dão. Depois da ótima tarde que tive ao lado do Harry, cheguei em casa e a minha realidade não tardou a me atingir, pois assim que pisei no apartamento, percebi que a atmosfera estava carregada. O ar parecia mais denso, como se estivesse cheio de eletricidade estática prestes a explodir. Senti um arrepio subir pela espinha, e meu estômago se apertou com a familiar sensação de ansiedade. Não era de se estranhar; depois de tantos anos com Eleanor, eu sabia ler o ambiente como ninguém. Algo estava errado.

Ela estava lá, sentada na cama, encostada na cabeceira, os braços cruzados e os olhos fixos em mim. Era um olhar calculado, um que eu conhecia bem até demais. Ela não parecia estar nervosa, não da forma que alguém estaria se estivesse realmente preocupada, apenas fria.

"Onde você estava?" Os olhos sem desviar dos meus, a voz doce demais, quase melosa.

"Fui pra um café trabalhar sem distrações, El." Respondi de forma automática, tirando o tênis com uma certa pressa.

Ela assentiu devagar, sem olhar pra mim, mas eu sabia que aquilo não ia parar por ali. A mão dela segurava o celular com força demais para que isso fosse só uma pergunta casual.

"E aquele carro preto?" Ela finalmente ergueu os olhos. "O que te deixou aqui. Vi da janela."

Meu estômago deu um nó. Tentei manter a calma.

"Era um táxi." Falei, mas a desculpa saiu meio torta, até para meus próprios ouvidos.

Ela soltou uma risadinha debochada, uma que eu conhecia bem demais.

"Táxi? Jura? Esse é o melhor que você consegue, Louis? Um táxi que aparece três vezes em um intervalo de duas semanas, sempre o mesmo carro? E não é o carro do Niall, nem do Zayn, muito menos do Liam, nem tenta ir pra esse lado. Então, me diz... quem é?"

Eu podia sentir o meu rosto esquentar, uma mistura de vergonha por ser pego na mentira e raiva pelo interrogatório disfarçado de preocupação. "Era um amigo, só isso." Respondi, tentando encerrar o assunto.

"Um amigo?" Ela levantou uma sobrancelha, com aquele olhar condescendente. "E eu sou idiota, é isso? Porque eu sei bem quem são seus amigos. E esse carro... não é de nenhum deles. Você acha que sou cega?"

Ela se levantou, deixando o celular de lado, e veio até mim, parada no meio do quarto, como um predador prestes a dar o bote. "Você está me traindo, Louis. Eu vejo nos seus olhos. Quem é? Quem é a vagabunda?" A voz dela aumentou uma oitava, cheia de sarcasmo e um toque de ódio.

A acusação veio como uma pedra arremessada direto no meu peito. Senti um aperto no estômago, e minha visão escureceu por um segundo de pura frustração. Eu me aproximei da cama, parando no limite seguro onde eu sabia que poderia sair da discussão a qualquer momento.

"Que porra de pergunta é essa? Eu não faria isso!" Minha voz saiu firme, mas a indignação era clara. E era verdade, eu nunca a traí, por mais que o relacionamento estivesse uma merda faz tempo. A ironia disso é que, mesmo não tendo feito nada, eu me sentia culpado. Culpado pela minha insatisfação, pelos sentimentos confusos que estavam se formando em relação ao Harry e, principalmente, aos pensamentos que as vezes surgiam em relação ao stripper desde a primeira vez que botei os olhos nele. Mas eu não dei espaço para ela ver isso. Não poderia.

"Claro que faria. Você sempre foi um fraco. Alguém indeciso como você deve estar procurando algo novo, né?" Eleanor disparou e eu senti o sangue subir para o rosto. Ela era mestra em mexer nas feridas, sabia como me manipular e tocar onde doía.

Engoli seco, tentando manter a compostura, mas era como tentar segurar uma tempestade dentro de mim. Eleanor sempre foi assim. Manipuladora. Calculista. O tipo de pessoa que te puxa para baixo com um sorriso no rosto. Mas naquele momento, algo em mim acendeu.

Chains | l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora