Capítulo 4

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Marina pov

Eu estava sentada ao lado de Bernardo, as luzes suaves do restaurante parisiense refletiam em nossos copos de vinho. A noite estava mais fria do que eu esperava, mas o calor que subia em meu peito não vinha do clima, e sim da sensação desconfortável de estar tão perto de Rosamaria novamente. Há cinco anos eu não sentia essa pressão no peito, esse tumulto interno que apenas ela causava.

Bernardo percebeu meu desconforto. Com um olhar preocupado, ele se inclinou para mim, falando em um tom baixo:

— Você está mais pálida que de costume — ele comentou com uma risada fraca, mas logo ficou sério. — Reencontrar a Rosa depois de tanto tempo deve ter sido... intenso.

Eu balancei a cabeça, tentando fingir que estava tudo sob controle, mas sabia que não podia continuar assim. O simples fato de ver Rosa com Emma, de vê-las conversando, era como uma faca entrando lentamente no meu peito. Rosa não fazia ideia de que a garotinha à sua frente era sua filha. E eu não sabia como, ou se algum dia, teria coragem de contar.

— Intenso é pouco. Foi como se o tempo tivesse parado, sabe? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Ver Rosa novamente, foi como reviver todos aqueles momentos, as promessas que fizemos, os sonhos que tínhamos juntas. Mas, ao mesmo tempo, era diferente. Porque agora... agora eu tenho Emma e ver as duas juntas... Rosa não sabe de nada, e Emma... ela só está sendo ela mesma.

Olhei para Emma, que brincava perto de nossa mesa, alheia à complexidade da situação. Ela era meu mundo, minha razão de ser, e o fato de Rosa não saber que Emma era sua filha... isso me despedaçava de uma forma que eu não conseguia expressar.

— Eu sabia que isso seria complicado, Marina, mas você precisa enfrentar essa situação. Rosa tem o direito de saber sobre Emma, e você sabe disso. E como foi vê-la conversando com Emma? — Bernardo perguntou, seu tom agora mais cauteloso.

Eu fechei os olhos por um momento, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair.

— Doeu. Doeu mais do que eu imaginava. Ver a Rosa falando com a Emma, sem saber que ela é a filha dela... é como se houvesse uma barreira invisível entre nós. Rosa merece saber, mas ao mesmo tempo, não quero destruir tudo o que ela construiu até aqui. Ela está nas Olimpíadas, realizando novamente o sonho dela. E eu... eu não sei se tenho o direito de interferir nisso.

Bernardo assentiu, pensativo, e depois falou com um olhar cheio de ternura:

— Marina, você não está interferindo. A verdade, cedo ou tarde, vai vir à tona. E a Rosa merece saber que tem uma filha incrível.

Eu sabia que ele estava certo. Sempre soube. Mas isso não tornava as coisas mais fáceis.

— Eu sei, mas e se ela me odiar? — minha voz quase sumiu. — E se ela não conseguir perdoar o que fiz? Eu tirei de Rosa a chance de conhecer a própria filha por cinco anos, Bernardo. Como alguém perdoa isso?

Olhei para minha filha, tão inocente e cheia de vida. A ideia de quebrar a bolha de segurança que eu havia construído para nós duas me aterrorizava.

Bernardo me olhou nos olhos, sua expressão sincera e encorajadora.

— Não acho que seja algo fácil de perdoar, Marina. Mas esconder a verdade por mais tempo só vai tornar tudo pior. Talvez Rosa precise de tempo, mas ela tem o direito de saber.Você tem que confiar que, no fim, a verdade é o melhor caminho. E que, independentemente do que aconteça, você tem a força para lidar com isso. E a Rosa também.

Fechei os olhos por um momento, sentindo a pressão das palavras de Bernardo. A verdade era uma bomba relógio que eu segurava nas mãos, prestes a explodir. Ao mesmo tempo, não conseguia imaginar perder Rosa de novo.

Segredos do passado - RosamariaOnde histórias criam vida. Descubra agora