Capítulo 6

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Marina pov.

Assistir Emma e Rosa brincando, correndo entre os patos, me fez sentir um calor inesperado no peito. A cena parecia tão simples, tão comum, mas carregava um peso que eu sabia que Rosa e eu ainda não tínhamos superado completamente. Observava os risos da nossa filha e a maneira como Rosa, que antes era apenas uma figura distante de admiração para Emma, agora estava prestes a se tornar alguém muito mais importante.

Observei elas de longe, refletindo sobre tudo o que havia acontecido até aquele momento. O reencontro, a confissão, a dor nos olhos de Rosa quando eu revelei o segredo que carreguei por tanto tempo. Eu sabia que não seria fácil, nenhuma das escolhas que fiz ao longo dos anos foi fácil, cada uma delas foi cheias de incerteza e medo. O medo de perder Rosa para sempre, o medo de não ser suficiente para criar Emma sozinha, o medo de que, quando Rosa soubesse a verdade, nossa história já estivesse completamente arruinada.

Mas agora, vendo Rosa sorrindo, finalmente interagindo com Emma, algo dentro de mim começou a se acalmar. Talvez houvesse esperança, afinal.

— Você está bem?— A voz de Rosa me tirou dos meus pensamentos. Ela havia se aproximado enquanto Emma corria em direção aos patos novamente.

Olhei para ela, tentando esconder a culpa que ainda me consumia. 

— Estou, sim. E você?

Rosa sentou-se ao meu lado, o cansaço aparente em seus olhos, mas também algo novo, uma suavidade. 

— Estou... tentando. É muito para processar, Marina.

— Eu sei — murmurei, sentindo o peso de minhas próprias palavras. — Eu nunca quis que fosse assim. Nunca quis te machucar.

Ela suspirou, olhando para Emma.

— Você não me deu escolha. Durante todos esses anos, eu pensei que estava vivendo minha vida, mas agora percebo que parte dela estava faltando. Eu não tinha ideia de que era mãe. — Aquelas palavras me perfuraram, e me senti à beira de um colapso. 

—  Eu pensei que estava fazendo o melhor por você, Rosa. Eu... Eu só queria que você tivesse tudo. O vôlei, seu sonho, sua carreira. Não queria que a minha gravidez fosse uma âncora.

Rosa balançou a cabeça, olhando para mim com uma expressão que mesclava frustração e compaixão. 

— Eu entendo seus motivos, de certa forma. Mas isso não muda o fato de que eu perdi anos com minha filha. E isso é algo que eu não sei se algum dia poderei perdoar completamente. — As palavras dela doeram, mas eu sabia que ela estava certa. 

— Eu sei, Rosa. Sei que errei e vou passar o resto da minha vida tentando consertar isso, se você me der a chance. —  Ela ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos em Emma, que ainda brincava alegremente. 

— Você já me deu a chance de ser mãe da Emma. Isso é o mais importante. Quanto a nós... Eu não sei, Marina. O tempo vai dizer.

A sinceridade dela era algo que eu valorizava, mesmo que fosse difícil de ouvir. Não poderíamos consertar tudo de uma vez. Havia muita dor entre nós, muitas mágoas não resolvidas. Mas ver Rosa disposta a tentar, a estar ali para Emma, era mais do que eu poderia pedir naquele momento. Emma correu até nós, com um sorriso radiante no rosto, interrompendo qualquer outra conversa difícil. 

— Mamães, eu consegui tocar um pato!

Rosa riu e eu sorri, o coração aquecido pela pureza da nossa filha. A partir daquele momento, percebi que, apesar dos desafios, ainda havia espaço para esperança. Emma, com sua energia vibrante e amor inocente, seria o elo que nos manteria juntas, de uma forma ou de outra.

Segredos do passado - RosamariaOnde histórias criam vida. Descubra agora