Capítulo 3

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Rosa Pov.

Ao embarcar para Paris, senti uma onda de emoções me envolver. A animação de iniciar novamente uma jornada olímpica era ofuscada pelo peso de tudo que ainda carregava do passado. O aeroporto Charles de Gaulle estava lotado, e o burburinho da cidade iluminava o início de algo grandioso. Mesmo assim, uma parte de mim não conseguia se libertar completamente das lembranças.

Assim que desembarcamos, as meninas já estavam rindo e conversando como se o tempo todo o peso de competições, pressão e expectativas não existisse. Eu tentava me unir a elas, colocar o foco no presente, deixar Marina e tudo o que ficou para trás em outro continente. Mas isso foi interrompido num piscar de olhos. Entre as pessoas apressadas, vi uma figura conhecida que fez meu coração disparar: Bernardo.

Ele estava ali, parado perto do portão de desembarque, mexendo no celular, mas claramente inquieto. Bernardo nunca foi próximo meu, mas sempre foi o melhor irmão que Marina podia te. Vê-lo ali, naquele momento, me deixou completamente alerta. O que ele estava fazendo em Paris? E por que parecia tão nervoso?

— Rosa? — A voz de Roberta me trouxe de volta ao presente, mas eu mal consegui esconder o choque de vê-lo ali.

Antes que eu pudesse processar completamente, nossos olhares se cruzaram. Bernardo me viu, congelou por um segundo, e então toda a calma que costumava ter desapareceu. Ele olhou para os lados como se estivesse procurando uma saída, nervoso, e logo comecei a andar em sua direção.

— Rosa! Que... coincidência. — Ele gaguejou, claramente desconfortável. — Eu... preciso ir.

Ele olhou ao redor, quase como se esperasse que algo ou alguém o resgatasse da situação.

— Boa sorte nos jogos — E, antes que eu pudesse responder, ele já estava se afastando, apressado.

Fiquei ali, parada, sem entender o que havia acabado de acontecer. Aquele comportamento era estranho. Bernardo nunca fora o tipo de pessoa que se esquivava de conversas. Algo estava definitivamente fora do normal, e eu não conseguia ignorar a sensação de que isso tinha tudo a ver com Marina.

— O que foi isso? — Gabi perguntou ao se aproximar, provavelmente notando o quanto eu estava desconcertada.

— Nada, só uma coincidência... — Eu tentei desviar, mas a verdade era que minha mente estava longe, já tentando juntar as peças desse quebra-cabeça.

Enquanto caminhávamos para o estacionamento, o reencontro bizarro com Bernardo martelava na minha cabeça. Ele não parecia estar ali por acaso. E se ele estava esperando por Marina? Seria possível que ela estivesse em Paris também? Aquela cidade, que um dia representava tanto do que planejávamos viver juntas, agora parecia um campo minado de lembranças e possibilidades dolorosas.

Nós sonhávamos com Paris. Planejávamos visitar os museus, passear por Montmartre, e assistir ao pôr do sol às margens do Sena. Era quase cruel pensar que, agora, ela poderia estar a poucos metros de distância, sem que eu soubesse. Um nó se formou na minha garganta.

— Tá tudo bem? — Carolana perguntou, quebrando o silêncio que eu nem tinha percebido ter criado ao meu redor.

— Sim, sim, tá tudo bem — menti, sem conseguir realmente esconder a inquietação que me dominava.

À medida que nos aproximávamos do onibus, eu olhava para todos os lados, procurando por sinais dela. Era irracional, mas algo dentro de mim dizia que ela estava por perto. A cidade, o clima, o encontro com Bernardo... tudo parecia apontar para isso. Mas a questão era, eu queria vê-la? Parte de mim queria confrontá-la, entender o que realmente aconteceu entre nós, mas a outra parte... a parte ferida, tinha medo do que eu poderia descobrir.

Segredos do passado - RosamariaOnde histórias criam vida. Descubra agora