Ecos do passado

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A escuridão tomou conta da sala, e Tony sentiu o peso da responsabilidade esmagando seus ombros. A imagem de Steve se desvanecia em sua mente, mas a presença de Peter ainda o ancorava à realidade. Ele lutava contra os fantasmas do passado, mas as memórias eram insistentes, como ecos de uma vida que parecia cada vez mais distante.

Ao abrir os olhos, sentiu o cheiro familiar do whisky misturado ao aroma da lareira. O calor da chama quase extinta contrastava com o frio que permeava seus pensamentos. Um pequeno choramingo chamou sua atenção, e ele percebeu que Peter se mexia em seus braços, prestes a chorar.

— Vamos lá, Peter — murmurou Tony, com a voz cansada. — Acho que já temos o suficiente de insônia por uma noite.

Tony se levantou, caminhando com Peter em seus braços e subindo as enormes escadas em direção ao quarto do pequeno. Ele se deixava levar pelas lembranças do passado, pensando em como a vida havia mudado. A traição de Steve era como uma bomba, explodindo em sua mente a qualquer momento. O que ele significava agora? Por que toda aquela traição? Tudo que viveram, todas as promessas, foram em vão?

Enquanto balançava o pequeno, um pensamento perturbador cruzou sua mente: E se Steve voltar? E se ele quiser Peter também?

Ao mesmo tempo, a realidade o puxava para baixo. O vazio que Steve deixou era como um buraco negro, sugando toda a luz ao redor. O sonho de Steve era ser pai; agora, aonde ele estava? Com certeza, sua intenção não era voltar, muito menos pelo "filho".

Tony colocou Peter no berço, pediu para sexta feira que o avisasse quando ele acordasse e se dirigiu à cozinha. Ele se permitiu um breve momento de lucidez, contemplando as opções no congelador. Cheeseburgers eram uma ótima escolha.

— Como você ainda vive assim, Tony? — O tom provocador, mas preocupado, penetrava suas defesas. A voz familiar fez com que ele sentisse um calafrio, recusando-se a acreditar que aquilo era real.

A mente de Tony se encheu de nostalgia e confusão. As longas conversas, as risadas, os sonhos compartilhados, tudo isso se misturava com a amargura da traição de Steve. Ele suspirou, buscando um pouco de clareza no meio do turbilhão emocional.

Um barulho de passos se aproximou, interrompendo seus pensamentos. O coração disparou quando Tony percebeu que aquilo era real. Ele não estava sonhando, não era uma alucinação. Ele estava ali: o médico, o amigo, o homem que havia amado e perdido.

Largando o cheeseburger no balcão, Tony se virou e encontrou Stephen o observando, depois mudando sua atenção para a mamadeira vazia que estava na pia. Um sorriso melancólico surgiu no rosto de Stephen.

— Você não mudou nada, Stark.

— Algumas coisas não mudam — respondeu Tony, tentando esconder a vulnerabilidade. — Ou algumas pessoas.

Tony conheceu Stephen em uma viagem. No início, eles se odiavam, mas depois começaram a se dar bem, virando melhores amigos. Dormiram juntos uma vez, mas tudo que é bom dura pouco. Stephen começou a se destacar em seu trabalho, logo se tornando o melhor neurocirurgião. A amizade deles se tornou estranha, sem tempo um para o outro. Quando Stephen sofreu um acidente, Tony sentiu-se desesperado, com medo corroendo por dentro. Ele o visitava todos os dias, enquanto Stephen, ao contrário, havia ficado obcecado em curar suas mãos. Acabaram em uma briga, e Stephen sumiu sem deixar rastro. Tony voltou para casa com tristeza, raiva, medo e culpa em seu peito.

Stephen riu, mas a preocupação em seus olhos era palpável.

— Eu não vim para reabrir feridas, mas você parece precisar de ajuda.

— Ajuda? — A palavra parecia amarga na boca de Tony. — Ajuda é o que sempre ofereci, mas ninguém parece querer.

Os olhos de Stephen brilharam com compreensão.

— Eu sei. E me desculpe por isso. Mas não é tarde demais para consertar algumas coisas.

As palavras ficaram no ar, pesadas como o próprio passado. Tony queria gritar, chorar, mas só de pensar em ser fraco o aterrorizava; ele não queria isso. Ele precisava ser forte, não só por si mesmo, mas também pelo seu filho.

— Vamos conversar, então — disse Tony, o desânimo lentamente dando lugar ao cansaço. — Mas antes vou comer meu cheeseburger.

Stephen revirou os olhos, aceitando. Afinal, não poderia fazer nada, não tinha esse direito de mandar e desmandar no gênio.

entre luz e sombras {ironstrange}Onde histórias criam vida. Descubra agora