entre luz e sombras {ironstrange}

sombras do passado

Tony pegou o cheeseburger com as mãos trêmulas, mas disfarçou o desconforto ao dar uma mordida lenta. Stephen permaneceu quieto, observando-o. Havia uma tensão palpável no ar, um misto de arrependimento, nostalgia e algo não dito que ambos sentiam, mas não sabiam como expressar.

— Está bom? — Stephen perguntou, tentando quebrar o silêncio. Sua voz soava mais leve, mas a profundidade em seus olhos dizia o contrário.

Tony engoliu, passando a mão pela boca e soltando um suspiro. — Cumpre o seu papel. Como sempre.

Stephen encostou-se no balcão, cruzando os braços, seus olhos agora fixos no chão, evitando o olhar de Tony. — Eu soube... soube do que aconteceu entre você e o Steve. — A voz dele vacilou levemente, mas ele continuou. — Sinto muito.

Tony riu, mas sem humor. — Todos sentem. Isso não muda nada, não é? O que aconteceu, aconteceu.

— Eu sei que não vai ser fácil para você ouvir isso, mas eu precisava voltar, Tony. Precisava ver como você estava. — Stephen desviou o olhar para a mamadeira vazia na pia. — E, pelo que vejo, você precisa de ajuda. Mais do que está disposto a admitir. Deixe-me te ajudar, Tony, me dê essa chance.

Tony largou o cheeseburger pela metade no balcão e se virou para Stephen, cruzando os braços. — Você acha que eu não consigo lidar com isso? Acha que eu preciso de você, do seu conselho agora? — Sua língua estava mais afiada do que nunca, mas ele não conseguia controlar a raiva que surgia sempre que as feridas do passado eram tocadas.

Stephen o encarou, calmo, como se estivesse preparado para aquele ataque. Ele conhecia Tony, sabia que se aproximar do gênio seria difícil. — Eu não vim para te dizer o que fazer, Tony. Vim porque me preocupo com você.

Tony soltou um riso nervoso, passando as mãos pelo cabelo. — Você se foi por tanto tempo, Strange. E agora você aparece, depois de tudo... — Ele balançou a cabeça, tentando controlar a avalanche de emoções que surgia. — Você sabe o que aconteceu comigo. Com a gente. E você sumiu, depois aparece aqui querendo que eu te receba de braços abertos como se nada tivesse acontecido?

— Eu errei. Eu sei que errei. Mas agora estou aqui, e você não precisa fazer isso sozinho. Preciso dessa segunda chance, Tony, não vou errar de novo. — Stephen deu um passo à frente, mais perto de Tony, sua voz baixando para um tom mais suave. — Deixe-me ajudar, Tony. Não precisa ser como antes. Podemos começar do zero.

Tony o encarou por um momento, o conflito interno evidente em seu rosto. Ele não queria abrir espaço para mais uma dor, mais uma possível traição. Mas, ao mesmo tempo, havia algo no olhar de Stephen que o fez hesitar. Talvez fosse a sinceridade, talvez fosse o cansaço que Tony sentia de lutar sozinho.

— Isso não vai ser fácil, Strange — Tony murmurou, finalmente cedendo. — E eu não sei se estou pronto para isso.

Stephen assentiu. — Não precisa ser fácil. Só precisa ser o que você quer. E estou aqui. Não vou a lugar nenhum desta vez.

O silêncio voltou a preencher a cozinha, mas desta vez era menos tenso, mais suave. Tony não sabia se poderia confiar novamente, não sabia se poderia permitir que Stephen entrasse de novo em sua vida, especialmente com Peter agora. Mas algo dentro dele começava a se abrir, mesmo que apenas um pouco.

— Vamos ver — Tony finalmente disse, pegando o cheeseburger de volta e dando outra mordida. — Uma coisa de cada vez.

Stephen riu levemente, aliviado, e Tony não pôde evitar um pequeno sorriso, algo que não sentia há muito tempo.

O silêncio foi quebrado pelo som de Sexta-feira, a IA de Tony, avisando que Peter estava acordando. Ambos olharam para o teto, como se o pequeno estivesse chamando-os para o próximo passo dessa jornada.

— Quer conhecer Peter? — Tony perguntou, a voz hesitante, mas com uma curiosidade sincera.

Stephen olhou para ele, seus olhos brilhando com algo que Tony não conseguia identificar completamente. — Eu adoraria.

Tony suspirou e caminhou em direção ao quarto do pequeno, sentindo Stephen logo atrás de si. O futuro ainda parecia incerto, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele não parecia tão sozinho.