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O ar escapou, os lábios ainda abertos, piscando lentamente quando mais uma vez não pensou no quão questionável era seu autocontrole. Dan quase riu de si mesmo, acomodando a bochecha contra os lençóis, questionando se sempre seria dessa maneira. Desde que descobriu que era um ômega, pensou que as coisas seriam mais simples de entender. No colégio, professoras falavam sobre isso como uma ciência comprovada, onde um ciclo de um ômega era imutável, natural. Quando era apenas um adolescente tímido, encarou aquilo estranheza. Quando as palestras aconteciam, repetiam que ômegas seguiam uma lógica de vida. Estudavam e conheceriam um alfa. Era disso que se tratava e embora parecesse algo lógico para um ômega esperar, não era o caso de Dan. Estava longe disso, já que os professores diziam que alfas naturalmente tinham um instinto de escolher ômegas certos.

Aquela memória distante era humilhante, ver como no colégio tiraram as medidas e os exames eram feitos em um projeto que ajudariam o futuro dos alunos. Colegas de classe tinham ótimos resultados. Na época, medidas do quadril era um medidor se teriam gestações saudáveis. Cada medida se tornava uma informação viável nos formulários dos estudantes para no final do semestre, quando aconteceria o encontro dos pais com os professores onde discutiriam as opções. Um ômega forte poderia ocupar cargos, mas se fosse fraco, era recomendado uma carreira menos arriscada.

Por semestres, Dan viu colegas sendo recomendadas para carreiras brilhantes, e todas tinham um sorriso aberto ao dizer que as medidas eram ótimas, que teriam gestações tranquilas. Por instinto, Dan nunca mostrou os resultados, mas em casa encarava aqueles exames, as medidas. Nada era bom, nem razoável. As boas notas, a personalidade dócil, nada bastava. Aqueles resultados não eram apenas por causa das chances de ter um filho. Na época, Dan se olhava no espelho, com os dedos tocando o quadril na estranha memória da expressão da enfermeira do colégio dizendo que "alguns ômegas optam por não terem filhos". Acontecia que Dan sempre quis um, e escutar aquilo era pior que um soco no estômago. Desde jovem, não via a si mesmo como alguém que atraía a atenção e com aquelas informações, as medidas, era pior. Pensou que um dia seria o tipo de ômega desistente que levaria os exames para uma agência de casamentos arranjados, embora não fosse romântico encontrar um alfa através de papéis.

O destino ria em ironia maléfica, Dan concluiu isso. Era verdade, ômegas entravam em colapso quando não tinham a presença do alfa, o corpo se tornava mais sensível. Agora, o ômega resmungava, em um tom quase adorável. Entretanto, se julgava como um ômega fracassado que não tinha controle dos próprios impulsos. Um suspiro escapou pelos lábios e fechou os olhos cansados, agora sendo nada mais do que uma presença bagunçada em meio dos lençóis. Por mais que repetisse que isso tinha de parar, mais uma vez estava ali, se arrastando pela cama. Os olhos castanhos vagando em volta em busca da camisa e não contendo o constrangimento. Escondeu o rosto corado na palma ao ver que dessa vez, a camisa parou em cima do abajur.

Relaxou o corpo, olhando para trás com o barulho da porta se abrindo. O coração disparando com a imagem do alfa saindo do banho quente, os cabelos levemente úmidos, o corpo exposto menos pela toalha em torno da cintura. Os dedos alisando os cabelos para trás, o sorriso se estendendo aos lábios.

— Volte a dormir, não tem desculpa para sair da cama. Seu trabalho é só de noite.

— Tenho que buscar as crianças às seis. Não posso atrasar... — Dan suspirou, odiando a maciez tão boa daquela cama que quase o chamava para continuar dormindo — Já basta eu não ter os levado para a excursão. Dá tempo, talvez eles possam ficar no trabalho comigo.

— Seu chefe não proíbe visitantes? — Jaekyung o olhou seriamente, os longos dedos passando entre os fios escuros e úmidos e descendo pela nuca, o sorriso malicioso vendo os lençóis sendo a única peça cobrindo o corpo delicado do ômega. As coxas expostas, as costas brilhando com a fina camada de suor, os pequenos resmungos preguiçosos. — Devíamos ter feito isso antes, se eu soubesse que seria tão bom transar depois do meu treino matinal, faríamos sempre.

I'll Call you MineOnde histórias criam vida. Descubra agora