Capítulo 3

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As palavras pairavam no ar, e, naquele instante, a luz do quarto parecia brilhar um pouco mais, iluminando o caminho que ambos precisavam trilhar. A tempestade ainda podia estar se formando do lado de fora, mas dentro daquele quarto havia a promessa de um novo começo. Victoriano deu um passo à frente, a vulnerabilidade em seu olhar transparecendo.

— Inês, eu sei que tudo isso parece confuso e doloroso. — ele hesitou, buscando as palavras certas. — Precisamos falar sobre o medo que está nos consumindo. — Inês franziu a testa, a tensão retornando ao seu corpo.

— Que medo você está falando, Victoriano? — ela tinha uma expressão diferente.

— O medo de que você possa me trair, que fique com alguém. — ele disse, a voz carregada de medo. — Assim como um dia eu fiz com você...—  ele respirou fundo, o peso da culpa quase insuportável.  Inês sentiu o coração apertar.

— Você acha que eu não me lembro disso? — sua voz tremia entre a dor e a indignação. — Como posso confiar plenamente em você quando essa traição ainda está na minha memória?

— Ela é constante,  e trouxe um filho para casa. Um filho, ele chegou e não deveria ter nas.... um filho de outra que não deveria exis....

— Não ouse terminar a frase... — ela o interrompeu, a voz firme. — Ele é meu filho também. Eu o amei desde o primeiro momento que tive Alejandro nos meus braços, o amei como meu, amo meu filho, o criei, cuidei de todas as formas que uma mãe faria. Ela foi clara quando deixou ele nos meus braços.

A dor dela era palpável, e Victoriano sabia que precisava ouvir. Victoriano olhou para o chão, a culpa visível em sua postura. Então levantou a cabeça, encontrando os olhos dela.

— O que eu fiz foi horrível, e a dor que você sente é legítima. O que passamos naquele momento foi horrível. Mas eu não quero que o que sinto agora seja um fim para nós. E eu não sabia que tinha transado com ela até ela aparecer em casa, com Alejandro nos braços. — ele tentou remediar.

— Você não me escutou naquele dia, era o momento em que eu estava passando, eu queria uma coisa e você outra. Eu te falei que não me casaria naquela época até terminar a faculdade, e o que você fez? Saiu sem me olhar, sem falar comigo, saiu quando ouviu meu não. — ela faz uma pausa, suspira e olha para ele novamente. — Farreou na noite alheia e dormiu com ela, tão bêbado que não sabia onde estava. Foi apressado, afoito, imprudente. Dias depois eu voltei atrás, disse que era e ainda é o amor da minha vida e nos casamos. Nunca me contou que saiu com outra estando comigo, só depois de um mês que já tínhamos nos casados, ela apareceu com Alejandro nos braços. — ele ficou ali calado, deixando que as palavras dela reverberam- se.

Victoriano a olhava com medo, sentia seu peito doer com a força que seu coração batia, era algo fora do comum, algo que ele não controlava. Ele percebeu que ela estava brava com a situação.

— Engraçado... sabe o mais engraçado nisso tudo... — ela disse, com ironia. — E agora acha que eu terei um caso com Miguel? Desde que ele entrou na empresa, nossa vida mudou. Um pouco mais de um ano, você mudou comigo, mudou demais. — ela faz uma pausa e coloca a mão no rosto, tentando achar palavras para falar. — Eu falei sobre um rapaz que me cercava na faculdade, falei dele que mesmo eu negando as investidas, as aproximações, e agora quem você contrata? O homem que gostava de mim, que se declarou para mim por 4 anos de faculdade. E acha que vou ter algo com ele? Se não tive quando era jovem e solteira, não será agora, casada e com filhos. — Inês cruzou os braços, as lágrimas ameaçando escorregar. — E se eu sentir que você pode repetir o que fez, se me trair novamente? Como podemos reconstruir algo que foi tão destruído?

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