Capítulo 8

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Roberto Santos passou anos amargurado, sozinho em sua grande fazenda, lembrando de todas as brigas com Victoriano, o orgulho ferido e a decisão que custou seu casamento com Lucero. O silêncio das noites era um lembrete constante do que havia perdido. Ele sabia que errara, e aquela solidão era a consequência de suas escolhas.

Um dia, ao passar pela cidade litorânea, Roberto soube que a casa em frente à de Lucero estava à venda. Uma ideia começou a se formar em sua mente. Comprar aquela casa era sua chance de estar mais perto dela e, quem sabe, de sua família. Ele tinha um plano, mesmo que não soubesse como seria recebido. Lucero ainda o amava? Victoriano seria capaz de perdoá-lo? Ele não sabia, mas precisava tentar. Quando assinou os papeis e a casa se tornou oficialmente sua, Roberto sentiu um misto de ansiedade e esperança. Com o coração acelerado, mudou-se para o novo endereço. Não contou para ninguém de sua decisão, nem para os amigos mais próximos. Ele queria que Lucero soubesse de seu gesto quando estivesse pronto para abrir o coração.

Na primeira manhã após sua mudança, Roberto a viu. Lucero estava no jardim, cuidando de suas plantas, como sempre fazia, com a mesma leveza que ele lembrava. Por alguns minutos, ele apenas observou, as lembranças inundando sua mente. Ela ainda era a mulher por quem ele se apaixona quando jovem, a mulher que ele perdera por sua própria teimosia. Roberto tomou coragem, atravessou a rua e parou diante dela. Lucero levantou os olhos, surpresa ao vê-lo ali.

— Roberto? — sua voz era calma, mas cheia de espanto. — O que você está fazendo aqui? — ele respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Comprei a casa aqui na frente, Lucero. — Lucero piscou algumas vezes, tentando absorver a informação.

— Você comprou... essa casa? — sua voz saiu com incredulidade, ela sabia que ele estava aprontando algo.

— Sim — respondeu Roberto, um pouco hesitante. — Eu queria ficar mais perto de você. Ficar mais perto da nossa família. — ela ficou em silêncio, olhando fixo no rosto dele, tentando entender o que ele realmente queria. Roberto não a culpava. Ele sabia que tinha muito a explicar, muito a se redimir. — Eu sei que errei, Lucero. E sei que talvez seja tarde demais, mas... eu preciso tentar. Preciso consertar o que destruí — disse ele, com a voz um pouco trêmula. — Eu nunca deixei de te amar, nesses anos todos eu nunca estive com ninguém, nunca deixei de amar o nosso filho, os nossos netos. Quero reconquistar o que perdi, se você me der essa chance. — Lucero balançou a cabeça, ainda processando o que estava acontecendo.

— Depois de tudo, Roberto? Depois de tantos anos de mágoa, orgulho, de distância? — ele suspirou, abaixando os olhos.

— Eu sei que demorei demais para enxergar o que realmente importa. Mas eu não aguento mais viver assim. Eu não aguento mais essa solidão. — sua voz falhou um pouco, e ele olhou diretamente nos olhos dela. — Quero ser um pai de verdade para Victoriano, quero ser um avô presente para Cassandra e Alejandro, e... quero ser um bom marido para você, se ainda houver espaço para isso.

Lucero cruzou os braços, tentando manter a compostura, mas havia uma parte dela que ainda amava Roberto, mesmo com todas as feridas do passado. Ela olhou para ele com olhos que misturavam tristeza e esperança.

— Roberto, eu não sei se as coisas podem voltar a ser como eram antes — ela disse, com sinceridade. — Você me magoou profundamente. Magoou nosso filho, afastou-se de todos nós. Não é algo que se resolve de um dia para o outro.

— Eu sei, não quero voltar para o antes, quero seguir agora, sei que muitas coisas que fiz e falei deixaram cicatrizes abertas e quero fechar elas, quero seguir. — ele disse rapidamente. — Não estou pedindo para esquecer o passado. Estou pedindo para começarmos de novo. Um passo de cada vez.

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