Capítulo 3: O Conflito e a Despedida

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Benício retornava lentamente à aldeia, ainda perturbado pelos acontecimentos à beira do rio. Seu coração estava dividido entre a razão e o desejo que sentia por Arani. Cada passo parecia pesar mais, como se a terra da floresta o puxasse para trás, querendo mantê-lo ali, perto dela. Mas ao chegar ao centro da aldeia, uma cena inesperada o aguardava.

— Coronel! — A voz rouca e poderosa do pajé ecoou, cortando o silêncio da noite. Ele estava à espera de Benício, com os olhos brilhando de fúria. — O que você fez?

Benício parou, surpreso pela intensidade do tom do velho. Antes que pudesse responder, o pajé continuou:

— Você foi visto no rio... com Arani! Um de nossos caçadores os flagrou. Como ousa? — O pajé se aproximou, seus olhos fixos no coronel, como se quisesse penetrar sua alma.

Benício, pego de surpresa, tentou se explicar, mas as palavras não saíam. Seu peito apertava com o medo de ter causado problemas para Arani. Nesse momento, ao ouvir a gritaria, Arani surgiu correndo da oca onde estava.

— O que está acontecendo? — perguntou ela, a voz cheia de preocupação.

O pajé virou-se bruscamente para ela, e a ira que antes estava voltada para Benício agora também atingia a jovem.

— O que você fez, Arani? Como pode se envolver com um homem de fora? Você sabe que isso é proibido!

— Pajé, eu...

— Não! — O velho interrompeu. — Não há desculpas. Você desrespeitou nossas tradições, nossa cultura! E por isso será punida.

Os olhos de Arani se encheram de lágrimas, mas ela manteve a cabeça erguida, sem protestar. Sabia que discutir com o pajé seria inútil. A decisão dele era lei. Benício tentou intervir.

— Não foi culpa dela! Eu... Eu a amo. Ela não fez nada de errado. Fui eu quem tomou a iniciativa.

O pajé o encarou com uma mistura de desdém e decepção.

— Você não entende, coronel. O amor de vocês é impossível. Arani tem suas responsabilidades aqui, e você, as suas em seu mundo. Você deve partir, e ela ficará. Não permitirei que destrua a harmonia de nossa tribo.

Com essas palavras, o pajé deu as costas a Benício, deixando claro que a conversa havia terminado. Ele olhou para Arani uma última vez, e sua voz soou dura:

— Arani, você ficará isolada dos outros por um tempo. Essa será sua punição.

Arani abaixou a cabeça, resignada, mas Benício sentiu uma onda de indignação e impotência invadi-lo.

— E você — o pajé continuou, agora voltando-se novamente para Benício — deve deixar nossa aldeia imediatamente. Não há mais lugar para você aqui.

Benício, ainda chocado, não teve escolha a não ser obedecer. Arrumou suas coisas com o coração pesado, sabendo que estava deixando um pedaço de si mesmo ali. A despedida silenciosa com Arani doeu mais do que qualquer palavra poderia expressar.

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Já na mata, Benício caminhava lentamente, o som distante da aldeia sendo substituído pelo canto dos pássaros e pelo farfalhar das árvores. Ele sentia o vazio em seu peito aumentar a cada passo. Mas, de repente, uma flecha passou por ele, roçando o ar próximo ao seu rosto. Ele se virou, instintivamente, e viu Arani entre as árvores, segurando o arco com firmeza.

— Arani! — exclamou, surpreso.

Ela correu até ele, com o coração acelerado e os olhos brilhando.

— Eu não podia deixar você partir assim — disse, ofegante. — Eu preciso me despedir de você, Benício.

O coronel, sem conseguir esconder a emoção que o dominava, aproximou-se de Arani, seus olhos mergulhando nos dela. Antes que ele pudesse responder, Arani continuou, as palavras saindo como uma confissão há muito reprimida:

— Eu te amo, Benício. Desde o primeiro dia, eu soube que havia algo especial entre nós... Mas eu não posso fugir com você. Minha vida está aqui, com minha tribo, com meu povo. Mas... — ela hesitou, mordendo o lábio — se você ficar... se escondermos isso por um tempo, talvez possamos achar uma solução.

Benício sentiu seu coração disparar. O pensamento de ficar com ela, mesmo que em segredo, incendiava sua mente. Ele não hesitou.

— Eu fico. Por você, eu fico.

Sem mais palavras, ele a puxou para perto e a beijou com intensidade. O mundo ao redor desapareceu. A floresta, o rio, os pássaros... Tudo parecia conspirar para aquele momento, como se a própria natureza soubesse que o amor entre eles era inevitável. Eles estavam cercados por flores selvagens, e o rio tranquilo corria ao lado, criando uma melodia suave que se misturava ao canto dos pássaros.

Os beijos tornaram-se mais profundos, mais desesperados. Arani, sempre tão firme e controlada, agora se entregava completamente a ele. O calor de seus corpos aumentava, e o desejo que haviam contido por tanto tempo finalmente explodiu.

Sob o céu estrelado, cercados pela beleza da natureza, eles se deitaram ali, entre as flores e o som da floresta, entregando-se ao momento. Cada toque, cada beijo era uma promessa silenciosa de um amor que, apesar das adversidades, existia com toda a força do destino.

Naquele instante, nada mais importava. O mundo além da floresta não tinha lugar naquele refúgio secreto. Era apenas Benício e Arani, juntos, apaixonados, vivendo um amor proibido.

E, embora soubessem que a realidade logo voltaria para os dois, naquele momento, o tempo parou

Yara Elisa: Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora