Capítulo 4: A Revelação Dolorosa

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Os dias passavam lentamente na floresta, e Benício e Arani viviam escondidos, isolados do restante da tribo e do mundo exterior. Arani, sempre ágil e atenta, havia encontrado um lugar afastado e seguro para que pudessem ficar sem serem descobertos. Ela organizou o local com uma precisão que apenas uma líder nata poderia ter. A vegetação ao redor do esconderijo era densa, e o som constante do rio próximo tornava o refúgio ainda mais tranquilo. Porém, apesar de todo o esforço para manter o segredo, algo profundo pesava nos corações de ambos.

Benício, por mais que se sentisse apaixonado por Arani, não conseguia afastar os pensamentos que rondavam sua mente. A culpa o corroía, mas o amor por ela parecia crescer a cada dia. Sentia-se encantado com aquela mulher forte, independente e tão diferente de qualquer outra que já havia conhecido. Arani, por sua vez, também estava inquieta. Desde o momento em que decidiu se esconder com ele, sabia que aquilo traria consequências, mas a paixão que sentia por Benício a havia cegado, e agora ela começava a questionar sua própria escolha.

Durante aqueles três meses, eles viviam um misto de felicidade e angústia, sempre sob a tensão de serem descobertos. Arani, como uma líder sábia, havia estabelecido regras rígidas para garantir que sua presença ali permanecesse secreta. Eles saíam apenas à noite, evitavam fazer barulho e tinham cuidado redobrado ao se aproximarem da aldeia. O relacionamento deles era, ao mesmo tempo, intenso e silencioso. Contudo, o peso do que escondiam estava sempre presente, como uma sombra entre eles.

Certa tarde, enquanto os dois estavam à beira do rio, sentados em suas margens de pedras lisas, o ambiente parecia mais calmo, quase como um respiro antes de uma tempestade. O sol se punha lentamente, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, e o som suave da água correndo ao lado criava uma atmosfera de tranquilidade aparente. Como de costume, eles começaram a conversar sobre a vida, as dúvidas e o que viria a seguir. Mas, naquela tarde, o silêncio entre eles parecia mais pesado.

— Arani... — Benício começou, hesitante, o olhar perdido no horizonte. — Há algo que preciso te contar. Algo que não posso mais guardar só para mim.

Ela o olhou de soslaio, sem desviar completamente os olhos da água. Havia uma certa dureza em seu semblante, como se pressentisse que as palavras que estavam por vir trariam mais dor do que conforto.

— O que é, coronel? — perguntou, mantendo a voz firme.

Benício respirou fundo antes de falar.

— Antes de chegar aqui... Antes de conhecer você... Eu tinha uma vida. Uma vida completa, com uma esposa, Clara, e três filhos. Caio, Eduardo e Ana Alice. Eles estão me esperando... E eu... Eu os deixei para trás quando vim para a Amazônia.

A voz de Benício vacilou ao final da frase, mas ele sentiu um peso se levantar de seu peito. Era a primeira vez que falava abertamente sobre sua família desde que se entregara a Arani. Porém, ao terminar de falar, ele não encontrou o alívio que esperava. O silêncio de Arani era gelado, e quando ele finalmente a olhou nos olhos, encontrou neles uma mistura de decepção, dor e incredulidade.

— Você estava o tempo todo comigo, escondido... E nunca me contou isso? — Arani perguntou, sua voz trêmula com raiva e tristeza. — Você estava mentindo para mim?

Benício tentou explicar, mas suas palavras soaram vazias para Arani.

— Eu... Eu não menti, Arani. Eu só não soube como te contar... Eu me perdi em tudo isso, em você... — Ele estendeu a mão, tentando tocá-la, mas Arani se afastou.

— Não soube como me contar? — A raiva agora tomava conta dela. — Eu estava arriscando tudo por você! Minha tribo, minha honra, minha vida! E você estava apenas... — Ela engasgou nas próprias palavras, sua respiração irregular. — Apenas me iludindo com promessas que nunca poderiam se cumprir?

Benício balançou a cabeça, desesperado.

— Não, Arani. Eu te amo. Tudo isso é real para mim. Mas eu... não soube lidar com o que deixei para trás.

Arani se levantou abruptamente, o corpo trêmulo com a mistura de emoções que sentia. Ela olhou para ele por um momento longo e angustiante, como se estivesse decidindo o que fazer. Mas antes que pudesse conter as palavras, a revelação escapou de seus lábios, fruto da sua dor.

— Eu... Estou grávida, Benício.

As palavras pareciam ecoar na floresta, o impacto delas atingindo o coronel como um soco. Benício ficou em silêncio, paralisado, enquanto Arani, ao perceber o que havia acabado de revelar, colocou as mãos sobre a boca, desesperada. Sem dizer mais nada, ela se virou e correu para o esconderijo, deixando-o sozinho à beira do rio.

Benício ficou ali, atordoado, o coração pesado com o peso de tudo que acontecia. Sua mente girava, e ele tentou processar a verdade que acabara de ouvir: *um filho*. Arani, a mulher que ele amava, estava grávida dele. Ele seria pai novamente, mas desta vez, o filho seria fruto de um amor proibido, nascido da paixão e do caos que ele havia provocado.

Ele sentou-se na margem do rio, a cabeça entre as mãos, sentindo o peso de sua consciência. A culpa por ter mentido para Arani e pela traição a Clara e seus filhos o esmagava. Mas, ao mesmo tempo, uma parte dele se sentia alegre, como se a vida estivesse lhe dando uma nova oportunidade de ser feliz com Arani, com o filho que ela carregava. No entanto, as consequências de suas escolhas estavam agora mais claras do que nunca.

Como ele poderia enfrentar sua esposa? Seus filhos? Como poderia viver com Arani e o filho que nasceria, sabendo que teria de carregar o fardo de tudo o que havia feito? A alegria de ser pai novamente logo foi substituída pela amarga realidade de suas escolhas.

Sem respostas, Benício se levantou e caminhou de volta para o esconderijo, o coração apertado. Ele sabia que as consequências de tudo aquilo estavam apenas começando a se desenrolar, e agora, mais do que nunca, ele estava preso entre dois mundos: o de sua família e o de seu amor proibido

Yara Elisa: Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora