Sozinho na fazenda, Benício se via cercado por sombras de suas escolhas, a amargura consumindo-o a cada minuto que passava. A casa, antes cheia de risos e amor, agora parecia um labirinto de dor e arrependimento. Ele olhava para os objetos que haviam pertencido a Clara e às crianças, cada um deles uma lembrança de um tempo mais feliz, e sentiu um impulso forte de arrumar suas coisas.
Com um peso enorme no coração, ele decidiu retornar à aldeia. Ao atravessar a mata densa que o levava até o local onde tudo havia começado, cada passo parecia uma tortura, um lembrete da guerra interna que enfrentava. Ele não apenas deixara sua família, mas também havia ferido profundamente uma mulher que havia lhe dado amor, mesmo que por um breve momento.
Ao chegar à aldeia, a cena era completamente diferente do que ele lembrava. O ambiente estava carregado de tristeza e desolação. Os rostos dos membros da tribo estavam sombrios, e o ar parecia denso com a dor do que havia acontecido. Benício sentiu que a atmosfera da aldeia refletia seu próprio tormento interior. Quando avistou o paje, seu coração disparou.
— Benício! — chamou o paje, sua voz calma em meio ao caos emocional do jovem. — O que traz você de volta?
As lágrimas brotaram nos olhos de Benício. Ele não podia mais esconder a dor que o consumia.
— Eu... eu não sei o que fazer. O que fiz com Arani... — suas palavras saíam entre soluços, a culpa se acumulando como uma flecha cravada em seu peito. — Eu nunca quis machucá-la. A deixei aqui, e agora parece que ela está sofrendo.
O paje observou o jovem com compaixão. Ele sabia que Benício carregava o peso de suas decisões, mas havia algo mais profundo ali, algo que falava de amor genuíno e arrependimento.
— Arani... — começou o paje, olhando para o horizonte, como se procurasse as palavras certas. — Ela tem estado muito deprimida. O pai dela... — a voz do paje se tornou mais baixa, — ele a tem tratado com desprezo desde que você partiu. A tribo toda sente a dor dela, e todos nós nos preocupamos com a sua saúde.
Benício sentiu como se um peso enorme tivesse caído sobre ele, as palavras do paje ecoando em sua mente. Ele se lembrou dos olhos radiantes de Arani, agora ofuscados pela tristeza.
— Eu preciso vê-la! — implorou Benício, a desespero em seu tom. — Preciso pedir desculpas, preciso entender como ela está!
O paje hesitou por um momento, observando a intensidade de Benício. Ele sabia que o amor do jovem por Arani era verdadeiro, mesmo que complicado. Finalmente, ele assentiu lentamente.
— Muito bem. Você pode vê-la, mas esteja ciente de que ela pode não estar pronta para ouvir você. A dor dela é profunda.
Benício não se importava. Ele só queria vê-la, tentar aliviar a dor que ele havia causado. O paje o guiou pela aldeia, cada passo carregado de ansiedade. Quando chegaram à tenda de Arani, o coração de Benício disparou. Ele estava prestes a confrontar as consequências de suas ações e o peso da responsabilidade que agora carregava.
Ele entrou devagar, e o que viu o atingiu como um golpe. Arani estava sentada em um canto, com a cabeça baixa, o cabelo desgrenhado caindo sobre seu rosto. A força e a bravura que ele sempre admirara pareciam ter desaparecido, deixando apenas uma figura fragilizada pela dor.
— Arani... — ele chamou suavemente, mas a voz dele parecia um sussurro frágil no ar denso de tristeza.
Arani ergueu a cabeça lentamente, e seus olhos, uma vez brilhantes, agora estavam cheios de lágrimas e dor.
— Você voltou... — disse ela, a voz embargada.
A visão dela partiu o coração de Benício. Ele sentiu a culpa pressioná-lo como uma tempestade, e em um ato de vulnerabilidade, ele se ajoelhou diante dela.
— Eu sinto muito. Eu não queria que isso acontecesse. Eu nunca quis te machucar. Por favor, me perdoe! — sua voz era uma súplica desesperada, ecoando a dor que ele sentia por dentro.
Arani olhou para ele, as lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto a tristeza e a raiva pareciam lutar por espaço em seu coração. Benício sabia que tinha muito a fazer para reparar o que havia quebrado, mas, naquele momento, tudo o que ele queria era estar ao seu lado e ajudá-la a encontrar a força que ainda havia dentro dela.
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Yara Elisa: Entre Dois Mundos
RomanceEssa é a história de Yara Elisa, uma jovem criada em meio a conflitos familiares e segredos dolorosos. Nascida de um relacionamento proibido entre Benício, um fazendeiro, e Arani, uma guerreira indígena, Yara enfrenta rejeição e ressentimento ao lon...