Tira essa mulher do meu coração

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- Soraya... Não podemos. - Tentei afastá-la, mas ela ignorou minhas palavras e voltou a me beijar, como se não tivesse me escutado.

Seus lábios eram macios, exatamente como eu sempre imaginei. O perfume dela, a intensidade do seu desejo, tudo parecia loucura demais, quase um desespero. Sentia sua respiração quente e entrecortada no meu rosto. Deixei para trás todos os impedimentos e me entreguei ao momento. Desliguei o carro com um movimento rápido e a puxei para que se sentasse em meu colo com as pernas entrelaçadas na minha cintura. Para nossa sorte, ela era pequena e cabíamos as duas na poltrona do motorista. Pela primeira vez na minha vida, apertava o corpo de uma mulher. Sua cintura, suas coxas. Minhas mãos estavam conhecendo aquele território quente e Soraya se movia tão gostoso em cima de mim. Suas mãos puxavam meus cabelos enquanto distribuía beijos no meu pescoço. Naquele fogo todo, soltei um gemido que a fez sorrir com satisfação.

Não percebemos quando um carro parou na frente do meu mas ouvimos uma porta bater e um cara falar:

- Sim filho, a viagem foi tranquila... Cheguei agora aqui no prédio da sua mãe...

- É o César! - Ela disse e eu fiquei calada. Estávamos paralisadas, como duas estátuas, com nossos corações acelerados enquanto o víamos entrar no edifício.

- Você acha que ele nos viu?

- Acho pouco provável. O vidro fumê impede qualquer visão do lado de fora.

- Que bom! - Ela, ainda em cima de mim, descansou a testa em meu ombro, enquanto sua respiração começava a se acalmar.

- É melhor você ir... Seu marido deve estar morrendo de saudades.

- Eu vou, mas Simone, ainda não terminamos essa conversa. - Ela dizia com as nossas testas e narizes colados. Ainda estávamos ofegantes e eu sentia seu hálito na minha pele.

- Soraya, apesar de ter sido muito bom, isso foi um erro. Acho melhor fingir que nada aconteceu.

- Vou repetir: Ainda não terminamos essa conversa. - Ela volta a se sentar no banco passageiro e pega sua bolsa. Estava a ponto de sair quando eu interrompo.

- Soraya, espera! - Abaixei o quebra-sol para que ela pudesse ver no espelho os lábios borrados. Ela sorriu e tirou um estojo da bolsa, e eu mal podia acreditar no que estava vendo: Soraya retocando a maquiagem depois dos nossos beijos.

- Ficou bom? - Perguntou cínica e eu balancei a cabeça afirmando. Ela piscou o olho e me deu um estalinho antes de sair do carro.

- Essa mulher é impossível!

Depois de me recompor, consegui finalmente sair dali. Embora não quisesse perder o cheiro dela, a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi tomar um banho quente. Precisava relaxar depois de um dia tão intenso. Estava cansada, mas, ao mesmo tempo, sentia meu corpo leve.

Olhei para o espelho e examinei meu reflexo. As marcas no meu rosto contavam a história dos anos que se passaram. Uma pequena cicatriz do botox aqui, outra ali... minha pele já não era tão firme e lisa como antes e me permitir chorar um pouco. Minha mente estava confusa. Eu, uma jovem senhora de 50 anos, beijando uma ex-aluna e atual colega de trabalho. Uma mulher de direita, cristã, casada com meu primeiro e único homem, mãe de duas meninas que já eram mulheres... Como pude deixar isso acontecer, depois de lutar contra esse sentimento por mais de 25 anos? - As lágrimas caíam sem parar - Lembrava de tudo o que havia feito para chegar até aqui: todas as perdas, as noites mal dormidas e as renúncias. Dessas, eu me lembrava bem.

Recordei o dia em que conheci Soraya, naquele acidente de trânsito. A surpresa ao vê-la na minha sala como aluna, nos olhares que trocávamos em silêncio, da forma como me sentia diferente quando ela estava por perto, seu sorriso jovem e vibrante. Lembrei de sua risada contagiante que às vezes ecoava na sala. Mas também lembrei de quando ela se afastou, de como brincou com os meus sentimentos e riu pelas minhas costas. Ela me fez sentir tão patética!

Sempre foi ela, sempre será ela - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora