Diante de Eudérios, minha mente ainda estava perturbada pelas revelações visuais que tive a pouco. O monge me observava em silêncio, o ar repentinamente se tornou denso, seus olhos transmitiam séculos de sabedoria, toda a sua estrutura indicava que ele ansiava por compartilhar algo.
— A Lumínia... — começou Eudérios, com sua voz grave e compassada — não é apenas um poder qualquer. Ela é a essência de Luminara, a deusa que criou este mundo e partilhou sua alma com todos nós. Cada um carrega uma centelha dessa luz divina. O que você sentiu até agora, Elí, é apenas um vislumbre do que esse poder realmente é.
Inconsientemente me inclinei para frente, absorvendo cada palavra. A ideia de que o poder que usei vinha da própria deusa criadora era difícil de assimilar. Sempre pensei na Lumínia como uma habilidade, algo que eu podia controlar, mas nunca havia considerado sua origem divina (mesmo tendo visto como tudo aconteceu, isso sequer passava pela minha mente).
— Para controlar verdadeiramente a Lumínia, você deve entender que ela é uma extensão de sua alma — continuou Eudérios. — Não responde apenas à sua vontade, mas ao que está no mais profundo do seu espírito. Agora, feche os olhos e tente sentir essa conexão.
Como dito, fechei meus olhos. Porém repentinamente minha mente entrou em total colapso. Como eu poderia me conectar com algo tão grandioso? Respiro fundo, tentando acalmar os turbilhões de pensamentos. Aos poucos, imagens de luz começaram a se formar em minha mente. Visualizei uma chama suave, flutuando dentro de mim, mas a cada vez que tentava alcançá-la, ela escapava de meu controle.
— Não tente forçar — disse Eudérios, como se lesse meus pensamentos. — A Lumínia responde à paz interior, não à força. Relaxe e permita que sua alma se una à luz de Luminara.
Após vários minutos, comecei a sentir uma leve pulsação, uma batida suave que ecoava com meu próprio coração. Me agarrei e me concentrei nisso, permitindo que a sensação fluísse, mas antes que pudesse explorá-la mais profundamente, uma enchente de emoções começou a invadir minha mente. As memórias de Kauane e Scarlet feridas, o medo e a dor que ele havia sentido naquele momento, tudo voltou com força total.
Meus olhos se abriram, e engasguei, meu coração e respiração aceleraram sentindo o peso daquelas lembranças me afogando completamente.
— É normal — disse Eudérios calmamente. — A Lumínia responde às suas emoções, mas essa é uma espada de dois gumes.
Eudérios ergueu-se, caminhando lentamente a minha volta, com sua mão direita no queixo. Sua presença parecia mais intensa agora, como se algo mais poderoso estivesse se revelando dentro dele.
— Você se lembra das emoções que experimentou quando viu suas companheiras mutiladas? — Eudérios perguntou. — A dor, a raiva, o desespero... Todas essas emoções despertaram a Lumínia em você, mas de forma instintiva. No entanto, essa energia, quando guiada apenas por sentimentos descontrolados, pode se voltar contra você.
Melancolicamente concordei com o que ouvi, balançando a cabeça, indicando que entendi exatamente o que ele quis transmitir. Era claro que me lembrava bem daquele momento. O calor que queimava em meu peito, a raiva que me fez perder o controle, e o poder que se manifestou como uma explosão. Tudo isso me assustava.
— Quero que você reviva essas emoções — disse Eudérios, com seus olhos fixos nos meus — Mas desta vez, tente controlar a Lumínia.
Antes que eu pudesse questionar, o ambiente ao redor começou a mudar. A sala escureceu, gradualmente a temperatura do ambiente foi caindo, e de repente eu não estava mais na biblioca viva. À minha frente, estavam Kauane e Scarlet, novamente mutiladas, suas vozes fracas pedindo por ajuda. O terror e a angústia me invadiram, e senti a Lumínia borbulhar dentro de mim, prestes a explodir.
— Controle-a! — ordenou Eudérios, sua voz distante, mas presente.
Eu tentou, mas a dor era insuportável. As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto enquanto a Lumínia escapava de minhas mãos, criando ondas de luz esverdeadas descontroladas ao meu redor. Gritei, com todas as minhas forças, mas era impossível estabilizá-la. Quanto mais tentava, mais instável se tornava, até que, finalmente, a imagem desapareceu, e caí no chão, ofegante.
Eudérios estava desde o começo ao meu lado, me ajudando a se levantar.
— Isso é o que acontece quando você deixa suas emoções dominarem a Lumínia. Ela é poderosa, mas você precisa ser mais forte que seus sentimentos. Só assim será capaz de usá-la com sabedoria.
Sequei as lágrimas e me coloquei de pé, os músculos ainda tremiam. A essa altura, estava mais que claro que o caminho para dominar a Luminia, estava mais longe no que eu esperava.
Eudérios me observou por um momento, antes de falar novamente.
— Amanhã, vamos começar o verdadeiro treinamento — disse o monge. — Hoje, você viu o que acontece quando a Lumínia é guiada apenas por emoções. Mas há outra forma... uma forma mais precisa, mais estável. Vamos trabalhar nisso.
Eu apenas concordei. Mas as palavras de Eudérios ecoavam em minha mente. Ainda sentia o peso das emoções, o caos que quase me consumiu. Eu sabia que teria que encontrar uma maneira de equilibrar tudo isso.
Com isso, o primeiro dia de treinamento chegava ao fim, mas a verdadeira jornada de aprendizado estava apenas começando.
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O sol de um futuro distante
Novela JuvenilEm uma jornada marcada por mudanças constantes, Elí, um jovem que enfrenta a solidão devido às frequentes mudanças de sua vida, descobre uma conexão única ao conhecer Kauane. Juntos, eles se veem envolvidos em uma situação desafiadora e, movido por...