Capítulo XI: A decisão de Scarlet

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- Bom, acordar acho que é um pouco demais...- Falava Melissa enquanto em seu rosto se formava um sorriso, que estranhamente a deixava corada. - Ela soltou algumas palavras sabe? Ainda inconsiente. Mas seu quadro é estável, está apenas descansando.-

De fato aquelas palavras acalmaram meu coração, pelo menos por uma parte. Apesar de estar muito feliz pela melhora de Scarlet, muitas coisas aconteceram comigo nesse curto periodo de tempo, e aquele último enigma... mesmo sem sentido, ele parecia ter uma clareza tão profunda, e o que mais me angustiava era o fato de eu não saber seu real significado. E mediante as palavras de Melissa, não sei se por alegria ou ansiedade, mas meus olhos se encheram de lágrimas, e ainda de joelhos me retorci no chão enquanto chorava.

- Que coisa feia, um adolescente dessa idade chorando igual um bebê!- Melissa falava com o tom mais sarcástico que sua voz podia alcançar.

- Queria ser adolescente, mas eu não passo de uma criança fraca... Sendo sincero, eu não sei se vou ter forças para proteger todo mundo.- As mais puras palavras que meu coração guardou, eu soltei naquele momento, enquanto enxugava as lágrimas de meu rosto.

- Elí, levante-se e olhe para trás!- Com firmeza e autoridade disse a fada.

Eu apenas a obedeci e pus-me de pé. Estranhamente alguma coisa havia mudado, tive uma ligeira sensação de que estava mais alto, mas sequer me importei, poderia ser apenas tontura do teleporte. Bom, pelos menos assim pensei. Quando me viro, dou de cara com um enorme espelho, que deveria ter aproximadamente dois metros de altura, e ao ver meu reflexo nele, eu entendi o por que dela ter me chamado de adolescente.

- O que!!!! O-o que aconteceu comigo? Eu estou mais velho?- Gritei no momento em que vi minha silhueta ao espelho. Minhas pernas e braços haviam se esticado, eu estava maior e mais forte, e com a ponta de meus dedos pude sentir uma curta e rala, barba em meu rosto.

- Bom pelos meus calculos, você está com dezessete anos.- a jovem de cabelos cacheados dizia enquanto encarava um estranho relógio, que continha sete ponteiros que estava em seu pulso esquerdo. - Você passou por duas portas, cada uma se passou dois anos e meio... Bom, é isso mesmo.- Ela realmente estava se esforçando para calcular aquilo.

- Como assim dezessete anos? A algumas horas atrás eu tinha doze... Onde está Kauane? Ela está bem?- Minha mente estava em completa confusão, e o fato de não saber o que estava acontecendo me deixava nervoso.

- Scarlet esta em outro quarto, mas vamos a outro lugar para conversar, ela merece descansar.- A jovem fada, se levantou e seguiu em direção a uma porta aberta, indo para fora daquela pequena casa. - Vamos ao começo, peço que se sente pois a conversa vai ser um pouco longa.- As palavras ia saindo da boca da jovem enquanto ela se dirigia a uma fogueira, e na primeira oportunidade se sentou em um dos bancos que estavam em volta do fogo. - Agora você está em um Bunker, atráves de feitiços, eu, meu falecido irmão e Scarlet construímos tudo isso, parece que estamos no mundo real não é mesmo?-

- Melissa, eu estou realmemte confuso, qual a necessidade de tudo isso? Por que eu vi aquelas portas?- As perguntas na medida que iam se formando em minha mente, eu as soltava sem qualquer receio, enquanto me sentava a sua frente.

- Scarlet, ou como ela gostava de ser chamada: "Scarlet Drum", na verdade é Kauane. Não a sua Kauane, mas sim uma que foi deixada para trás. Mesmo após a promessa de ir com o herói para sua terra, ela não o fez. Ela ficou para cuidar de seu reino, e isso acabou com sua vida. O herói tinha que voltar para sua terra natal, e ela não o acompanhou, e de alguma forma, Baltazar conseguiu se infiltrar no reino da princesa e tomou seu controle, ele conseguiu tudo o que mais queria.- Estalos da fogueira podiam ser ouvidos enquanto Melissa falava. - O Bastardo fez barbaridades nas quais eu me envergonho de falar, com a princesa, tanto foi, que ela não resistiu e cedeu a loucura, e neste momento ele sentiu nojo da princesa e decidiu trata-la como um bicho de estimação, fazendo diversas experiências com feitiços mentais em Kauane. Foi aí que meu irmão e eu, conhecemos a Princesa, nós éramos escravos no palácio de Baltazar, e guardo marcas até hoje...- E, puxando parte de sua camisa, a Fada mostra grossas cicatrizes e queimaduras em suas costas. Por um curto momento, pois ela volta a cobrir.

Eu conseguia facilmente visualizar cada situação que Melissa descrevia, não através de algum feitiço, mas simplesmente podia sentir seus sentimentos enquanto falava.

- Conseguimos fugir dalí, e meu irmão mais velho cuidou de nós duas, a ponto de pesquisar por meses um feitiço para dar uma nova personalidade a Kauane, Personalidade essa que adotou o nome Scarlet Drum. Pelo que vi, meu irmão não apagou seu passado, apenas sobrescreveu... Após isso inventamos uma história pra ela, falando que tinhamos que ajudar o crescimento de um herói que estaria por vir, e ela se enpenhou tanto que preparou sozinha, os treinamentos de Kauane e o seu. E sim, ao que parece, Kauane também está se fortalecendo, você voltou pelo simples fato de que não compreendeu ainda o significado daquele enigma. Quando você for capaz de decifra-lo, intantaneamente voltará para lá, Scarlet já havia preparado tudo quando conheceu vocês.-

Tudo enfim começava a fazer sentido, no fim, eu não havia abandonado ela, ela realmente fez questão de ficar... Mas dessa vez eu faria diferente, eu jamais permitiria Kauane sofrer o que sofreu. Estava decidido a me fortalecer em prol disso.

- Melissa, eu preciso ficar mais forte. Me ajude a treinar, por favor. - Com calma e mansidão fiz este pedido, demonstrando o maior respeito possivel a fada, enquanto me curvava em sua direção.

- Não ouse se curvar perante sua serva, é uma honra lhe ensinar. Mas não é o momento agora, Kauane está quase terminando seu treinamento, vamos aguarda-la e logo após vamos para a grande metrópole, Melarvalhe.- Levantando- se e esticando as mãos, Melissa sussura algumas palavras e de sua mão sai uma torrente de água que apaga as chamas da fogueira. - Peço que canalize Sua Lumínia, e vá criando sua armadura e armas, seu corpo tem que se acostumar com isso. Brilhe o bastante para não ficar no escuro, é um conselho que te dou.-

Com quase nenhuma opção segui as palavras de Melissa. Respirando fundo e com os olhos fechados, apenas meditei, procurando no mais fundo de meu ser, a luz que guiava minha alma.

O sol de um futuro distanteOnde histórias criam vida. Descubra agora