Não quero que julguem nosso pequeno Elí, talvez sua ânsia por ser reconhecido como um amigo, por seja lá quem for a pessoa, tivesse criado um véu em seus olhos. Sendo bem sincero, hoje acredito que nesse mundo há muito mais coisas que nossos olhos podem ver, mas naquele momento, a falta de maturidade iria me levar a ruína.
A iluminação daquele lugar era horrível, tomada por uma meia luz formada por velhas lâmpadas tubular fluorescentes, que vez ou outra mostrava seu cansaço dando incoerentes piscadas. A umidade e acúmulos de mofo podia-se ver em excesso pelas paredes e seus rodapés. Passar pelo buraco, que muito provavelmente foi de arrombamento na porta, foi a parte fácil no negócio, difícil era procurar qualquer coisa em meio a escombros e sacos de lixo empilhados na recepção do manicômio. Na verdade não sabia se segurava o papel com os itens que teria que procurar ou se tampava meu nariz com os braços, alguma coisa alí deixava todo o ambiente com um forte e quase insuportável odor pútrido.
- Elííí!!!
Era a jovem garota de cabelos loiros me chamando enquanto passava pela velha porta de madeira que "fechava" a entrada.
- eai, o que foi? Cadê o Luca e o Kevin?
Falo abaixado procurando algo entre os trapos jogados no chão
- Eles tiveram que ir embora, anoiteceu e a mãe deles ligaram... E eu não queria fica sozinha lá.
Dizia em um tom suave.
- Parece que vou ter que ver mais de perto seu progresso.
Falava mexendo em uma mecha de cabelo que cobria parte do seu olho direito.
Em meio aos trapos de roupa espalhados pelo chão, perto de um escombro estava lá uma bata, 1 dos ítens presentes na lista, me apresso para pega-la; paro um pouco e pergunto:
- Agora que eu parei pra pensar, aonde vou por as coisas?
E magicamente a jovem garota tira uma algo do bolso.
- Aqui, põe nessa sacolinha.
Eu à pego e coloco a bata dentro.
" Esse lugar não parece tão abandonado assim, ainda tem roupas e bugigangas espalhadas pelo chão, pra algo abandonado era para estar realmente isolado."
Me levanto e após colocar a bata na sacola, começo a andar à procura de mais objetos.
- Então Elí fale mais sobre você, onde nasceu, sua idade, se tem namorada...
" Logo se tem namorada? Tá de sacanagem desde o começo sabia que ela me queria, não resistiu ao meu charme natural..." - Penso enquanto dou um leve sorriso de canto.
- Eu nasci aqui em Suzano, tenho 12. E não, não tenho namorada...
- Hm... - A reação dela no mesmo momento me desanimou de certa forma, no fim não parecia ter interesse algum, era realmente apenas para puxar papo.
- E você Kauane, tem namorado...? Quer dizer onde você mora?
E com uma sutil e doce risada, ela me responde:
- Bom, eu não tenho namorado... E também sou daqui.
Enquanto conversávamos continuava minha busca pelos itens da lista, com certa dificuldade entro em uma sala estranhamente conservada, que parecia ser uma das únicas coisas que ainda mantinha a pintura e as lâmpadas intactas, dou uma olhada em volta e embaixo de uma superfície de pedra havia um óculos escuro com suas lentes quebradas.
" Tô indo até bem, com a bata e o óculos agora só faltam mais três coisas, uma caneta, uma chave e uma prancheta."
Pouco tempo depois Kauane entra naquele pequeno quarto.
- Certo, ainda faltam três...
Assim que Kauane entra no quarto um barulho ecoa por todo o hospital, sem saber de onde, parecia que algo rolando se aproximava, e se chocava com algo, fazendo um grande estrondo, a porta com um desconhecido e forte impacto se fecha, trancando-nos alí dentro. toda a sala tremia, as lâmpadas já começavam a piscar e estourar, a pintura da parede que antes parecia nova começava a descascar e cair aos pedaços, minha única reação alí, foi correr para tentar acalmar Kauane, que de cócoras já começava a chorar com medo de tudo aquilo.
- Calma Kauane já vai passar, calma!
Sussurro em sua orelha.
O piso e as paredes começaram rachar, pedaços de pedras começaram a cair do teto, a última coisa que lembro, foi de uma forte pancada em minha nuca, e tudo ficando escuro. Fora o estrondoso som dos escombros caindo por todos os lados, podia ouvir, ao fundo e muito baixo, o choro e a voz de Kauane chamando pelo meu nome...
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O sol de um futuro distante
Teen FictionEm uma jornada marcada por mudanças constantes, Elí, um jovem que enfrenta a solidão devido às frequentes mudanças de sua vida, descobre uma conexão única ao conhecer Kauane. Juntos, eles se veem envolvidos em uma situação desafiadora e, movido por...