Sr. Lobo

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Isadora narrando.

Grito me jogando ao chão, estou exausta, eu arrastei o moço lobo peladão até a entrada de casa, eu deveria ter parado quando quase não consegui jogar ele em cima de um lençol, eu ainda achei que puxar ele em cima do tecido seria mais fácil, para ele e para mim.

Mas parece que eu estou errada em tudo né, tanto que meus braços agora queimam, mas falta pouco, respiro fundo e me levanto apenas com uma força do além, porque não é possível eu não ter desmaiado ainda.

Seguro o nó que fiz no pano e começo a puxá-lo nas pequenas escadas até minha sala, o arrasto até o tapete do cômodo que cobri com mais um lençol novo e limpo e me jogo no meu sofá dessa vez.

Eu não tenho a menor ideia do porque eu o trouxe para minha casa está bem? Mas eu não podia ir até a cidade, iriam fazer o de sempre, julgar, falar, e não ajudar ninguém. Fora que como que eu ia explicar o fato do lobo virar um homem gostoso peladão.

Espera, gostosão? Olho mais uma vez para ele e balanço a cabeça, respeita o quase morto Isadora.

Me levanto respirando fundo e pego o kit de primeiros socorros, junto com algumas ervas boas para feridas abertas. Eu já fiz isso antes?

Não, e eu espero não o matar, mas farei o meu melhor para cuidar dele.

[...]

Após dar meu jeito e ele ainda ter pulso eu vejo a sujeira que ele está, preciso arrumar isso, pego água esquentando uma enorme quantidade e pegando algumas toalhinhas.

Chego perto com tudo que preciso e respiro fundo.

— Desculpa te deixar pelado de novo, mas que prometo que só vou limpar você, tá senhor Lobo? Não vou te fazer mal nem me aproveitar do seu corpinho moribundo, porém atraente. Com licença.

Peço mesmo com ele já em transe, se bobear no processo de morte, mas eu tinha que me meter e ajudar como eu posso.

Molho a toalha na água morna com sabonete líquido e torcendo um pouco levo até sua pele suja, com cuidado limpo bem devagar, revelando uma pele musculosa e firme, agora em tom pálido pela sua perda de sangue, mas acredito que ele é muito bonito com saúde.

Cuido de todo seu corpo com carinho mas também grande constrangimento após tudo pronto arranjo um lençol colocando diretamente em seu corpo, coloco um travesseiro abaixo de sua cabeça e por mim um cobertor leve o protegendo.

Ligo minha lareira o mantendo mais aquecido e vou até a cozinha, eu daria um liquido para ele beber, mas será que ele morre engasgado? Ou ele vai é morrer se eu não der nada para ele comer?

Na dúvida e ansiedade decido ir tomar um banho no momento, o lobo pelado já está limpo e em tratamento, agora eu estou podre, suada, dolorida e cansada.

[...]

Coloco um roupão por cima da minha camisola e desço descalça para a sala, vendo o bonitão ainda apagado.

— Você gostaria de uma sopa? Estou com medo de te matar, mas talvez, você acorde em breve, então vou deixar pronto tá. — falo mesmo sem ele estar consciente e por via das dúvidas me aproximo para ver seus batimentos, ainda vivo.

Ando até o lugar que tanto conheço e faço o que faço de melhor na vida, começo a cozinha assim que prendo meus cabelos em uma touca e visto uma avental.

Começo com o preparo de uma sopa de legumes, eu colocaria carne, mesmo para bater depois, mas e se o moço pelado for vegetariano?

Na dúvida começo a fazer uma carne assada, que depois mesmo batida vai ficar bem saborosa, penso que só isso pode ser fraco...

Começo a preparar um pão também, às vezes ele gosta e o cheirinho faz ele acordar. Tá legal Isadora, você está ansiosa, e vai cozinhar tudo o que sequer pensar em sua mente, então vamos lá.

[...]

Termino de lavar a última vasilha e rio olhando a quantidade de comida, fiz dois tipos de sopas, carne assada, pãozinho, torradas com azeite e alecrim, pão recheado, um chá de capim cidreira e um bolo que ainda está no forno.

Me sirvo com chá e um pedaço de pão com recheio indo até a sala.

— Sua família deve estar preocupada senhor lobo, se puder levantar e acordar eu agradeceria sabe. Mesmo que levante apenas para me mandar ficar quieta, sei que falo muito — confesso sorrindo e me sento no sofá o olhando.

Já se passaram quatro horas desde que eu o limpei, quanto tempo será que demora para alguém acordar depois do que ele passou? Isso se ele acordar né. Bato três vezes na madeira após esse pensamento querendo o repreender antes que profetize, já que pelo jeito estou com uma boca santa ultimamente.

Fico observando até que reparo pequenos tremores e movimentos em seu rosto, coloco minha xícara na prateleira ao meu lado e me aproximo dele me ajoelhando ao chão.

— Moço pelado, acorda — digo segurando sua mão e acariciando seu rosto.

Vejo que ele parece ter alguns choques em seu corpo e logo abre os olhos assustado, ele me olha rapidamente como que analisando e assustado.

Ele continua me olhando em sua quietude que já me deixa mais ansiosa do que por natureza.

— Moço eu te salvei na floresta, você estava como lobo, é doido eu sei, mas estava eu juro, aí ficou humano, e pelado, não te sequestrei tá, te trouxe para minha casa e cuidei de você, desculpa se te machuquei no caminho para cá, deve estar com dor né. Vou te trazer um analgésico, quer água?

Digo tudo e me levanto apressada buscando isso, volto meio atrapalhada enquanto ele ainda me olha sem piscar, com os olhos mais dourados do que eu já vi.

— Você fala minha língua? Ou é mudo? Desculpa, não sei se está me entendendo, mas toma isso tá, vou te ajudar — Ajudo ele a erguer a cabeça e coloco o comprimido em sua boca, ofereço o copo de água em seus lábios e me surpreendo quando ele toma tudo.

— Quer sopa? Eu fiz para você, deixei batidinha já para você não engasgar e morrer de novo sabe, está gostosa mesmo sendo para doente, vou pegar — me levanto mais uma vez inquieta com o pelado que não fala

Coloco uma boa quantidade na tigela e retorno, coloco um travesseiro um pouco mais alto abaixo dele que não protesta e me deixa cuidar dele.

— Vou dar em sua boca tá bom? Quando quiser falar estou aqui também, um nome seria bom, ficar te chamando só de moço lobo, moço pelado não é tão útil, por mais que seja a verdade ainda não é seu nome né.

— Caio — ele diz com sua voz grossa e potente enquanto sorrio animada.

— Você falou! — comemoro animada e vejo ele relaxar um pouco sua desconfiança. — Bom, agora, Caio, eu vou te alimentar, tudo bem? Se não gostar, posso fazer outra coisa, ou se não aguentar mais só avisar.

Aviso tudo e levo a primeira colherada até sua boca, soprando antes com medo que ele se queime, analiso com muita atenção sua reação ao engolir o caldo de legumes com carne.

— Eu não achei que você era vegano, porque você é meio forte né, desculpa, só lembrei de falar agora, essa sopa tem carne.

— Está boa — ele diz mais rouco ainda sem parar de me olhar e ignoro a sensação que isso causa em meu corpo, deixa de ser assanhada.

— Fico feliz — digo agora com vergonha de ter ficado um pouco excitada com seu olhar e voz.

— Você precisa descansar agora Caio, quer mais alguma coisa?

— Obrigada — ele diz simples e fecha os olhos.

Respeito seu momento me afastando, ajeito a cozinha rapidamente não querendo incomodar fazendo mais barulho e vou até meu quarto subindo as escadas.

Ele parece inofensivo né? Acredito que eu possa dormir em paz, e ele está todo quebrado coitado, acho que nem conseguiria fazer algo contra mim.

Minha Loba PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora