Segredos e Paixão

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A noite estava densa, e a chuva batia forte contra as janelas da Mansão Whitmore. O vento soprava como um lamento antigo, e dentro do grande salão, o fogo crepitava na lareira, lançando sombras nas paredes. Eleanor estava sentada na ponta da mesa, as mãos entrelaçadas com força. Seus pensamentos corriam, ainda abalada pelas revelações que havia descoberto. O peso do que encontrara no escritório de Henry fazia seu coração bater descompassado.

Alistair Rutherford chegaria a qualquer momento. Desde a morte de Henry, ele havia sido uma presença constante nos negócios, sempre perto, sempre meticuloso. Contudo, depois do que encontrara, ela precisava confrontá-lo. Precisava saber a verdade. Quem era Alistair, de fato, e até onde ia sua ligação com os negócios obscuros de Henry?

A porta se abriu com um ranger suave, e Alistair entrou na sala. Seu olhar era impassível, embora sempre atento.
Vestido com seu terno escuro, parecia à vontade no ambiente luxuoso, como se fizesse parte dele há muito tempo.

-Lady Eleanor disse ele com uma reverência educada, mas ao notar a tensão no rosto dela, franziu a testa levemente. -O que a perturba?

Ela se levantou, aproximando-se devagar. Seus passos eram firmes, mas por dentro, Eleanor sentia o estômago revirar de ansiedade. A pergunta que queimava em sua mente escapou antes que pudesse pensar duas vezes.

-Quem é você de verdade, Alistair? - Sua voz estava baixa, mas havia uma força inegável nela. Eu sei sobre Henry. -Sei o que ele fazia, os segredos que escondia. Não adianta mais fingir. Se você estava ao lado dele esse tempo todo, então você também sabia.

Alistair não respondeu de imediato. Seu olhar se fixou nela, avaliando, talvez medindo suas palavras. Ele soltou um suspiro pesado, passando uma mão pelos

cabelos escuros. Aproximou-se mais, com um semblante de quem carregava um fardo há muito tempo.

-Sabia que esse dia chegaria, Eleanor -ele começou, a voz rouca e carregada de uma sinceridade incomum. -Sim, eu sabia. Desde o começo, eu estava ciente dos negócios de Henry, e muito mais do que isso. Eu fui seu aliado, mas não com orgulho. O que Henry fazia... o tráfico... era algo que ele começou antes mesmo de me conhecer. Quando entrei, já estava profundamente envolvido, e a única maneira de lidar com a situação era por dentro.

Eleanor deu um passo para trás, o rosto pálido.

-Então, você é tão culpado quanto ele. Você também estava negociando vidas...

Alistair balançou a cabeça rapidamente, interrompendo-a.

-Não, Eleanor. Eu nunca compactuei diretamente com isso. Não me entenda mal, havia coisas que precisei fazer, e que me pesam até hoje. Mas o que Henry escondia... eu tentei me afastar, tentei controlar os aspectos mais sujos de seus negócios. No entanto, Henry era muito mais perigoso do que aparentava. Ele tinha contatos, alianças... forças que nem mesmo eu poderia enfrentar de frente. A morte dele pode ter me libertado de suas correntes, mas não do fardo que carrego.

Eleanor sentiu uma onda de confusão e raiva misturadas em seu peito. Ela queria gritar, acusá-lo, mas ao mesmo tempo, algo na voz de Alistair parecia verdadeiro. Havia sinceridade em seu olhar, uma vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer. Mesmo assim, ela não podia deixar de sentir-se traída.

-E por que eu deveria acreditar em você?
-Eleanor sussurrou, os olhos fixos nos dele, desafiando-o a mentir.

-Não estou pedindo que acredite -respondeu Alistair, aproximando-se mais, até que o calor de sua presença fosse quase palpável. - Estou apenas dizendo a verdade. Eu também sou culpado de muitos erros, mas nunca quis te enganar, Eleanor. Eu... -Ele hesitou, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. -Eu sempre admirei você. Mais do que isso, eu me vi cada vez mais atraído por você.

Eleanor sentiu o chão sumir sob seus pés com aquelas palavras. O que ele estava dizendo? O desejo nos olhos de Alistair era inconfundível, um brilho que ela reconhecia. Algo nela já sabia, mas ouvir aquilo dito em voz alta a fez perder o fôlego.

-Alistair... -sussurrou ela, o nome dele escapando de seus lábios sem que ela percebesse.

-Não deveria dizer isso - continuou ele, a voz agora mais baixa, quase um murmúrio. -Eu tentei resistir, tentei me lembrar de quem eu sou e do que é certo. Mas a verdade é que, desde que Henry morreu, desde que comecei a passar mais tempo com você, não consigo mais controlar o que sinto. Esse desejo... essa vontade... -Ele parou, os olhos percorrendo o rosto dela. -Eu te quero, Eleanor. Mais do que deveria. Mais do que é permitido.

Eleanor sentiu uma mistura de choque e uma corrente de excitação que ela não conseguia negar. A confissão de Alistair, embora repentina, despertava algo dentro dela. Algo que ela também tentava suprimir, mas que crescia a cada encontro entre eles.

-E o que faremos com isso? perguntou ela, a voz tremendo levemente.

Alistair se aproximou mais, e quando seus dedos roçaram a mão dela, um arrepio percorreu seu corpo. O desejo entre os dois era como uma chama silenciosa, queimando sob a superfície, prestes a se descontrolar.

Eleanor, no entanto, recuou um pouco. A tensão no ar entre eles era palpável, mas a necessidade de respostas pesava mais.

-Alistair, antes de qualquer coisa... - Ela respirou fundo, tentando controlar os próprios sentimentos. -Por que Henry fazia isso? O tráfico... por quê? Qual era o verdadeiro propósito disso tudo?

Alistair ficou em silêncio por um momento. Seus olhos se desviaram, como se estivesse pesando as consequências de sua próxima revelação. Quando ele voltou a olhar para Eleanor, sua expressão era sombria, como se estivesse prestes a confessar o segredo mais abominável.

-Não era só pelo dinheiro... -começou ele, a voz baixa e rouca. Henry estava envolvido com algo muito mais cruel. Ele não negociava apenas as vidas dessas pessoas. Eles eram levados... para terem seus órgãos vendidos.

Eleanor sentiu o chão sumir sob seus pés. A náusea subiu por sua garganta, o choque a dominando por completo. Órgãos... A palavra ecoava em sua mente como uma sentença.

-Orgãos? -Ela sussurrou, incrédula. -Como... como ele pôde?

Alistair a encarou com uma dor silenciosa no olhar.

-Era um império de horror, Eleanor. Henry se envolveu com organizações poderosas que compravam e vendiam órgãos humanos. Pessoas eram sequestradas, traficadas, e depois... desmembradas, como se fossem mercadorias. O dinheiro que ele acumulou não era apenas fruto de negócios escusos, mas de uma crueldade inimaginável.

Eleanor recuou, cobrindo a boca com a mão enquanto tentava processar o horror que acabara de ouvir. Ela já sabia que os segredos de Henry eram sombrios, mas nunca poderia imaginar algo tão monstruoso.

-Meu Deus... -sussurrou ela, quase sem forças. -E você sabia de tudo isso?

-Sim -Alistair respondeu com um pesar profundo. -Eu descobri, e tentei ao máximo me afastar. Mas Henry me mantinha preso em suas redes, me ameaçava, controlava tudo. Eu não tinha como escapar, Eleanor. Até que ele morreu.

Eleanor ficou em silêncio por um momento, os olhos marejados de raiva e tristeza. Então, finalmente, ela olhou para Alistair, a voz firme, porém trêmula.

-E agora? -ela perguntou. -O que fazemos com essa verdade?

Alistair, apesar da culpa e do fardo que carregava, aproximou-se mais uma vez, e dessa vez, suas palavras carregavam um tom definitivo.

-Nós expomos a verdade, custe o que custar. Mas primeiro... -Seus olhos encontraram os dela com uma intensidade feroz. -Eu preciso que você saiba, Eleanor, que meu desejo por você não é parte desse mundo sujo. É algo real. Algo que cresce a cada dia. E eu não posso mais negar isso.

O coração de Eleanor batia acelerado, perdida entre a verdade horrível que havia descoberto e o desejo irresistível que começava a queimar entre eles. Ela sabia que suas vidas estavam à beira de um precipício, mas naquele momento, as linhas entre o perigo e o desejo nunca pareceram tão tênues.

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⏰ Última atualização: Sep 30 ⏰

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