Sombras do Passado

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O dia seguinte amanheceu sombrio, com as nuvens cinzentas pairando sobre Londres como um presságio de tempos difíceis. A Mansão Whitmore, envolta em neblina, parecia um castelo assombrado pelos segredos que ela sabia estarem escondidos em cada parede. Lady Eleanor se levantou cedo, mas a noite mal dormida deixara marcas sob seus olhos, que refletiam a inquietação causada pela visita de Sir Alistair.

Enquanto o café da manhã era servido no salão, Eleanor sentia o peso das palavras de Alistair ecoando em sua mente. "Sua segurança depende de saber com quem está lidando." A ameaça velada não lhe saía da cabeça, mas havia uma frieza nas palavras dele que a deixava ainda mais desconfiada. Quem era Alistair de fato? E até que ponto estava envolvido nos negócios obscuros de Henry?

Antes que pudesse aprofundar seus pensamentos, o som de passos suaves no corredor anunciou a chegada de Lady Beatrice Pennington. A bela socialite entrou no salão com um sorriso luminoso, que imediatamente dissipou parte da tensão que envolvia Eleanor.

— Eleanor, minha querida! — exclamou Beatrice, aproximando-se para um beijo no rosto. — Você parece tão abatida. Está tudo bem?

Eleanor sorriu, forçando uma leveza que não sentia.

— Está tudo bem, Beatrice. Apenas uma noite mal dormida.

Beatrice estudou o rosto da amiga por um momento, percebendo a inquietação nos olhos dela.

— Isso tem a ver com a visita que recebeu ontem? — perguntou, com um toque de curiosidade na voz. — Oliver me disse que Sir Alistair Rutherford esteve aqui.

Eleanor hesitou. Beatrice era sua confidente mais próxima, mas algo a impediu de revelar tudo o que havia ocorrido na noite anterior. Talvez fosse a natureza enigmática de Alistair ou o fato de que, em algum nível, ela ainda tentava entender suas próprias reações à presença dele.

— Ele veio discutir alguns dos negócios de Henry — disse Eleanor, mantendo a resposta vaga. — Há muitas coisas que ainda preciso entender.

Beatrice assentiu, mas sua expressão indicava que não estava completamente satisfeita com a resposta.

— Conheço Alistair há algum tempo — comentou ela, casualmente. — Ele é um homem complexo, Eleanor. Muito mais do que aparenta.

Eleanor ergueu uma sobrancelha, surpresa pela afirmação.

— O que você sabe sobre ele?

Beatrice deu de ombros, o sorriso se tornando um pouco mais contido.

— O suficiente para saber que ele sempre consegue o que quer. E que ninguém deve subestimá-lo.

Eleanor sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras de Beatrice eram tanto um aviso quanto uma observação, reforçando a sensação de que Alistair era um homem perigoso. Mas havia algo mais nas palavras de Beatrice — uma sombra de algo não dito, um tom de familiaridade que Eleanor não havia notado antes.

— Parece que você conhece Alistair melhor do que eu imaginava — comentou Eleanor, tentando sondar a amiga.

Beatrice riu suavemente, afastando a sugestão com um gesto de mão.

— Londres é um lugar pequeno, querida. E os círculos sociais, ainda menores. Mas se precisar de ajuda com qualquer coisa relacionada a ele, estou aqui para você.

Eleanor agradeceu com um aceno de cabeça, mas as palavras de Beatrice ecoaram em sua mente. Algo estava acontecendo — algo além do que ela podia ver ou entender naquele momento. E isso a deixava inquieta.

Antes que pudesse questionar Beatrice mais a fundo, Oliver entrou na sala novamente, interrompendo a conversa.

— Lady Eleanor, há um mensageiro à porta. Ele traz uma carta urgente para a senhora.

Eleanor franziu o cenho. Cartas urgentes eram raras, especialmente tão cedo pela manhã. Ela fez um sinal para que Oliver trouxesse a carta até ela, e quando a abriu, encontrou um pergaminho escrito em uma caligrafia que não reconheceu imediatamente.

Enquanto seus olhos percorriam as palavras, seu coração começou a bater mais rápido. A carta não tinha remetente, mas o conteúdo era claro. Tratava-se de uma advertência — ou talvez uma ameaça. "Cuide-se, Lady Eleanor. Há forças em movimento que você ainda não compreende."

Eleanor fechou a carta com mãos trêmulas, sua mente agora em turbilhão. Quem teria enviado aquela mensagem? E por que ela estava sendo avisada? Era Sir Alistair? Ou havia outros envolvidos nos segredos sombrios que Henry deixara para trás?

Beatrice, notando a expressão tensa de Eleanor, inclinou-se ligeiramente para frente.

— Eleanor, o que foi? O que diz essa carta?

Eleanor respirou fundo, tentando esconder o medo crescente que sentia.

— Nada importante — mentiu. — Apenas mais um assunto relacionado aos negócios de Henry.

Beatrice a observou com olhos penetrantes, mas não pressionou. Eleanor sabia que sua amiga era perspicaz e que as respostas evasivas não a enganariam por muito tempo. No entanto, até que entendesse melhor o que estava acontecendo, ela precisava manter seus pensamentos em ordem.

Mas, enquanto olhava para fora, para o jardim envolto em névoa, uma coisa era certa: sua vida estava prestes a mudar, e as sombras do passado de Henry começavam a alcançá-la.

O Mistério WhitmoreOnde histórias criam vida. Descubra agora