Império de Comércio Proibido

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A noite estava fria, e a escuridão ao redor da Mansão Whitmore parecia envolver tudo em um manto pesado de mistério. Eleanor caminhava pelos corredores silenciosos, seus passos suaves ecoando nas paredes. Desde a morte de Henry, o ambiente ali parecia mais opressivo. Como se cada cômodo guardasse segredos sombrios que espreitavam nas sombras, esperando para serem descobertos.

Naquela noite, algo a impelia a agir. Eleanor sabia que não encontraria paz até entender completamente o que Henry havia escondido. Os olhares fugidios, as reuniões misteriosas, as cartas que ele guardava com tanto zelo. Tudo isso agora parecia ter um novo significado, mais escuro e perigoso do que ela jamais havia imaginado.

Ela entrou no escritório de Henry, um lugar que havia evitado desde sua morte. O ambiente estava impregnado com o cheiro de couro envelhecido e madeira antiga. A luz da lua entrava pelas grandes janelas, iluminando os contornos dos móveis luxuosos e dos papéis que ainda estavam sobre a mesa. O ar ali parecia denso, carregado de memórias não ditas e de uma presença que ainda parecia pairar.

Eleanor respirou fundo e se aproximou da mesa. Seus dedos tocaram suavemente os papéis, a madeira fria, e seu olhar vagou pelo ambiente. Henry sempre havia sido cauteloso, meticuloso, especialmente com suas correspondências. Se havia algo que ele queria esconder, com certeza estaria ali, em algum lugar.

Ela começou a abrir gavetas, uma por uma, movendo papéis de contas, relatórios de negócios, documentos inofensivos. Mas seu instinto lhe dizia que havia algo mais profundo. Algo que Henry havia escondido com extremo cuidado. Foi então que seus olhos pousaram em uma pequena chave prateada, quase oculta sob uma pilha de cartas.

Com a chave nas mãos, ela olhou ao redor, procurando o que poderia abrir. Seus olhos se fixaram em uma estante de livros no canto do escritório. Aproximando-se, começou a passar a mão pelas lombadas dos livros, até sentir uma leve diferença em um deles. Era mais solto do que os outros. Ao puxá-lo, a estante se moveu ligeiramente, revelando uma pequena porta oculta.

Dentro, havia uma única caixa, de madeira escura e aparência antiga. Eleanor sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao segurar a caixa. Algo dentro dela lhe dizia que o conteúdo mudaria tudo o que ela pensava saber sobre Henry. Com mãos trêmulas, usou a chave para abrir o cadeado.

Ao levantar a tampa, Eleanor se deparou com vários documentos e cartas. No topo, uma fotografia antiga de Henry, muito mais jovem, ao lado de homens desconhecidos. O que mais lhe chamou a atenção foi o local onde a foto havia sido tirada. Era um porto, com navios ao fundo e o que parecia ser uma fila de pessoas – não, não pessoas livres. Havia correntes em seus pulsos, e o desespero em seus olhos era inconfundível.

Eleanor sentiu seu coração acelerar. Tremendo, ela continuou a vasculhar a caixa. Encontrou cartas escritas em códigos que ela não conseguia decifrar, contratos obscuros que pareciam indicar transações de “mercadorias” que não eram especificadas. Aos poucos, a verdade se revelava diante dela: Henry não estava envolvido apenas em negócios respeitáveis de importação e exportação. Ele estava envolvido no tráfico humano.

A realidade daquilo a atingiu com força, tirando seu fôlego. O homem com quem ela havia se casado, que ela pensava conhecer, era cúmplice de algo inominável. As longas viagens, os encontros misteriosos, tudo fazia sentido agora. Henry havia construído sua fortuna não apenas com o comércio legítimo, mas explorando vidas humanas, negociando pessoas como se fossem mercadorias.

Sentindo uma náusea subir, Eleanor fechou os olhos, tentando processar o que havia descoberto. Ela sempre soubera que Henry guardava segredos, mas jamais poderia imaginar que fosse algo tão terrível. Por que ele nunca contou? E o que mais havia por trás dessas transações?

Ela continuou a vasculhar os documentos, em busca de respostas. Encontrou mais nomes, mais datas, mais provas irrefutáveis de que Henry estava profundamente envolvido em uma rede de tráfico de seres humanos. Cada página lida era mais devastadora que a anterior.

Eleanor sabia que agora estava em território perigoso. Henry havia se envolvido em algo obscuro e cruel, e ela, como sua viúva, agora se via no meio de uma teia de segredos que podiam lhe custar a vida. Aquilo não era apenas sobre negócios — era sobre poder, dinheiro sujo e controle de vidas humanas. E muitos daqueles que ainda circulavam ao seu redor provavelmente estavam cientes ou até mesmo envolvidos.

Ao sair do escritório naquela noite, Eleanor não era mais a mesma. A mansão Whitmore, antes uma prisão de solidão, agora se tornava um campo de batalha. E ela, Lady Eleanor Whitmore, estaria pronta para lutar — não só por sua própria segurança, mas pelas vidas que Henry e seus cúmplices haviam destruído.

O Mistério WhitmoreOnde histórias criam vida. Descubra agora