1. Rotina

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Jinbao estava mergulhado em sua rotina habitual no escritório da revista, um espaço onde a agitação parecia sempre distante da realidade de seu trabalho. Embora sua posição como fotógrafo o colocasse na vanguarda da cobertura dos temas mais relevantes do universo da saúde na China, a realidade de seu dia a dia era bem diferente. A maior parte do tempo, ele estava confinado atrás de uma mesa, analisando e catalogando notícias, enquanto as verdadeiras oportunidades de trabalho de campo – as que lhe permitiriam exercer a profissão para a qual realmente fora contratado – pareciam sempre escapar-lhe das mãos. Fotografar hospitais, procedimentos médicos ou figuras de destaque da área muitas vezes significava ser apenas um "substituto de última hora". Era como se, para a editora-chefe, sempre houvesse alguém mais qualificado ou mais adequado para essas tarefas prioritárias. E esse alguém, na maioria das vezes era SuYin.

Naquela manhã, enquanto passava pelos e-mails em busca de qualquer nova pauta que pudesse preencher a revista, um alerta de nova mensagem chamou sua atenção. Era da editora-chefe. Jinbao sentiu um frio na espinha ao abrir o e-mail, seus olhos voando sobre as palavras em busca do cerne da mensagem. O texto não deixava margem para dúvidas: “Jinbao, conseguimos uma exceção rara na agenda do Doutor Que Siming. Como você é o único disponível, preciso que esteja no escritório dele às 16:45 com uma equipe de maquiagem básica e iluminação. Não estrague tudo. Sabe há quanto tempo estamos esperando um espaço na agenda desse médico. Boa sorte.”

O impacto da notícia foi instantâneo e avassalador. Jinbao teve que se apoiar na mesa para evitar desabar. Doutor Que Siming, a lenda viva da medicina, era um nome associado a avanços revolucionários e a um prestígio quase místico. Suas contribuições e seu trabalho inovador haviam sido objeto de admiração e homenagens por todo o mundo. Agora, a possibilidade de capturar a essência desse gigante da medicina parecia surreal. O pensamento de estar tão próximo de alguém tão icônico e enigmático provocou uma mistura intensa de euforia e nervosismo em Jinbao. As palavras frias da editora-chefe passaram quase despercebidas, substituídas pela reverência que ele sentia por Que Siming.

Jinbao recordou as histórias que ouvira sobre o doutor: um médico cuja habilidade clínica parecia quase sobrenatural e cuja presença emanava um poder misterioso. A ideia de capturar essa complexidade em uma série de fotos fez seu coração acelerar. Ele sabia que essa seria a maior oportunidade de sua carreira, mas também a mais desafiadora. A responsabilidade de não apenas cumprir o trabalho, mas de fazer justiça à profundidade e ao magnetismo que ele acreditava que Que Siming possuía, era imensa. Embora sempre houvesse admirado o homem conhecido como “Doutor Divino”, nunca teve a chance de vê-lo ao vivo… assim acreditava. 

Com as mãos tremendo ligeiramente, Jinbao começou a se preparar para a sessão de fotos. Cada detalhe precisava ser meticulosamente planejado: desde a iluminação até os ângulos e as poses. Sua mente estava cheia de estratégias para capturar a singularidade do doutor e revelar algo além da superfície de sua figura imponente. O medo da inadequação misturava-se com a empolgação de estar prestes a trabalhar com um ícone. A preparação tornou-se uma obsessão; Jinbao sabia que precisava estar no seu melhor, tanto técnica quanto emocionalmente, para fazer jus à importância do trabalho.

O nó no estômago que sentia era acompanhado por uma adrenalina fervilhante, uma força impulsionadora que o motivava a avançar. O encontro com o Doutor Que Siming estava prestes a acontecer, e Jinbao sentia que essa poderia ser a chance definitiva de provar que não era apenas um mero fotógrafo “quebra galho”, mas alguém capaz de capturar a verdadeira essência da lenda viva da medicina.

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