9. Passado

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— Essa pulseira — Que Siming começou, olhando para o objeto em seu pulso — foi você quem me deu quando éramos adolescentes. Lembro-me bem. Nos conhecemos pouco antes do acidente, em uma festa do ensino médio que aconteceu um mês antes do que mudou nossas vidas. Nos tornamos próximos em pouco tempo.

— Nós éramos próximos quanto? — Jinbao perguntou, a curiosidade e a ansiedade em sua voz.

Que Siming sorriu ao relembrar. — Você me pediu em namoro dois dias depois da festa. Eu recusei, porque você era tão apressado! Mas no dia seguinte, estávamos juntos de novo, e depois de uma noite especial, você me pediu em namoro de novo. Dessa vez, não consegui recusar. Começamos a namorar, e aquele foi o melhor mês da minha vida.

Os olhos de Que Siming brilharam ao recordar cada momento daquela época. Ele lembrava da festa, da música alta e das luzes piscantes, mas, principalmente, da forma como Jinbao havia iluminado a festa. O jeito que seu coração acelerou quando Jinbao se aproximou, nervoso, mas determinado. Era um garoto tão apaixonado, tão cheio de esperança. A maneira como seu olhar se fixou no dele, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.

— Eu me lembro de você segurando minha mão, os dedos trêmulos e os lábios curvados em um sorriso tímido — continuou Que Siming, sua voz suave, quase como uma melodia. — Você me fez sentir algo que eu nunca tinha sentido antes. Era como se a vida tivesse se tornado mais colorida, mais vibrante. Lembro-me daquelas tardes, só nós dois, conversando sobre nossos sonhos, nossas inseguranças. Você era tão sonhador.

A expressão de Jinbao mudou, um misto de nostalgia e tristeza. Que Siming olhou para a pulseira em seu pulso, tocando-a suavemente. — Nós não podíamos usar alianças de compromisso, por causa do meu pai, que era conservador demais. Ele teria me deserdado se soubesse que eu estava com um homem. Mas um dia você apareceu com essas pulseiras que você mesmo fez, para simbolizar a nossa união e amor.

Jinbao, tocando sua própria pulseira, sentiu uma lágrima escorregar pelo seu rosto. Indignado consigo mesmo por não se lembrar de Que Siming, ele balançou a cabeça, confuso e triste. — Por que não consigo me lembrar de nada disso?

Que Siming, percebendo a angústia no olhar de Jinbao, se aproximou. Ele se moveu lentamente, como se cada passo fosse um gesto de carinho e proteção. Parou na frente de Jinbao, voltando a se sentar ao lado dele. Então, levantou a mão e tocou suavemente o rosto de Jinbao, seus dedos quentes acariciando a pele do garoto, limpando a lágrima que escorria.

— Jinbao — disse Que Siming, sua voz baixa e cheia de compaixão — certamente foi o acidente que mexeu com parte da sua memória. O que nós tivemos foi tão intenso, tão especial, que a sua mente pode ter tentado se proteger, se preservar usar isso para tentar apagar o trauma, mas ao fazer isso as memórias acabaram se perdendo. Quando se enfrenta um trauma imenso, é como se a mente apagasse as memórias que mais doem e tenta usar as boas para melhorar, mas no processo ambas se chocam e podem adormecer. A mente usa tudo que tinha de bom ao seu redor no momento da dor, e nos conhecemos muito perto do acidente.

Jinbao sentiu um turbilhão de emoções ao ouvir isso. Ele podia ver a sinceridade nos olhos de Que Siming, que estavam cheios de compreensão e uma tristeza que parecia refletir a sua própria. — É como se eu estivesse vivendo em um pesadelo, tentando acordar, mas não consigo — Jinbao murmurou, a voz trêmula. — Agora que sei, eu quero lembrar, quero que tudo volte. Se um dia consegui ser tão... feliz, como diz. Eu queria ter essa sensação de novo, queria sentir isso outra vez, eu queria... conseguir sentir.

Que Siming inclinou-se um pouco mais perto, como se quisesse absorver cada palavra, cada sentimento que emanava de Jinbao. — Você sente — Disse Que Siming sorrindo e logo ele perguntou. — Lembra quando você disse sobre o meu trabalho? A admiração inexplicável?

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