8. Desabafo

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Jinbao aguardava na recepção do consultório de Que Siming, a ansiedade pulsando em seu peito. — Ele não deve demorar — disse Mei, tentando confortá-lo. — O doutor sempre volta logo das consultas no hospital logo ele estará aqui.

Jinbao apenas assentiu, perdido em seus pensamentos.

Já era meio da tarde quando Que Siming retornou. Ao vê-lo, o médico ficou curioso para saber o porque o jovem estava ali. Mei, ao passar a agenda do restante da tarde, explicou rapidamente o que tinha presenciado.

— Ah, então você trouxe o Jinbao para cá? — Que Siming disse, um brilho curioso nos olhos. — O que ele está fazendo aqui? — A secretária explicou em um tom discreto, e Jinbao sentiu o olhar do médico sobre si.

— Eu trouxe o Jinbao porque pensei que você poderia ajudá-lo — a secretária disse, fazendo um gesto para Jinbao. — Mas se não, posso levá-lo para casa.

Que Siming olhou para sua agenda e notou que um dos pacientes já estava à espera. Com um tom brincalhão, virou-se para Jinbao. — Agora que você tem todo o tempo livre, você não se incomodaria em esperar um pouco mais, não é?

Jinbao sentiu uma faísca de irritação pelo tom provocativo e irônico que ele usou. — Esperei a manhã toda! Se você demorar mais um minuto, eu mordo você!

O médico riu, divertido com a reação exagerada de Jinbao. — Pois então, você vai continuar esperando.

Com isso, Que Siming chamou o paciente que estava à sua espera e Jinbao cruzou os braços, projetando um bico enorme. Ele não sabia por que estava ali, e a frustração apenas aumentava, desde que conheceu Que Siming, o objeto de seu fascínio na medicina, tudo desandou na sua vida e rápido. Por que tinha aceitado vir? Talvez quisesse xingar Que Siming, talvez porque não tivesse nada melhor a fazer, ou porque não queria voltar para o apartamento que dividia com sua ex-namorada. Na verdade, pensando melhor, o apartamento era dela, e ele não tinha para onde ir.

O tempo passou, e enquanto esperava, Jinbao começou a refletir sobre suas opções. A vida parecia um emaranhado de dificuldades, e a presença de Que Siming apenas complicava ainda mais. Ele sentia uma mistura de emoções: admiração, raiva e uma necessidade quase desesperada de entender o que estava acontecendo entre eles, era nítido que algo estava acontecendo para que o destino o prendesse ao homem de tal forma. Será que ficou em dívida com Que Siming em outra vida e agora o destino se encarregou de prendê-lo aquele médico?

Finalmente, um tempo depois Que Siming saiu de sua sala, dirigindo-se a Jinbao depois que o paciente foi embora. — Pronto para conversar agora?

Jinbao apenas suspirou e ignorou a mão estendida do médico, se levantou e a raiva deu lugar a uma sensação de vulnerabilidade. — Sim, vamos conversar.

E assim, os dois se dirigiram para a sala, mas antes de entrar na mesma Que disse para mei. — Remarque as próximas que puderem ser remarcadas, se alguma for algum caso grave me avise.

— Então, o que está acontecendo? — Que Siming perguntou depois que fechou a porta e foi até Jinbao que escolheu ignorar a mesa e a cadeira que havia ali e folgadamente optou por se sentar em outro lugar, em um sofá que havia em outro ponto do consultorio, proximo a janela que assim como o apartamento do médico, tinha uma boa vista da cidade que começava a ser tomada pelo tom laranja do final da tarde.

Jinbao hesitou por um momento, mas o olhar atento de Que Siming fez com que as palavras começassem a fluir naturalmente e como se estivesse se livrando de um peso ele despejou tudo de uma vez não se contendo mais em segurar tudo aquilo para si. — É tudo tão confuso... No trabalho, tudo desabou. As fotos que tirei foram... — ele começou, sua voz embargada. — O crédito pelas imagens foi para SuYin, que... que se não bastasse roubar o meu trabalho ainda ... ele... ele está com a minha agora ex-namorada. E, bem, acho que é, pra mim é, a verdade é que eu não consegui lidar com isso. Quando você me viu saindo de casa, eu estava fugindo de tudo isso ontem. E hoje... perdi o emprego... ahh. — Jinbao se agitou de forma um tanto comica pelo seu nervosismo, mas Que Siming não viu motivos parar rir de nada disso, o que ele fez foi se sentar ao lado do garoto e o abraçou. Jinbao por sua vez, segurou desajeitadamente os braços do médico e repousou a cabeça no ombro dele agradecendo internamente pelo abraço.

— Sinto muito, Jinbao. Eu não poderia fazer nada quanto ao fato de sua namorada ser uma... — Que Siming pensou e se calou mas prosseguiu mudando de assunto. — Não deveria ter movido aquele processo sem te alertar, só queria que fosse rápido para que você não fosse prejudicado. Eu notei o erro quando sua chefe mandou a edição online da revista para mim, solicitando a aprovação da distribuição do material. — ele murmurou.

O garoto apenas assentiu e logo segurou o pulso do médico e sentiu o objeto de couro no pulso dele, o que o fez se soltar parcialmente do abraço ao levantar essa mão de Que Siming e observar a pulseira igual a sua no pulso dele e deslizou a ponta do indicador pela mesma enquanto disse, pensativo. — Não é culpa sua, ela nunca gostou de mim. Eu só estava na equipe porque foi exigência do diretor antigo, quando ele passou a revista pra ela, me manter na equipe era meio que uma exigência para ela assumir o cargo, ele era como um segundo pai para mim. Mas um dia a esposa dele piorou da saúde delicada dela e ele precisou vender a revista e foi embora, ela assumiu e o inferno começou.

Jinbao suspirou e concluiu. — Sabe, queria que meu pai estivesse por aqui. Talvez tanta coisa seria diferente... mas... ele partiu.

— No acidente? — perguntou Que Siming sério e Jinbao ia responder, mas logo se deu conta de um detalhe: como ele sabia do acidente?

Jinbao sentiu um frio na barriga, confuso. — Como você sabe disso? — perguntou, sua voz um sussurro de incredulidade. O médico apenas o observou. A pergunta de Que Siming pairou no ar, despertando uma curiosidade que Jinbao não conseguia ignorar, Que Siming sabia de algo que Jinbao nunca havia contado para ninguém, o acidente em que seu pai faleceu, era doloroso falar disso, ele inclusive acredita que foi tão traumatizante que não tinha sequer lembrança dos detalhes disso, só sabia que ocorreu por causa do que as pessoas haviam dito e por causa do que ele leu em matérias que saíram sobre o fatídico dia. Percebendo que não teve uma resposta imediata, Jinbao repetiu a pergunta virando sua mão e segurando a do médico. — Como sabe disso, Doutor? 

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