A hora marcada chegou rapidamente e, com o coração acelerado e o estômago revirado, Jinbao e sua pequena equipe chegaram ao elegante edifício onde o Doutor Que Siming atendia. O lobby, com seu piso de mármore polido e decoração minimalista, refletia a mesma sofisticação que Jinbao imaginava para o doutor. O ambiente era silencioso e reverente, como se o próprio espaço fosse um prelúdio para o encontro que estava prestes a ocorrer.
À medida que se dirigiam para o andar onde o consultório do doutor estava localizado, Jinbao tentava não pensar no quanto a sua presença naquele lugar parecia um imenso contraste com a sua ansiedade. Ele sabia que a primeira impressão poderia ser decisiva e que a imagem que ele capturaria influenciaria sua carreira, tornando este um dos trabalhos mais desafiadores que já enfrentou.
Quando chegaram à porta do escritório do Doutor Que Siming, a equipe fez uma última verificação dos equipamentos: luzes, câmeras e maquiagem. Jinbao respirou fundo, bateu na porta, conforme orientado pela recepcionista, e esperou. O som do toque parecia ecoar com um peso extra, aumentando sua tensão.
A porta se abriu lentamente, e uma assistente do doutor os cumprimentou com um sorriso cordial, apresentando-se como Mei. Mas com uma formalidade que parecia impessoal. Ela conduziu a equipe até uma sala anexa ao consultório principal, onde aguardariam até que o doutor estivesse pronto para recebê-los.
Finalmente, a assistente fez um gesto para que entrassem. Jinbao sentiu um frio na espinha ao cruzar a porta do escritório do Doutor Que Siming. O ambiente era igualmente refinado, com móveis escuros, uma mesa de trabalho impecavelmente organizada e vários diplomas e certificados emoldurados nas paredes. No centro do escritório, como uma estátua de um antigo imperador, estava o Doutor Que Siming.
O doutor estava de pé, vestido com um elegante terno escuro, e seu cabelo longo e liso estava preso em um coque impecável. Seu olhar penetrante, fixo em um ponto à distância, parecia tão poderoso e absoluto que fez com que Jinbao se sentisse, por um momento, como se estivesse na presença de uma entidade quase divina.
Que Siming se virou lentamente para encarar Jinbao e sua equipe. O olhar do doutor era, ao mesmo tempo, inquisitivo e distante, e Jinbao sentiu a expectativa sobre seus ombros. Tentou controlar seu nervosismo, mas suas mãos ainda tremiam ligeiramente enquanto ajustava a câmera.
- Doutor Que, é um prazer conhecê-lo. Sou Jinbao, e esta é a equipe de suporte. Viemos captar as imagens para a matéria. Estamos prontos para começar a sessão quando o senhor desejar.
Que Siming apenas acenou com a cabeça, um gesto breve e calculado. Sua voz, quando falou, era profunda e imperturbável, com um tom que parecia carregar uma camada adicional de autoridade.
- Vamos iniciar. Tenho pouco tempo, então peço que seja eficiente e rápido.
Jinbao assentiu rapidamente, tentando ocultar sua ansiedade. A equipe preparou o equipamento e ajustou a iluminação enquanto o doutor se posicionava de maneira a exalar uma naturalidade imponente em um local que ele mesmo escolhera. Entre suas exigências, havia a de que não queria aparecer em um fundo branco e sem graça como seus colegas costumavam aparecer nas matérias.
Jinbao ajustou as configurações da câmera e, ao identificar o local escolhido pelo doutor, começou a formar em sua mente um ensaio completo. Com isso em mente, direcionou sua equipe para iniciar a maquiagem, que o doutor dispensou imediatamente, recusando-se a ser tocado por um desconhecido, deixando essa parte com Mei. Jinbao se desculpou, afinal não sabia que, assim como mencionado pelo doutor, essa era outra de suas exigências, a editora chefe não havia as mencionado a ele.
Com tudo pronto, Jinbao começou a fotografar, tentando capturar a essência do doutor enquanto ele se movia com uma graça quase sobre-humana nas poses indicadas pelo jovem fotógrafo. O olhar penetrante de Que Siming era um desafio e uma oportunidade. Jinbao buscava, a cada clique, revelar não apenas a aparência física do médico, mas algo mais profundo, que pudesse transmitir a aura quase sobrenatural que sentia emanando do homem à sua frente.
À medida que a sessão avançava, Jinbao notou que o Doutor Que Siming parecia começar a se soltar, ainda que minimamente. Havia uma sutileza nas mudanças de expressão do doutor, um vislumbre de um lado mais humano que fazia o coração de Jinbao acelerar ainda mais por estar na presença de alguém que, em sua carreira, salvou tantas vidas. Cada ajuste de pose e cada novo olhar pareciam comunicar uma narrativa complexa e intrigante, e Jinbao estava determinado a capturar essa narrativa da melhor maneira possível.
Que Siming observava com um olhar crítico, mas não sem um traço de curiosidade. O doutor estava atento às ações de Jinbao, e, embora não demonstrasse diretamente, havia uma sensação de que estava avaliando o fotógrafo tanto quanto Jinbao o avaliava. Apesar de poucas fotos serem utilizadas para a matéria, a editora-chefe havia negociado com Que Siming um número extra de fotos para que ele mesmo pudesse escolher as imagens para a matéria. No entanto, a sessão foi interrompida quando a secretária do doutor fez um sinal para ele, chamando-o. Jinbao aproveitou esse momento de pausa para revisar as imagens enquanto sua equipe ajustava a iluminação dos equipamentos. Mas, para o infortúnio da equipe, Que Siming retornou e, desculpando-se, informou:
- Peço desculpas, mas surgiu um caso urgente que preciso resolver. Se precisar de outras fotos, podemos marcar outro dia. Vou pedir para a minha secretária contatar a editora e...
- Não se preocupe com isso, Doutor. Conseguimos o suficiente. Não será necessário tomar mais o seu tempo. Eu mandarei o álbum por e-mail para que possa escolher as imagens como combinou com a minha chefe. Vá salvar vidas, Doutor. - Disse Jinbao, sorridente, ao olhar para o médico que parecia tentar enxergar no fundo da alma dele, o que deixou Jinbao um tanto tímido.
Quando Que Siming se dirigiu para cumprimentar Jinbao, o único da equipe que permitiu-se tocar com um aperto de mão firme, o olhar do doutor caiu sobre a pequena pulseira de couro que Jinbao usava no pulso direito. Para Jinbao, era um amuleto pessoal que lhe trazia uma sensação de segurança e certa tranquilidade, sem que ele soubesse explicar exatamente o motivo. Era um objeto misterioso que ele usava regularmente, e quando esquecia de colocá-lo, sentia como se tudo fosse dar errado. Misterioso porque não se lembrava exatamente de quando a comprou.
Que Siming, ao notar a pulseira, mostrou uma breve expressão de surpresa antes de voltar a manter sua postura inabalável. O olhar do doutor se fixou por um instante na pulseira, como se tentasse identificar alguma coisa por trás do acessório. No entanto, o doutor não fez nenhum comentário e continuou com o cumprimento profissional, mantendo a compostura que sempre exibia. Porém ele parecia agora olhar no fundo dos olhos de Jinbao, como se procurasse algo.
- Agradeço por vir, Jinbao.
O jovem assentiu e rapidamente a equipe reuniu os equipamentos e deixou a sala do médico. Jinbao, sendo o último a sair, deu uma última olhada para trás, sem saber se um dia teria a chance de encontrar essa lenda novamente.
Quando a porta se fechou e a secretária acompanhou a equipe à saída, o escritório ficou silencioso novamente. Que Siming ficou sozinho com seus pensamentos. Caminhou até sua mesa de trabalho e abriu a gaveta superior, retirando de uma pequena caixa um objeto que parecia idêntico àquela pulseira que Jinbao usava. Um detalhe simples, mas que carregava um significado profundo para o doutor. Atordoado, Que Siming segurou a pulseira e murmurou para si mesmo:
- Não pode ser ele... tem o olhar dele mas... não pode ser. Pode?
O doutor observou a pulseira por um momento, um vislumbre de nostalgia cruzando seu rosto. A semelhança com a pulseira de Jinbao não era apenas uma coincidência; era uma lembrança de algo que havia deixado para trás em sua vida. Um leve sorriso surgiu em seus lábios sempre sérios enquanto ele guardava a pulseira no lugar. Havia uma conexão entre os dois objetos... não eram idênticos à toa. Não podia existir uma terceira pulseira... podia? Que Siming não podia ignorar, uma ligação sutil que despertara algo em sua memória. Com um suspiro profundo, o doutor se sentou à beira da mesa, seus pensamentos perdidos em lembranças que haviam sido reacendidas pela pequena pulseira. Mas, logo Mei retornou, trazendo-o de volta à realidade com novas tarefas a serem cumpridas.
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Asterion
FanfictionEm "Asterion", Jinbao, é um fotógrafo em busca de reconhecimento, é chamado para uma tarefa inesperada: substituir o renomado SuYin em uma sessão de fotos com o famoso médico Dr. Que Siming. Ao tentar capturar a imagem perfeita do médico, ele descob...