Contrasting encounters

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                    Rio de Janeiro, Brasil.

                   O fogo foi desligado. César pegou o bule e derramou a água quente na caneca onde havia um sachê de chá de camomila. Com todo o cuidado do mundo, como era de seu feitio, após despejar a água na caneca, ele sacudiu o sachê, para que o chá pudesse se misturar com a água e, enquanto esperava, foi também cortar o bolo de cenoura com chocolate que havia feito. Colocou um bom pedaço no prato e deixou tudo da forma mais arrumada que pode, antes de tirar o avental que estava usando. Naquele momento, ele sabia que precisava ser o mais cuidadoso possível, pois sua filha estava precisando. Quando a pegou no aeroporto naquela manhã, surpreendeu-se com o seu estado, pois Jade parecia frágil e transbordava uma tristeza enorme para quem havia ganhado uma medalha olímpica. Era uma coisa horrível, que fazia doer o seu coração de pai.

                    O chá levou quase cinco minutos para se misturar à água e ele acresceu quatro gostas do adoçante. Ao terminar, pegou a caneca, o prato e se retirou dali. Em seu sofá, Jade descansava, enquanto assistia – ou fingia assistir – um programa aleatório em sua tv. Os olhos dela ainda estavam inchados por causa do choro e das horas que não conseguiu dormir no avião, o cabelo estava um pouco molhado, as roupas folgadas – calça de moletom e uma regata branca – lhe deixavam mais à vontade. César adorava as visitas dela, mas não naquelas circunstâncias. Sua princesa estava muito machucada e aquilo lhe fazia ficar furioso.

– Um cházinho e um bolinho vão ajudar a minha princesa. – Foi o que disse, sentando-se ao lado dela. – Chá de camomila. Bolo de cenoura com chocolate. Você adora, não é?

– Muito obrigada, pai... Mas eu não sei se... – Jade tinha um tom desanimado em sua voz.

– Filha, não acredito que vá negar o bolo maravilhoso que apenas eu sei fazer. – César brincou, tentando animá-la um pouco. – Como pode consegue fazer isso depois de chegar de Paris?

– Eu estou muito mal, pai... Não consigo comer nada. – Ela respondeu, olhando para ele. – Só preciso de você nesse momento... – Estava com muita vontade de chorar novamente.

– Eu estou aqui. – César disse, colocando o que trouxe na mesa de centro. – Vem cá. – Recostou-se novamente, abrindo os braços.

                    Sentindo-se acolhida pelos braços do pai, Jade aninhou-se ao peito dele e começou a chorar novamente. Sabia que tinha total liberdade de fazer aquilo ali, pois era dele que precisava. César a abraçava de forma protetora, enquanto acariciava os seus cabelos e dava beijos carinhosos em sua cabeça. Tinha a plena certeza de que com o seu amor, conseguiria curar qualquer coisa e aplacar qualquer dor que ela estivesse sentindo naquele momento.

– Pode conversar comigo, filha. Estou aqui para te ouvir. O que aconteceu?

– Eu sou uma idiota, papai... Fiz uma coisa horrível... Estraguei tudo...

– Tenho certeza de que tudo se resolverá. – Como sempre, o pai era calmo, tranquilo. Queria ser forte o suficiente para consolar a filha.

– Eu acho que não. – Jade quase soluçava. Aquilo doía... Doía profundamente.

– Me conta o que aconteceu. – César pediu, carinhosamente.

                    Jade não tinha segredos com o pai. César era o seu melhor amigo, o seu melhor confidente e sabia que poderia confiar plenamente nele para o que quer que fosse. Sempre poderia esperar os melhores conselhos ou as mais sábias repreensões. Então, aninhada no peito dele, como se fosse aquela menina assustada e indefesa que precisava de colo, começou a explicar tudo o que tinha acontecido em Paris. Falou sobre Sunisa Lee – o nome ainda lhe fazia chorar – e sobre como tinha descoberto uma inesperada atração por ela; falou sobre o treino, onde as duas ficaram se provocando; até que a parte mais interessante veio: o primeiro envolvimento. Claro... Falava dos fatos de forma resumida, mas dos seus sentimentos, falava detalhadamente e até entrou na problemática da diferença de idade entre as duas. César ouvia tudo com calma e era como se pudesse prever cada palavra da filha em relação ao que sentia, pois a conhecia como ninguém e as coisas sempre se desenvolviam dessa maneira.

Podium and Fire - Kiss Me Like You Mean it.Onde histórias criam vida. Descubra agora