Podium and Fire - Kiss Me Like You Mean it.

Different lives

                    Ano de 2023. Rio de Janeiro, Brasil. 

                    Jade sempre começava sua manhã bem cedo, antes mesmo do sol nascer. Sua rotina era como um ritual e se repetia desde a sua adolescência - desde que não estivesse doente ou incapacitada -, pois, de acordo com o que lhe fora ensinado por seu pai, uma boa disciplina em casa significava sucesso profissional. Primeiro, arrumava sua cama, fazia uma sessão de vinte minutos de alongamento e no chão do quarto, fazia sua série de flexões. Eram cento e vinte ao todo. Ao terminá-las, o sol já iluminava o quarto, se sobrepondo à luz de seus abajures, os quais foram desligados imediatamente. 

                      Indo até o closet, pegou uma toalha limpa, escolheu a sua roupa para o treino e foi para o banho. Sempre tomava um banho gelado, o qual tinha a duração exata de sete minutos e meio. Após finalizá-lo e voltar para o quarto, vestiu-se com a roupa que escolheu - short esportivo preto e uma regata cinza-clara -, calçou seus tênis esportivos e mudou de cômodo, indo para a sua cozinha. O seu café da manhã era bastante variado com o passar dos dias e naquela manhã, decidiu preparar um belo combo de ovos, torradas e frutas com iogurte. Sua condição de atleta de alto rendimento lhe fazia comer mais do que a média e isso significava que, para começar o seu dia, precisava de pelo menos seis ovos e quatro pares de torradas para se sentir saciada. A fome lhe causava mau humor matinal. 

                      Enquanto comia, ela aproveitava para olhar o telefone e se situar sobre o que acontecia no mundo. Em sua conta sigilosa no Twitter, ficava antenada sobre o que se falava no Brasil, principalmente porque as Olimpíadas estavam chegando. Suas tags preferidas eram as políticas, pois era um assunto que lhe interessava muito e, particularmente, tinha um posicionamento político muito firme em favor de causas sociais e justiça social - o que lhe rendia embates com certos parentes -, pois em um país como o Brasil, o seu esporte e a visibilidade que cabia a ele depediam totalmente das políticas públicas. 

                      Terminando sua refeição, tirou a mesa e lavou a louça. Voltando para a sala, pegou os seus acessórios - relógio de pulso, o seu smart ring - seu moletom, sua mochila e a chave do carro. Odiava dirigir naquele trânsito caótico do Rio de Janeiro, mas não podia reclamar muito, pois morava longe do trabalho e precisava economizar tempo. Então, após entrar em seu veículo, uma SUV prateada, ligou o rádio, deixando em sua música favorita - Para Tu Amor, de Juanes - e pegou a estrada. 

                       Enquanto dirigia, Jade refletia na letra daquela música. A letra se tratava de uma declaração de amor muito bonita e um tanto profunda. "Por eso, yo te quiero porque tu dolor es mi dolor..." era a sua frase favorita da música. Resumia muito bem o que era o amor em sua concepção: um sentimento grande de cumplicidade onde cada um entendesse e acolhesse a dor do outro. Onde ambos pudessem viver a beleza da vida e os momentos mais felizes envolvidos em companheirismo. Aquela música e as outras conseguiram evitar que seu humor diminuísse por conta do trânsito. Até que, quase uma hora depois, chegou ao ginásio. 

                         Depois de ir até o vestiário e se preparar para começar o seu dia de treino, voltou ao ginásio onde encontrou uma figura familiar: Flávia Saraiva, uma de suas melhores amigas e sua protegida. 

– Bom dia, mestra! – A jovem ginasta veio em sua direção com um sorriso largo e um animado, como era de seu feitio. 

– Bom dia, minha Harry Potter. – Jade a abraçou forte, antes de dar-lhe um beijo no rosto. Aquele era um momento fraterno que nunca poderia faltar entre ambas. 

– E então? Pronta para começar o dia? – Flavinha parecia animada. 

– Estou prontíssima. E as outras? Já chegaram?