Al otro lado de la lluvia

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                  [Música: Al otro lado de la lluvia – Dulce María]

                   O dia de Sunisa Lee estava começando antes mesmo do amanhecer. O seu despertador em sua mesa de cabeceira e foi desligado após alguns instantes. No entanto, ela não conseguiu se levantar de imediato. A cama parecia mais confortável do que de costume, ainda mais quente, principalmente agora que seu corpo estava tão cansado. Aquela semana estava sendo difícil: muitas entrevistas, muitas agendas sociais e uma viagem marcada para o Texas, onde estaria envolvida em mais e mais entrevistas ao lado de suas companheiras de equipe. Além, claro, de trabalho duro em sua casa.

                    Aquele lugar que – em teoria – deveria ser o seu abrigo, o seu porto seguro, tinha se tornado o seu inferno pessoal. Suas energias estavam sendo minadas a cada instante que estava ali dentro e não conseguia enxergar um horizonte esperançoso. Sua mãe estava cumprindo bem as ameaças de punição e era sempre o mesmo ritual: Yeev descontou a raiva, inicialmente, com os castigos físicos... O hematoma na sua costela direita era a prova; em seguida, passou aos castigos restritivos, lhe trancando no quarto, restringindo ainda mais as suas refeições. Estava determinada a lhe mostrar quem, de fato, estava no poder; a última parte era lhe fazer trabalhar pesado pela casa limpando, cozinhando, servindo aos irmãos... Infelizmente, era uma situação da qual não poderia escapar, pois não tinha pessoas fortes o suficiente e nem tão compreensivas. A única que lhe compreendia... Bem... Estava longe e o fantasma daquela briga terrível em Paris pairava entre as duas. A dor e o ressentimento ainda era forte.

                    Aquela rotina lhe desgastava bastante, uma vez que tinha que conciliá-la com as horas de preparação física para sua volta às competições. Era como se o mundo estivesse caindo em sua cabeça e lhe esmagando lentamente. Porém, aquilo também estava lhe ajudando a entender melhor as coisas, a dinâmica daquela casa e o modo de agir de sua carrasca, que era a sua própria mãe. Aprendera muito bem a lição dos pequenos detalhes e ali estava aprendendo na pele o quão importante eles eram. Yeev era uma pessoa muito dual: era uma pessoa completamente diferente em frente às câmeras – ao ponto de ser irreconhecível –, sempre sorria, lhe dizia coisas bonitas e inspiradoras... Até matérias no jornal rendiam. Todos os pais de atletas e as pessoas comuns sempre comentavam da importância da mãe de Sunisa Lee para sua carreira, todos comentavam sobre como o apoio dela lhe levaram ao topo do esporte, etc. Puras especulações. "Ah! Se eles soubessem... Se pudessem imaginar", era o que ecoava na sua mente todas as vezes que se lembrava daquilo. Dentro de casa, se tornava o pior pesadelo. Era fria, cruel e... Manipuladora.

                    Era incrível como sua visão tinha sido transformada. Seu pequeno ato de rebeldia chamado Jade Barbosa tinha lhe ensinado coisas novas não apenas em relação ao prazer, mas também em relação a tudo o que acontecia ao seu redor. Então, já sabia que tinha alguma errada ali. E aquilo lhe corroía por dentro, pois sentia o peso da injustiça, ainda mais quando lembrava do carinho que a mãe despejava sobre os seus irmãos homens e depsrezava as filhas. Claro... Tudo era disfarçado para que as pessoas de fora não percebessem. Seu pai não percebia mesmo estando perto, mas mesmo assim era o seu ponto de apoio e lhe ajudava a sempre submergir daquele mar profundo e sombrio de suas emoções e crises de ansiedade.

                    Após quase três minutos lutando contra a vontade de ficar ali e dormir o dia inteiro, Sunisa se levantou e, ainda sentada na cama, espreguiçou-se e estirou seus músculos. Já de pé, tratou de ir até o banheiro para cuidar de sua higiene matinal. Um banho quente para começar, lhe ajudou a tirar um pouco daquela tensão. Enquanto escovava os seus dentes, deixava a sua mente vagar, recapítulando momentos específicos do que fizera e do que deveria fazer para continuar firme em sua carreira e tabém refletia sobre a presença macabra naquela casa que era a sua mãe. Era impressionante o quanto percebia que ela não era nada além da manipulação, pois gostava muito de jogos mentais. Aqueles pequenos detalhes eram como um portal revelador o qual havia sido aberto por Jade. A brasileira tinha se tornado um elemento crucial para aquela sua nova percepção. E o mais importante: percebeu que não tinha tanto medo assim, apenas não tinha coragem. E a coragem estava chegando. Paris tinha sido um divisor de águas em sua vida.

Podium and Fire - Kiss Me Like You Mean it.Onde histórias criam vida. Descubra agora