Capítulo 2: Segredos do Passado

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Na manhã seguinte, Viollet acordou com uma sensação estranha, como se algo estivesse prestes a acontecer. A conversa da noite anterior com Nathan ainda pairava em sua mente. "Algumas coisas não podem ser desfeitas depois de serem descobertas." Aquelas palavras ecoavam em sua cabeça, repetidas vezes, como um enigma que ela não conseguia resolver.

Ela balançou a cabeça e se levantou. "Preciso focar no trabalho", pensou. Vestiu o uniforme e saiu, seguindo para o café. O ar estava frio e úmido, com uma névoa cobrindo as ruas, e o bairro parecia mais calmo do que o normal. Enquanto caminhava, pensava em Nathan. Quem ele era realmente? E qual era o segredo que ele escondia?

Assim que chegou ao café, Viollet viu que Nathan já estava lá, organizando as mesas e colocando as cadeiras no lugar. Ele parecia diferente, seus olhos estavam cansados, e havia algo em seu olhar que ela não conseguia definir – algo que parecia medo.

— Bom dia — disse ela, tentando parecer despreocupada.

— Bom dia, Viollet. — Ele respondeu sem muito ânimo, o olhar distante.

Ela mordeu o lábio, hesitando por um momento antes de perguntar.

— Está tudo bem, Nathan?

Ele a olhou por um instante, e por um momento, Viollet viu um lampejo de vulnerabilidade em seus olhos, algo que parecia um pedido de ajuda. Mas ele logo desviou o olhar e assentiu.

— Está sim. Só uma noite ruim, nada demais.

Viollet sabia que havia mais do que isso, mas decidiu não pressioná-lo. Ela pegou a bandeja e começou a organizar os pedidos dos clientes. O café já começava a encher, o movimento habitual de todas as manhãs.

Mais tarde, enquanto estava no balcão, notou um homem entrando no café. Ele tinha um ar suspeito, usando um casaco escuro e óculos de sol, apesar de estar nublado lá fora. Ele se aproximou do balcão e olhou diretamente para Nathan, que estava de costas.

— Eu gostaria de um expresso, por favor — disse o homem, com uma voz firme e um pouco áspera.

Viollet pegou o pedido e começou a prepará-lo, mas notou que Nathan tinha parado o que estava fazendo. Seus ombros estavam tensos e ele não se virou. Viollet franziu o cenho, percebendo a estranha tensão no ar.

— Nathan, pode pegar um copo, por favor? — ela pediu, tentando quebrar o silêncio desconfortável.

Nathan se virou lentamente, e quando seus olhos encontraram os do homem, a expressão de seu rosto mudou. Era medo. Viollet não conseguia acreditar, mas era isso que ela estava vendo.

O homem sorriu de maneira fria e maliciosa.

— Longa noite, não foi, Nathan? — ele disse, em um tom que parecia esconder uma ameaça.

Nathan não respondeu, apenas pegou o copo e entregou a Viollet, evitando olhar para o homem novamente. O silêncio entre eles era quase palpável, e a sensação de que havia algo perigoso acontecendo se intensificou dentro dela.

Quando o homem finalmente pegou o café e saiu. Nathan soltou um suspiro que parecia estar segurando desde que ele entrara. Viollet não conseguiu mais segurar sua curiosidade.

— Quem era aquele? — perguntou, se aproximando de Nathan, tentando parecer casual, mas sua voz saindo preocupada.

Nathan olhou para ela, e por um momento, parecia que iria contar a verdade, mas então balançou a cabeça.

— Ninguém que importe, Viollet. Só um velho conhecido.

— Nathan, você está claramente perturbado por causa desse cara. Se há algo acontecendo, eu quero ajudar — disse ela, sua voz baixa, quase um sussurro.

Ele fechou os olhos por um instante, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.

— É melhor você ficar fora disso, Viollet. Eu... não quero que você se envolva.

Antes que ela pudesse responder, um grupo de clientes entrou no café, e Nathan se afastou, indo atender às mesas. Viollet ficou parada por um momento, uma sensação de impotência e frustração crescendo dentro dela. Era óbvio que Nathan estava encrencado, e por mais que ele dissesse para ela ficar fora disso, ela sabia que já estava envolvida.

Quando seu turno terminou, Viollet estava saindo do café quando viu Nathan, encostado na parede do lado de fora, como se estivesse esperando por ela. Ele parecia cansado, os olhos escurecidos por algo que ele não podia compartilhar.

— Podemos conversar? — perguntou ele, a voz quase inaudível.

Viollet assentiu, sem dizer nada, e eles começaram a caminhar juntos pelas ruas do bairro. A noite estava fria, e o vento balançava levemente os galhos das árvores, criando sombras dançantes nas calçadas. Nathan permaneceu em silêncio por um longo tempo, até que finalmente falou.

— Eu não sou quem você pensa que eu sou, Viollet. Eu... fiz coisas das quais não me orgulho. — Sua voz era cheia de arrependimento, e ele não conseguia olhar para ela.

— Que tipo de coisas? — perguntou Viollet, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.

Nathan parou, olhando para o céu, e então se virou para ela.

— Digamos que eu me envolvi com as pessoas erradas. E agora... estou tentando me afastar, mas isso não é tão fácil quanto parece.

Viollet respirou fundo, tentando processar o que ele estava dizendo. Ela sabia que havia algo errado, mas ouvir isso era ainda mais chocante.

— Essas pessoas... aquele homem no café, ele é um deles? — perguntou ela.

Nathan assentiu lentamente.

— Sim, ele é. E eles não vão me deixar em paz tão facilmente. Eu pensei que vir para cá, começar um novo emprego, seria um recomeço. Mas parece que o passado sempre encontra uma maneira de nos alcançar.

Viollet sentiu uma onda de compaixão por Nathan. Por mais que ele fosse arrogante e misterioso, agora ela podia ver o medo real que ele carregava, o peso de algo que estava tentando escapar. Sem pensar muito, ela colocou a mão no braço dele.

— Você não precisa enfrentar isso sozinho, Nathan. Talvez eu não entenda tudo, mas quero ajudar.

Nathan olhou para ela, surpreso, seus olhos suavizando por um momento.

— Você realmente não entende no que está se metendo, Viollet. Isso é perigoso. Pessoas já se machucaram por minha causa.

— Talvez eu não entenda, mas sei que você precisa de alguém ao seu lado. E eu não vou deixar você enfrentar isso sozinho — ela respondeu, sua voz firme.

Nathan parecia prestes a protestar, mas então suspirou, uma expressão de cansaço e resignação tomando conta de seu rosto.

— Tudo bem. Mas eu quero que você me prometa que, se as coisas ficarem perigosas demais, você vai se afastar. Eu não quero que você se machuque por minha causa.

Viollet assentiu, embora soubesse que não poderia prometer aquilo de verdade. Algo dentro dela a impelia a ajudá-lo, não importava o custo.

— Eu prometo — mentiu, sabendo que já estava envolvida demais para simplesmente se afastar.

Os dois continuaram andando em silêncio, mas agora havia um entendimento entre eles, um vínculo que ia além das palavras. Viollet sabia que sua vida estava prestes a mudar, e que o caminho à frente não seria fácil. Mas também sabia que não recuaria. Nathan precisava dela, e ela estaria lá, ao lado dele, não importava o que estivesse por vir.

Ela sentia que aquele era apenas o começo, e que as sombras do passado de Nathan logo se aproximariam deles, trazendo consigo perigos que ela ainda não conseguia imaginar. Mas, por mais que isso a assustasse, algo dentro dela estava preparado para lutar ao lado dele — custasse o que custasse.

Entre Acasos e SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora