Em meio à humilhações e agressões, Hiroki decide por um fim à tudo isso, e consegue pedir ajuda ao seu pai que o leva embora para sua nova família, Hiroki deve decidir qual caminho seguir, voltar ao passado e resolver pendências ou apenas seguir em...
Às vezes, confiamos nas pessoas erradas. Essas mesmas pessoas acabam nos traindo, e, no fim, sempre parece que estamos sozinhos... Não é assim?
TRIMM!! TRIMM!! TRIMM!!
O som agudo do despertador reverberava pelas paredes de um quarto caótico. Pôsteres de bandas de rock e jogos retrô cobriam as paredes, numa confusão que refletia a mente de seu ocupante. O garoto na cama, enfiado embaixo das cobertas, estendeu a mão lentamente e bateu no despertador com força suficiente para silenciá-lo. Eram seis horas da manhã de uma segunda-feira.
— Yawn! — Hiroki bocejou, esfregando os olhos com sono, enquanto seus dedos bagunçavam ainda mais seus cabelos loiros e desarrumados. Ele se levantou com relutância, sua expressão deixando claro o desânimo que sentia diante de mais um dia de escola.
Hiroki se espreguiçou, seus ossos estalando enquanto tentava se livrar da sonolência que ainda o dominava. Caminhou até o guarda-roupa, onde seu uniforme escolar estava perfeitamente dobrado e organizado. Sua madrasta, sempre meticulosa, havia cuidado para que tudo estivesse impecável, como de costume.
De uniforme em mãos, ele saiu de seu quarto, atravessando um corredor estreito e mal iluminado até alcançar o banheiro. A porta, ligeiramente entreaberta, rangeu ao ser empurrada. Ao entrar, o garoto ligou o chuveiro, permitindo que a água gelada o atingisse, provocando um choque que o despertou de vez. O frio percorria sua pele, mas a sensação era quase revigorante, expulsando o último vestígio de cansaço.
Alguns minutos depois, Hiroki emergiu do banho, secando os cabelos curtos rapidamente antes de vestir o uniforme. A camisa branca bem ajustada contrastava com sua blusa preta, que usava por baixo. Ele completou o visual com uma calça preta folgada e tênis vermelhos da marca "Like", decorados com detalhes negros.
Com o tempo apertado, correu para a cozinha, onde pegou um punhado de biscoitos. O café da manhã seria rápido, já que ele estava mais preocupado em não se atrasar para a escola do que em se alimentar adequadamente. Com o estômago parcialmente satisfeito, Hiroki saiu às pressas, sentindo o peso de mais um dia começando, mas com a sensação de que algo mais o aguardava.
Chegando em frente ao portão da escola, ainda movimentado com a entrada dos últimos alunos, Hiroki suspirou aliviado. Havia conseguido chegar a tempo, evitando o constrangimento de mais um atraso. O sol da manhã iluminava o pátio, onde grupos de estudantes se reuniam, rindo e conversando, enquanto ele atravessava os portões. No momento em que adentrava a escola, uma voz familiar o interrompeu.
— Ei!! Hiroki-san! Aqui! — gritou alguém, chamando sua atenção. Era Léo, um garoto de cabelos castanhos, ligeiramente mais alto que Hiroki.
Léo era um amigo especial, alguém que Hiroki havia acolhido quando chegou ao Japão vindo do Brasil. No início, Léo era alvo de zombarias por ser estrangeiro, mas Hiroki interveio e, desde então, os dois se tornaram inseparáveis, quase como irmãos. Ao lado dele, estava outro amigo, um pouco mais baixo, com cabelos azuis e olhos da mesma cor — Hiruma, o mais sério do trio.
Hiroki se aproximou com um sorriso no rosto e cumprimentou ambos com um soquinho, o gesto habitual entre eles.
— Léo, Hiruma! Como vocês estão? — perguntou ele, descontraído.
— Hiroki-san, eu tô ótimo! — respondeu Léo com um sorriso contagiante. Ele era sempre o mais animado, aquele tipo de pessoa que parecia estar de bom humor o tempo todo.
— Hiroki... por quê? — interrompeu Hiruma, sua voz carregada de seriedade, contrastando com a leveza do momento. Seus olhos azuis perfuravam Hiroki com intensidade. — Por que você faltou na aula de karatê?!! —
A pergunta de Hiruma caiu como um peso. Diferente de Léo, Hiruma era focado, disciplinado, sempre cobrando comprometimento de seus amigos, especialmente no que se referia ao karatê, que os três praticavam juntos. Hiroki sabia que aquela cobrança era mais do que justa.
— Ah, bem... Eu estava com preguiça — responde Hiroki com honestidade, encolhendo os ombros.
O karatê era a grande paixão do trio. Hiroki e Hiruma se conheceram no dojo e desde então competiam como rivais, sempre se desafiando a melhorar. Léo, por influência de Hiroki, acabou se juntando a eles, e desde então os três mantinham uma disputa acirrada para ver quem alcançaria o topo do dojo primeiro.
— Como assim preguiça? — retrucou Hiruma, claramente irritado, uma expressão rara para ele. — Eu fiquei entediado de lutar contra aqueles fracos. Até o Léo faltou!
— Eu já disse que estava doente! — defendeu-se Léo, cruzando os braços e virando o rosto de forma exagerada.
A discussão foi interrompida pelo toque do sinal que ecoou pelos corredores, marcando o início das aulas. Sem mais palavras, os três seguiram juntos para a sala, já que compartilhavam o mesmo horário. A primeira aula do dia era matemática, um tormento tanto para Hiroki quanto para Hiruma. Ambos detestavam a matéria, enquanto Léo, com seu entusiasmo habitual, a considerava a melhor e mais útil de todas.
— Matemática é a base de tudo, galera! — dizia Léo com brilho nos olhos, enquanto seus amigos apenas reviravam os deles em resposta.
O dia se arrastou como de costume. As aulas, monótonas e sem vida, pareciam intermináveis. Poucos alunos prestavam atenção, e até os professores pareciam mais interessados no fim do expediente do que no conteúdo das aulas. Hiroki mal conseguia manter os olhos abertos, e até Hiruma, geralmente disciplinado, estava desanimado.
Finalmente, o tão esperado sinal indicando o fim das aulas tocou. Aliviados, o trio se reuniu novamente no portão da escola. Todos seguiram juntos, como de costume, rumo ao dojo onde passariam o resto do dia treinando. O caminho os levava por becos estreitos e ruas sinuosas, um trajeto que já conheciam de cor.
Ao virarem a última esquina, o dojo apareceu à vista: grande, imponente e chamativo, com um letreiro luminoso que exibia orgulhosamente o nome "Hungry Lions", o maior e mais respeitado dojo de Saitama. Ali, eles iriam se desafiar novamente, suar e, quem sabe, se aproximar um pouco mais de seus objetivos.
Continua.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.