- 7 - TÍTULO

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CAPÍTULO 7 - A PRESSÃO DO NOME

Os dias seguintes à vitória de Yudi no dojo trouxeram mudanças. A notícia sobre o feito se espalhou rapidamente entre os alunos, e Yudi se tornara uma espécie de lenda. Todos queriam saber mais sobre "o gênio que venceu o sensei Kaito" — um título que, de repente, parecia muito mais pesado do que ele imaginava. A expectativa de todos era de que ele fosse o próximo grande lutador do dojo, e isso trazia a pressão que Yudi sempre evitava.

No começo, ele parecia confortável com a atenção, mas, à medida que os treinos se intensificavam, algo mudava. Era visível que ele começava a perder a paciência com a pressão. Eu, Léo e Hiruma o víamos se afastando, cada vez mais calado, e ele passava menos tempo conosco. Léo até brincou uma vez:

— Se ele continuar assim, vai virar um mestre zen!

— Ou um eremita. — completei, tentando descontrair. Mas, no fundo, eu estava preocupado. O dojo, que antes era um lugar de competição amigável e companheirismo para nós, agora parecia ser o centro de uma tensão crescente.

Certa tarde, depois de mais um treino intenso, me aproximei de Yudi. Ele estava sentado sozinho em um canto do dojo, o olhar perdido no vazio. A expressão dele era difícil de interpretar, mas eu sabia que algo o incomodava.

— Ei, Yudi. — chamei, sentando ao lado dele. — O que está rolando? Você tem andado meio estranho ultimamente.

Ele me olhou, hesitante, e depois soltou um suspiro pesado.

— Hiroki… — começou ele, a voz um pouco amarga. — Todo mundo espera que eu seja algo que eu nem sei se quero ser. Derrotar o sensei Kaito foi uma sorte, mas agora parece que preciso provar isso toda vez que entro aqui. Antes, lutar era algo que eu fazia porque gostava. Agora, parece uma obrigação.

Eu nunca tinha visto Yudi tão vulnerável. Ele sempre fora o irmão confiante, o prodígio que fazia tudo parecer fácil. Ver essa insegurança era novo para mim.

— Talvez você só precise de um tempo, Yudi. Todo mundo aqui sabe que você é talentoso, mas não precisa carregar o dojo nas costas.

Ele me deu um leve sorriso, mas eu podia ver a sombra de dúvida ainda nos olhos dele.

Naquele momento, Hiruma e Léo apareceram, interrompendo a nossa conversa.

— Aí estão vocês! Pensei que tinham fugido. — disse Hiruma, tentando aliviar o clima.

Léo se aproximou, dando um tapinha nas costas de Yudi.

— Escuta, campeão. Você não precisa ser o melhor o tempo todo. Só o bastante para me enfrentar e perder de forma épica! — Léo brincou, arrancando risadas de todos nós.

Aquelas palavras pareciam aliviar um pouco a tensão de Yudi, e ele finalmente riu de volta. Depois de tanto tempo, era bom vê-lo relaxar e lembrar do que realmente importava. E, naquele momento, percebi que o dojo, nossos treinos e nossas amizades eram o que nos mantinham conectados e motivados — muito mais do que títulos ou expectativas.

Nos dias seguintes, Yudi começou a encarar os treinos de uma maneira diferente. Ainda sentia o peso das expectativas, mas, com nossa amizade ao lado dele, parecia mais fácil. As sessões no dojo voltaram a ser uma mistura de treino intenso e conversas descontraídas, onde Léo soltava piadas no meio dos exercícios e Hiruma nos desafiava a cada intervalo.

Certo dia, ao final de um treino especialmente cansativo, o sensei Kaito nos chamou para uma reunião. Todos os alunos se sentaram em círculo no tatame, atentos. O sensei tinha uma expressão séria, como se fosse nos contar algo importante.

— Todos vocês têm treinado duro. O dojo está orgulhoso dos resultados que estão mostrando — começou ele, observando cada um de nós. — Mas lembrem-se de que ser o melhor não significa vencer apenas com os punhos. Vocês precisam entender o que significa lutar com o espírito. O verdadeiro talento não é apenas físico, mas mental.

Ele olhou diretamente para Yudi, e eu percebi que as palavras eram para ele. Yudi, por sua vez, pareceu absorver cada palavra. Era como se o sensei soubesse o que ele estava enfrentando.

Depois da reunião, eu, Yudi, Léo e Hiruma saímos do dojo e caminhamos pelas ruas iluminadas, ainda comentando o discurso do sensei.

— Vocês entenderam essa coisa de lutar com o espírito? — perguntou Léo, franzindo a testa. — Parece papo de filme antigo.

— Ele quis dizer que não adianta ser só forte fisicamente. A gente tem que ter motivação, determinação… essas coisas — expliquei.

— Para mim, parece simples. Mas entendo por que ele falou isso. — Yudi comentou, pensativo.

Hiruma, que estava mais quieto do que o habitual, finalmente falou:

— Yudi, se você tiver o espírito, o talento vai te levar longe. Mas lembre-se de quem está com você nesse caminho. Somos uma equipe.

Nós paramos por um momento, cada um absorvendo o que ele disse. Eu percebi o quanto aqueles treinos, as lutas e os desafios no dojo tinham nos unido de uma forma profunda. Não importava o quão longe Yudi fosse com seu talento, ou o quanto Léo e Hiruma se esforçassem para melhorar, nós estávamos juntos nessa jornada.

Aquele momento marcou uma virada para todos nós. Afinal, o dojo não era apenas sobre vencer ou perder, mas sobre descobrir quem realmente éramos — e construir a força necessária para enfrentar não só o ringue, mas a vida.

Shi To Kyusai: Hiroki-SenOnde histórias criam vida. Descubra agora