- 4 - FAMÍLIA MORI 2

145 8 0
                                    

A senhora Mahina serviu a mesa com a mesma dedicação de sempre. Assim que me aproximei, avisei sobre a ausência de meu pai e o motivo de seu atraso. Ela apenas assentiu em silêncio, já habituada à rotina agitada de trabalho que frequentemente o afastava de casa. Ainda assim, meu pai sempre fazia questão de tentar passar algum tempo conosco, apesar das exigências do restaurante.

A refeição da noite era simples, mas deliciosa: arroz, acompanhado de uma sopa de legumes que todos na família adoravam. Era um daqueles pratos que nos traziam conforto, o tipo de comida que só uma mãe sabe fazer, e minha madrasta tinha o toque perfeito. A cada colherada, sentia o calor da refeição acalmar meu corpo cansado.

— Isso está incrível como sempre, mãe — comentei, saboreando o prato com entusiasmo.

— Obrigada, meu filho. Fico feliz que tenha gostado — respondeu ela, com sua habitual voz doce e acolhedora, um sorriso tranquilo iluminando seu rosto.

Yudi também sorriu enquanto comia, aproveitando o momento de paz. A casa estava silenciosa, apenas o som das colheres tilintando contra os pratos preenchia o ambiente. Esses momentos eram raros, e eu sempre tentava aproveitá-los ao máximo. Mesmo com a ausência do meu pai, o calor familiar permanecia forte.

Após alguns minutos de conversa leve sobre o dia, Yudi interrompeu a calmaria com uma pergunta:

— E aí, Hiroki, depois de jantar, vamos testar a nova versão do Fighters X?

Eu sorri de volta, sentindo a empolgação crescer novamente. — Claro! Vai ser épico.

Mahina nos observava com aquele olhar de quem sabia o quanto esses momentos de descontração eram importantes para nós. Era nessas pequenas coisas — uma refeição compartilhada, um jogo entre irmãos — que encontrávamos uma forma de nos reconectar após um longo dia de responsabilidades e desafios.

O jantar continuou com o mesmo calor, e ao fim da refeição, o cansaço ainda pesava em meu corpo, mas a perspectiva de algumas rodadas de Fighters X com meu irmão me animava o suficiente para ignorar a exaustão.

Depois do jantar, eu e Yudi fomos testar a tão aguardada atualização de Fighters X. A empolgação, no entanto, se esvaiu rapidamente. A nova versão do jogo era, para nossa decepção, uma completa... merda. Adicionaram apenas dois novos personagens, e o design deles parecia ter sido feito às pressas, sem o capricho das versões anteriores.

Desanimados, nem sequer iniciamos uma partida.

— Cara, que lixo de atualização — comentou Yudi, irritado.

Tentei encontrar algum argumento para defender o jogo, mas depois de alguns segundos refletindo, desisti. — Realmente, um lixo.

Um silêncio desconfortável pairou no ar por alguns segundos, até que Yudi, do nada, começou a rir. A gargalhada dele ecoava pelo quarto, e eu fiquei sem entender o que havia de tão engraçado. Antes que eu pudesse perguntar, ele me olhou e, ainda sorrindo, explicou.

— Sabe... quando você chegou aqui, eu pensava que você só iria me atrapalhar. Nunca pensei em ter um irmão mais novo, e confesso que achei que nunca me acostumaria com sua presença. — Ele parou por um segundo, lembrando-se dos primeiros dias após minha chegada. — Mas quando nossa mãe me obrigou a te ensinar a jogar, eu percebi que, no fundo, me sentia feliz com isso. Acabei me apegando a você, irmão.

Fiquei surpreso com a confissão repentina, sentindo um calor no peito. Não era comum termos esse tipo de conversa. Yudi sempre foi mais reservado quando se tratava de sentimentos, mas naquele momento, pude perceber o quanto ele valorizava nossa relação.

— Eu também, Yudi — respondi, com um sorriso genuíno no rosto. — Você sempre esteve aqui pra mim, e isso significa muito.

O clima leve voltou ao ambiente, e mesmo que a atualização do jogo tivesse sido uma decepção, a noite ganhou outro significado. Estar ali, rindo e conversando com meu irmão, era o que realmente importava.

A manhã começou tranquila. Acordei no horário certo e desci para a mesa do café, onde meu pai, Yudi, e minha madrasta já estavam reunidos. O aroma de café fresco e pães quentes preenchia o ambiente.

— Bom dia, filho — meus pais me cumprimentaram quase em uníssono, enquanto Yudi apenas sorriu de leve, o típico dele.

O café da manhã correu de maneira pacífica, entre conversas leves sobre o dia e algumas piadas casuais. Enquanto mordia um pedaço de pão, lembrei de algo importante e me virei para Yudi.

— É melhor você ir no treino hoje — falei, tentando não soar tão insistente, mas sabendo que ele precisava desse empurrão.

Yudi suspirou profundamente, um sinal claro do que viria em seguida. — Não vai dar... tô com uma dor nas costas — ele respondeu, com aquela voz que denunciava a mentira.

Eu sabia muito bem que ele estava inventando. Yudi sempre encontrava uma desculpa para fugir de qualquer compromisso mais sério, fosse o treino ou qualquer outra atividade que exigisse esforço. Ele tinha talento natural para tudo, fosse nos estudos ou nas lutas, mas a preguiça e a falta de vontade o impediam de alcançar seu verdadeiro potencial.

— Você podia ser o melhor do dojo, sabia? — comentei, tentando convencê-lo. — Se não fosse tão preguiçoso...

Ele riu de leve, sem dar muita importância. — E o que eu ganharia com isso?

Essa era a essência de Yudi. Ele sempre foi bom em tudo o que se propôs a fazer, mas nunca enxergou a necessidade de ir além. Era frustrante ver tanto talento ser desperdiçado, mas eu já sabia que não adiantava insistir muito.

Shi To Kyusai: Hiroki-SenOnde histórias criam vida. Descubra agora