- 9 - voltar ou deixar?

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No dia seguinte ao pesadelo, Hiroki se sentia estranho. A noite mal dormida e as imagens perturbadoras de Tóquio deixaram sua mente inquieta e seu corpo exausto. Ainda assim, ele se forçou a levantar, vestir seu uniforme e seguir para o dojo. Cada passo parecia mais pesado, como se o próprio chão estivesse tentando impedi-lo de avançar.

Ao chegar, ele encontrou Léo e Hiruma já aquecendo, rindo e trocando provocações amistosas. A cena cotidiana deveria confortá-lo, mas, dessa vez, ele sentiu como se estivesse fora de lugar, desconectado.

Léo, sempre perceptivo, notou a expressão sombria de Hiroki e se aproximou, dando-lhe um leve soco no ombro. “Que cara é essa, Hiroki? Parece que viu um fantasma!”

Hiroki forçou um sorriso. “Só uma noite ruim, nada demais.”

Hiruma, mesmo focado em seus exercícios, ergueu os olhos e analisou Hiroki com atenção. “Se foi só uma noite ruim, então mostra que ainda tá com a gente. Quero ver você dando tudo hoje.”

Mas o treino daquele dia não seria apenas físico. O sensei Kaito, atento às falhas de concentração de Hiroki, o chamou para uma conversa particular. Ambos foram para uma sala reservada, onde Kaito o observou em silêncio antes de falar.

“Hiroki, eu vi sua luta com seu próprio espírito ontem. Você acha que só lutar com os punhos é suficiente?” O sensei cruzou os braços, a expressão séria. “Uma luta de verdade começa na mente. É lá que o verdadeiro campo de batalha existe.”

Hiroki hesitou. “Eu… achei que o passado não importava mais. Mas ontem…” As palavras travaram em sua garganta, enquanto ele lembrava do vazio e da sensação de abandono que o assombraram no pesadelo.

O sensei Kaito assentiu lentamente. “Esconder as sombras do passado só as torna mais fortes. Precisamos enfrentá-las, até que elas não nos assustem mais.”

Diante dessas palavras, Hiroki sentiu algo despertar dentro de si. Aquele capítulo de sua vida ainda não estava encerrado, mas ele percebeu que talvez fosse a hora de enfrentá-lo com o mesmo espírito que dedicava ao dojo. Encarar seu próprio legado seria a chave para seguir em frente — e, no fundo, ele sabia que não estava mais sozinho para isso.

Fugindo do treino, Hiroki se afastou do dojo e parou em um campo aberto, onde podia observar o céu. A brisa leve balançava seus cabelos enquanto ele tentava acalmar a mente agitada. Olhando para o alto, ele se perdeu nas nuvens, como se nelas pudesse encontrar respostas para os conflitos internos que o perseguiam.

“Então era aqui que você estava se escondendo?”

A voz de Yudi quebrou o silêncio, e Hiroki virou-se, surpreso ao ver não apenas seu irmão, mas também Léo e Hiruma, todos ali, olhando para ele com preocupação.

“Hiroki, o que tá pegando?” perguntou Léo, franzindo as sobrancelhas. “Você tem andado estranho desde ontem.”

“Não é nada, sério…” Hiroki tentou desviar, mas sabia que não conseguiria enganar aqueles que o conheciam tão bem.

Hiruma, sempre direto, cruzou os braços e olhou sério para ele. “Mentir pra gente não vai te ajudar. Fala logo o que tá acontecendo.”

Hiroki hesitou, encarando cada um deles em silêncio. Aquele era o tipo de assunto que ele nunca havia compartilhado com ninguém, algo que estava enterrado profundamente e que ele preferia nunca mais tocar. Mas, ao ver o olhar determinado dos amigos e do irmão, percebeu que não estava mais sozinho. Pela primeira vez, ele entendeu que talvez não precisasse enfrentar aquilo sozinho.

“É Tóquio,” ele começou, as palavras saindo devagar. “Tenho coisas não resolvidas lá… pendências que deixei pra trás e que continuam me assombrando.”

Yudi, Léo e Hiruma trocaram olhares de entendimento. Nenhum deles sabia exatamente o que Hiroki havia passado, mas a gravidade no tom de sua voz dizia tudo.

“Então vamos voltar pra Tóquio,” disse Yudi, sem hesitar. “Se você tem pendências lá, nós vamos com você.”

Léo deu um sorriso confiante. “Se tem gente te assombrando, a gente vai dar um jeito neles, nem se preocupe.”

Hiruma completou, colocando a mão no ombro de Hiroki. “Qualquer que seja o problema, nós enfrentamos juntos.”

Sentindo a força do apoio dos amigos e do irmão, Hiroki respirou fundo e assentiu. Aquela decisão era a mais difícil que já tomara, mas também a única que o permitiria, enfim, enterrar seu passado e se libertar. Com o apoio deles, ele estava pronto para enfrentar as sombras que deixara em Tóquio — e, dessa vez, sabia que não estava mais sozinho.

E assim, Hiroki deu o primeiro passo para confrontar seu passado, com a determinação renovada e com os amigos ao seu lado, prontos para a jornada que estava por vir.

Shi To Kyusai: Hiroki-SenOnde histórias criam vida. Descubra agora