𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟕 - 𝐈𝐧𝐜𝐨𝐦𝐨𝐝𝐨𝐬

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𝐔𝐦 𝐑𝐞𝐜𝐨𝐦𝐞𝐜̧𝐨
𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟕

"Quando as sombras do passado retornam, é preciso enfrentar o que nos assombra, mesmo que a verdade doa."

Aeron On

Depois da conversa angustiante com Heitor sobre como enfrentar S/N e não ser apenas um boneco em suas ameaças, decidimos guardar nossa estratégia para um lugar mais reservado. Era perigoso discutir esses assuntos na recepção; S/N tem olhos e ouvidos em todo lugar. Convidei Heitor para ir até minha casa após o expediente, prometendo que, depois da conversa, eu o levaria de carro. Ele aceitou com um aceno de cabeça, a expressão tensa revelando o quão pesado era o que discutíamos.

Chegando em casa, tirei os sapatos e o paletó, deixando os pesados fardos do dia para trás. Heitor não pôde vir comigo porque precisava passar em um lugar antes, então fui na frente.

Ao entrar na cozinha, avistei Isabela, a babá da minha filha e uma amiga de infância, sentada à mesa com uma xícara de café, seu olhar refletindo preocupação.

- Babela... O que faz aqui a essa hora? - perguntei, me aproximando da pia para lavar as mãos, um gesto automático que não aliviava a tensão.

- Desculpe, Aeron, mas precisamos conversar sobre a Maevi. Esperei você voltar.

- O que aconteceu com ela? - a preocupação se apoderou de mim instantaneamente. Cuidar da minha filha tem sido um desafio; a ausência de Layla pesava como uma âncora em meu peito.

- Nada aconteceu com ela. O problema é que a cada dia ela sente mais falta da mãe. Aeron, precisamos ser francos. Você deveria contar a verdade para ela.

- Não posso! - a afirmação saiu mais firme do que eu pretendia. - Se ela souber o que a mãe fez, isso a machucará mais do que você imagina.

- Mas isso me dá raiva! - a frustração de Isabela era palpável. - Ela precisa saber que a mãe é uma grande filha da puta, que a abandonou. Isso é uma verdade que ela precisa enfrentar.

- Isabela...

- Aeron, você sabe que ela é só uma criança, mas é melhor revelar agora do que mais tarde. Se você esperar, a dor será muito maior. Imagine dizer a ela, anos depois, que a mãe dela sempre esteve viva e decidiu ir embora. Isso pode quebrar o coração dela.

Olhei para Isabela, absorvendo suas palavras. Ela estava certa. Revelar a verdade agora seria menos doloroso do que deixar a verdade corroer a relação dela comigo.

Suspirei, o peso da responsabilidade me esmagando. - Você tem razão. Eu vou falar para Maevi sobre o que realmente aconteceu, mas preciso de mais alguns dias para me preparar. - Virei as costas, buscando um copo na prateleira, a água gelada que enchi parecia não refrescar a tempestade dentro de mim.

- Por favor, Aeron. Eu me importo com a Maevi. Ela já está abalada demais. E imagino como ela ficará quando...

- Quando souber tudo o que a mãe fez? - interrompi, a dor visível em minha voz enquanto enchia o copo de água. Coloquei o jarro de volta na geladeira, mas o peso das palavras pairava no ar.

- Não, não é isso... - Isabela hesitou, a tensão crescendo entre nós.

- Hum? - perguntei, olhando nos olhos dela. - Então o que?

- Layla voltou. Ela esteve aqui hoje de manhã!

A surpresa me pegou desprevenido. Sem perceber, deixei o copo de água escorregar da minha mão, o vidro se espatifando no chão, o som ecoando como um prenúncio de caos.

𝐔𝐦 𝐑𝐞𝐜𝐨𝐦𝐞𝐜̧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora