JUNGSU
Quando cheguei em casa, o cheiro de comida invadiu o corredor antes mesmo de eu abrir a porta. Minha mãe estava na cozinha, como sempre fazia a essa hora. Dez da manhã. Ela gostava de deixar o almoço pronto cedo para poder descansar antes que meu pai chegasse do trabalho. Diz que é o dever dela como mulher, uma obrigação que aceitou e não larga, mesmo agora, grávida de sete meses. Sua barriga protuberante não parecia suficiente para convencê-la a desacelerar, insistindo em fazer tudo ao mesmo tempo, enquanto me impedia de ajudar. "Isso não é trabalho para você", ela dizia sempre.
Meus pais nunca se importaram que eu saísse sozinho. Pelo contrário, sempre me incentivaram a aproveitar a liberdade, a sair com amigos, beijar garotas, fazer "coisas de homem", como eles tanto pregavam. Tenho uma namorada. Ela é engraçada, carinhosa e muito bonita. Qualquer cara se consideraria sortudo por estar com alguém como ela. Mas eu? Eu não sentia nada além de um respeito superficial. Sei que ela tem sentimentos por mim, e isso me faz sentir culpado às vezes, mas não posso forçar algo que não existe. Não sinto desejo, paixão ou amor. Apenas uma vaga consideração por quem ela é.
O que eu não sentia por ela, sentia por Gaon. Mas admitir isso era impossível. Como eu poderia? A simples ideia me fazia sentir uma monstruosidade. Aberração. Era assim que a igreja descrevia pessoas como eu. Meus pais reforçavam essa visão a cada sermão disfarçado de conversa de jantar, afirmando que pessoas que amam outras do mesmo sexo eram "demônios na Terra, corrompendo a obra do Senhor". A cada vez que ouvia isso, um pedaço meu se encolhia, cada vez mais sufocado pela culpa.
Eu estava no sofá, com a TV ligada num volume baixo, mas não prestava atenção em nada. Foi quando o telefone tocou. Era Jiseok. Ele nunca ligava para mim, então fiquei surpreso. Atendi, confuso, e ele logo mencionou o que eu havia dito na noite anterior. Meu coração parou por um instante. Lembrei-me imediatamente do que havia falado. Não foi culpa da bebida; não posso me enganar com isso. Eram palavras que saíram do fundo do meu coração, mas agora, na sobriedade, a vergonha se misturava com o medo. Fiquei em silêncio.
Ele insistiu, continuou falando, e eu sabia que tinha razão em cada palavra. Mas eu não podia lidar com aquilo. Jiseok era a única pessoa que sabia a verdade. Mesmo assim, não consegui continuar a conversa, então desliguei o telefone abruptamente. Voltei a olhar para a TV, tentando me distrair, respirar fundo e assimilar tudo. Eu não entendia por que Gaon continuava insistindo. Ele sempre voltava para mim. Eu sabia que isso aconteceria de novo, então por que me preocupar?
Mas algo mudou. Nos dias seguintes, Gaon parou de me procurar. Não respondia minhas mensagens, não olhava para mim nos corredores da escola. Era como se eu tivesse me tornado invisível para ele. Eu tentava me aproximar, chamá-lo para conversar, mas ele se afastava, como se cada tentativa de toque o queimasse. Aquilo me irritava. Não estava acostumado com a ausência dele. Ele sempre voltava, por mais que eu o afastasse. Mas agora, parecia diferente.
Naquela tarde, enquanto caminhávamos de volta para casa, antes de chegarmos à rua onde ele morava, segurei seu braço. Ele tentou se soltar, mas apertei com mais força, obrigando-o a parar e me encarar.
— Gaon, que porra tá acontecendo? O que você tem? — minha voz saiu mais agressiva do que eu pretendia.
— E você ainda pergunta, seu canalha? — ele retrucou, sua voz carregada de raiva. — Você desligou na minha cara outro dia, e agora quer fingir que não sabe o que tá acontecendo? O culpado dessa merda toda é você, Jungsu.
Ele tentou puxar o braço de volta, mas meu aperto era firme. Sabia que não adiantaria se soltar.
— Ji... você sabe que eu não posso... — comecei a dizer, buscando qualquer desculpa que fosse suficiente.
— Vai se foder, Jungsu. Me deixa em paz. Eu não aguento mais isso. Não aguento ser usado por você. — A voz dele estava tremendo, e, por um instante, eu vi lágrimas em seus olhos, mas ele as conteve. — Eu não quero ser só alguém pra satisfazer suas vontades. Eu quero alguém que me ame de verdade, alguém que tenha coragem de assumir isso. E você nunca vai ser essa pessoa. Você pode beijar quantas garotas quiser, pode continuar fingindo ser o filho perfeito, mas isso não vai mudar o que você sente de verdade.
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Meu corpo ficou paralisado, e meus dedos afrouxaram ao redor do pulso de Gaon. Ele não disse mais nada. Apenas se virou e continuou andando, deixando-me ali, congelado, perdido em pensamentos.
Fiquei parado por um bom tempo, tentando absorver o que ele havia dito. Sabia que ele estava certo. Mas como eu poderia mudar? Meus pais, meus amigos, a igreja... todos me odiariam se soubessem a verdade. Eles já falavam mal de Gaon e de qualquer outro que se atrevesse a ser quem realmente era. Eu mesmo o chamava de aberração, tentando me convencer de que era diferente. Mas não era. Eu estava apenas escondendo o que sentia.
Quando finalmente comecei a andar de volta para casa, o peso da culpa me sufocava. Mais do que o nojo que sentia de mim mesmo, era o sentimento de ter perdido algo que nunca tive coragem de admitir que queria.
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Meu querido baterista • Jooil
RomanceJooyeon tinha uma vida um tanto conturbada e costumava dizer que cartas de amor ou até mesmo paixão era coisa de gente boba, era o que ele dizia para seus amigos, antes de encontrar Gunil. ⚠️ - possíveis gatilhos: Violência, sh (automutilação)