𝟎𝟎𝟕

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JUNHAN

A manhã havia começado em uma névoa confusa de álcool e emoções. Seungmin tinha me chamado para o parque mais cedo, mas eu estava bêbado demais para sequer considerar sair de casa. A noite anterior fora um borrão, uma sucessão de eventos que culminaram em algo que eu não queria enfrentar. Quando finalmente cheguei em casa por volta das 11 da manhã, meus pais estavam no meio de mais uma briga, desta vez sobre a guarda da minha irmã, que nem havia nascido ainda. O processo de separação deles parecia uma espiral sem fim, nunca avançando de verdade, sempre regredindo por causa da minha mãe. Eu a entendia, claro — estava grávida e ser uma mãe solteira nesse país era um fardo pesado, uma vergonha que ninguém queria carregar, mesmo com meu pai sendo o homem que era: agressivo e viciado, se perdendo nas drogas com frequência.

Sentei no sofá, ainda atordoado, o gosto amargo do álcool da noite anterior se misturando com o gosto de culpa. O beijo em Ode martelava na minha cabeça. Não era que eu não gostasse dele; ao contrário, havia algo nele que me atraía de uma forma que eu não conseguia explicar. Mas havia Seungmin também, e as coisas com ele eram complicadas. Ele era bom para mim, mas o que eu sabia sobre ele me deixava em dúvida. Havia rumores sobre uma garota com quem ele ficou e que agora estava grávida. Tudo isso pesava sobre mim, como se fosse uma corda amarrada ao redor do meu peito.

Eu não costumava beber, e agora entendia por que. A sensação de impotência e tristeza me consumia, e o único pensamento que consegui ter foi o de beber mais. Peguei uma das garrafas caras que meu pai guardava na adega. Ele sempre teve dinheiro, e isso era uma das razões pelas quais minha mãe hesitava tanto em se separar. O conforto do dinheiro versus a liberdade de uma vida sem agressões. Uma escolha difícil.

Fui para o meu quarto, passando pela porta dos meus pais sem fazer barulho. Assim que fechei a porta, peguei o celular e vi uma mensagem de Ode. Não liguei muito para a mensagem que ele tinha mandado antes e apenas respondi com "Vem para minha casa, não importa o que você esteja fazendo." Ele visualizou na mesma hora, mas não respondeu. Não precisava. Eu sabia que ele viria.

Coloquei uma música do Slipknot no volume máximo para abafar os gritos da discussão que ainda ecoava pela casa. Me sentei no chão com a garrafa de vinho, tomando longos goles sem me importar com o gosto. Alguns minutos depois, ouvi uma batida suave na janela. Era Ode. Levantei-me e abri a janela para que ele pudesse entrar.

Sentamos no chão, conversando, bebendo. Ele parecia nervoso, e eu não tinha forças para perguntar o porquê, mas ele logo falou:

— Sabe a Seo-ha? — Ode começou, sua voz vacilante. — Ela me mandou mensagem dizendo que está grávida de seis meses. E eu... eu não sei o que fazer, Jun. Estou com medo de contar para a minha mãe. Acho que vou ficar com ela. Ela disse que gosta de mim, e eu não posso deixá-la sozinha.

Meu coração deu um salto, a realidade daquele momento me atingindo como uma onda. Engasguei com o vinho e olhei para ele, surpreso, traído. Senti um misto de raiva e desespero crescendo dentro de mim.

— O que foi, Jun? — ele perguntou, percebendo minha reação.

Olhei para ele, minha voz saiu antes que eu pudesse controlá-la.

— Você é burro ou o quê? — Eu me levantei, desligando o som com um movimento brusco. — A gente se beijou ontem! A gente... E agora você vai ficar com uma garota porque cometeu um erro? Eu entendo que ela não pode ficar sozinha, mas e eu? Onde eu entro nessa história?

Ele abaixou a cabeça, incapaz de me encarar. Havia uma tristeza no olhar dele que me fez querer gritar e ao mesmo tempo abraçá-lo. Ele se levantou devagar, se aproximando de mim.

— Eu sinto muito, Jun. — Ode colocou uma mão no meu ombro. — Eu vou pensar melhor nisso. Se ela permitir, podemos até criar essa criança como se fosse nossa. Juntos.

Eu ri, mas não de felicidade. Era uma risada amarga, cheia de incredulidade.

— Ode, a ideia é bonita, mas a gente tem 16 anos. Ainda somos adolescentes, caramba! Você realmente acha que está preparado para isso?

Ele não respondeu. Sabia que a escolha era dele, que o futuro de Seo-ha, da criança, e até o nosso estava pendendo nas mãos dele. Ele se afastou por um momento, mas eu o puxei para um abraço. Era tudo o que eu podia fazer. Ambos estávamos presos em realidades pesadas demais para nossas idades, tentando encontrar apoio um no outro, mesmo quando o mundo parecia desmoronar.

Ode acariciou meu cabelo, e eu me permiti fechar os olhos, apenas sentindo aquele momento. Não sabia se era o certo estar com ele, mas também não conseguia imaginar estar com mais ninguém.

— Eu te amo, Seungmin — minha voz era um sussurro. — Sei que você provavelmente não vai ficar comigo, mas eu queria que soubesse disso.

Ele segurou meu rosto com as mãos, forçando-me a olhar nos olhos dele.

— Eu também te amo, Junhan. Não pensa assim. Eu vou fazer de tudo para não me afastar de você.

Queria acreditar que tudo aquilo era apenas culpa da bebida, mas no fundo, sabia que não era, eu realmente o amava.

Meu querido baterista • JooilOnde histórias criam vida. Descubra agora