𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 - 𝕾𝖍𝖆𝖉𝖔𝖜𝖘 𝖆𝖓𝖉 𝕮𝖔𝖋𝖋𝖊𝖊

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𝕽𝖔𝖉𝖗𝖎𝖌𝖚𝖊𝖟
𝕾𝖆𝖔 𝕻𝖆𝖚𝖑𝖔
09:30

— Você conseguiu algo? Sobre o caso Almeida? – A voz doce de Suze me acolhe naquela manhã fria de terça-feira. Ou seria segunda? Desde que a enxaqueca começou, os dias se misturaram, e minha memória se desfez.

Sinto apenas um zumbido constante na cabeça, como se um trator tivesse me atropelado, deixando um rastro de dor e confusão.

"Nada, apenas nada." – Respondo mentalmente, enquanto Suze permanece ali, segurando aqueles papéis, provavelmente alguma documentação do IML.

Evito encarar seus grandes e doces olhos, que revelam como a doce mulher parecia não se cansar daquele trabalho que lhe roubava a juventude. Suze não era tão jovem quanto o rosto rechonchudo deixava transparecer.

Seu sorriso quase inocente me faz esquecer minha irritação.

— O senhor Castanhari disse que queria lhe ver. Lembrei agora. – Ela fala como se não estivéssemos conversando há quase uma hora. Suze sempre vinha e ia, papéis nas mãos.

Uma das coisas que eu mais admirava em Suze era sua namorada. Ambas eram incrivelmente felizes, e isso contagiava o ambiente de trabalho. Suze se preocupava em conversar com todos, perguntar como começava o dia.

Yuchy, sua namorada nutricionista, cuidava da comida. Ambas trabalhavam no setor do IML.

— Pode deixar, agradeço por ter lembrado. – Dou um leve tapinha em seu ombro, e ela apenas me responde com um sorriso que irradia carinho.

Suze veio de uma família que não sabia demonstrar afeto. Conheceu a vida sem calor humano. Se minha memória não falha, lembro da primeira vez dela no departamento; foi engraçado vê-la confusa com os gestos afetuosos entre amigos.

Mas era triste saber que ela nunca teve alguém para abraçá-la nos momentos difíceis, que nunca encontrou aceitação.

Caminho devagar até a sala que divido com Castanhari, sem pressa. Ao abrir a porta com cuidado, vejo-o sentado, escrevendo algo no computador. Ele me lança um olhar pelo canto do olho, e um suspiro escapa de mim, como se estivesse indo para uma guerra.

Uma guerra interna, com o passado, que insistia em reabrir feridas que eu pensava ter cicatrizado.

— O novo proprietário do restaurante da família Almeida. Consegui o contato dele. – Sua voz soa cansada, como se não tivesse ido para casa naquela noite. Ele evita me olhar quando me sento ao seu lado.

Ele evita o contato mais do que eu, embora eu não consiga desviar os olhos de seu corpo. Eu entendo, mas, porra, o que eu poderia fazer?

Seu corpo me lembra uma noite fria, quando busco um lugar quente para me aquecer. Seu colo é um abrigo em dias ruins; seu olhar, um campo de rosas.

Ele me deixa louco, como se eu tivesse perdido a sanidade ao vê-lo depois de anos.

— Vai entrar em contato quando? Precisamos ser rápidos com esse caso. – Pergunto, relendo o relatório, as palavras confusas, como se fossem apenas letras sem sentido.

— Já entrei em contato. – Olho para ele, confuso. – Ele me explicou todo o contrato, mostrou cheques e documentos. Não tem nada a ver com a morte da família e apresentou um álibi.

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