Conversa Íntima

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Guto sentia o estômago revirar, a cabeça rodando com as palavras que acabara de ouvir. Estava sentado na cadeira, mas a sala parecia apertar-se ao seu redor, sufocante, como se o ar estivesse sendo lentamente sugado. Hans, por outro lado, recostou-se na cadeira de couro, cruzando os dedos na frente do rosto, parecendo ainda mais relaxado e no controle. Sua presença dominava o espaço, e o silêncio que pairava após sua proposta parecia um predador aguardando o movimento da presa.

Hans manteve o olhar fixo em Guto, quase como se estivesse se divertindo com o desconforto crescente do estagiário. Ele não queria apenas a resposta; queria ver até onde Guto aguentaria antes de quebrar.

Hans: "Você parece... desconcertado, Guto. É uma oportunidade rara, devo dizer. Algo que poucos teriam a sorte de receber. E você, nesse momento, está numa posição em que essa ajuda pode resolver todos os seus problemas. Então, por que hesitar?"

A voz de Hans era suave, quase sedutora, mas carregava uma camada fina de crueldade. Ele já sabia que Guto estava encurralado. O silêncio de Guto era exatamente o que Hans esperava, e ele o usaria a seu favor.

Guto: (gaguejando) "Eu... eu só não sei se... Isso é muito... pessoal."

Hans inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa, seu olhar ficando mais penetrante, quase furioso, mas mantido sob controle.

Hans: "Pessoal? Claro que é pessoal, Guto. Estamos falando de vida, de legado. Você não acha que eu estou sendo... pessoalmente generoso? Estou falando de mudar o curso da sua vida, do seu futuro. Não é uma questão de 'se', mas de 'quando' você vai perceber o quanto essa oportunidade é... única."

Guto olhou para baixo, sem saber o que dizer. A pressão estava crescendo em seu peito, as paredes da sala pareciam se fechar ainda mais, e ele sentia que cada palavra dita era uma armadilha pronta para capturá-lo. O olhar de Mila não ajudava; ela o observava como uma predadora paciente, esperando o momento certo para agir.

Hans, percebendo o desconforto de Guto, viu sua chance de apertar ainda mais as rédeas. Ele não queria apenas intimidá-lo; queria quebrá-lo por completo. Queria ver a submissão em seus olhos.

Hans: "Você já pensou em como seria, Guto? Ver alguém com o seu sangue, parte de você, nascendo e crescendo em um ambiente privilegiado? Ou você está tão preso às suas limitações que não consegue enxergar além delas? Como você planeja ajudar seu pai com essas dívidas? Ou vai deixá-lo definhar enquanto você tenta sobreviver com pequenos bicos e trabalhos de meio-período?"

A cada pergunta, Guto se encolhia um pouco mais. Ele mal conseguia processar tudo o que estava acontecendo. Não era só o que Hans estava propondo, mas a maneira como ele jogava com sua mente, com seus medos e inseguranças. Era como se Hans estivesse despindo todas as camadas de proteção de Guto, deixando-o exposto.

Hans sorriu novamente, um sorriso vazio de empatia, mas cheio de poder.

Hans: "Eu li seu currículo, sabe? Sei que você não tem muitas opções além de nós. Estágio com a Mancini Music? Isso é mais do que você poderia sonhar. E agora... agora estou oferecendo mais do que dinheiro. Estou oferecendo uma solução definitiva. Para você. Para seu pai. Para sua vida."

A cabeça de Guto estava a mil. Ele sabia que, de certa forma, Hans estava certo. Ele não tinha muitas opções. A faculdade, seu pai, as dívidas, tudo parecia insuperável. Mas a ideia de ser parte de algo tão... invasivo, tão pessoal, o deixava doente. E Hans sabia disso. Ele via o desconforto e a indecisão como sinais de fraqueza — e aproveitava cada segundo disso.

Hans: "Me diga, Guto. Como você se sente em relação a isso? Em ser... parte de algo tão importante? Ou você acha que é... indigno?"

A palavra "indigno" caiu como um peso na sala, densa e calculada. Hans queria que Guto se sentisse inferior, incapaz de recusar a proposta, porque sabia que ele estava quebrado. Ele o havia observado o suficiente para saber de seus pontos fracos, de sua situação financeira e emocional. Hans sabia que Guto estava vulnerável.

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