"Ela ia me beijar! Ela ia me beijar! Ela ia me beijar!".
Esse foi o pensamento que Violet repetiu na sua mente pelo menos cem vezes naquela terça-feira pouco movimentada, mesmo depois de acordar. Estava tão aérea com o que tinha acontecido na noite anterior, que sequer foi para a academia e quase esqueceu de buscar a irmã na casa da amiga e levá-la para a faculdade a tempo. O seu dia, até aquele momento, foi sobre acordar, fazer um café bem quente e vegetar em sua cama até a hora de abrir o bar. Àquela altura, seus lençóis devem ter criado raízes.
Ela suspira audivelmente, encarando as bebidas na bancada, de costas para o balcão e com os braços cruzados.
Por que não beijou Caitlyn?
A bartender pensava, os olhos fixos em uma garrafa do whisky favorito de Vander. Um frasco do famoso Macallan, intocado na prateleira. Pensar em seu pai era uma boa forma de evitar aquela pergunta, mas parecia impossível tirar Caitlyn de sua mente. Então, ela suspira novamente e tenta responder a si mesma, mas parece ser incapaz disso. Violet agora encarava qualquer outro ponto do bar já vazio, um tanto frustrada.
Sinceramente, sequer saberia consolidar uma resposta concreta; o que sabia era que, naquele momento, simplesmente não parecia ser certo beijar Caitlyn. Violet nunca a tinha visto daquela forma tão...real, tão frágil, e talvez não quisesse deixar aquele momento ir, talvez não quisesse quebrá-la com sua brutalidade.
Mesmo assim, o quebra-cabeça em sua mente parecia incompleto. Ela não deveria se importar com isso, certo? Vulnerabilidade era para os fracos, já que a única que vez que a demonstrou foi abandonada e passada para trás como um peso. Bom, agora, aquela mesma fragilidade parecia expressar certa magia que Violet não era capaz de explicar. Talvez os anos e anos transando na primeira oportunidade tenham ficado para trás; talvez, agora, a bartender só quisesse algo que durasse, que fosse confortável.
O que era um tanto contraditório, já que esse futuro incluía ficar com uma mulher casada. Ah, é, aí está o outro motivo para Violet não ter colado os seus lábios naqueles que lhe pareciam tão atrativos: quem quer que fosse o marido de Caitlyn, certamente não ficaria feliz com aquilo. E, não apenas isso, e se a azulada só estivesse a usando? E se ela fosse a outra mulher, como naquela música famosa da Lana Del Rey que Violet sofria em segredo? Será que Caitlyn, após uma vida tão reclusa e restrita, teria coragem de acabar o seu casamento para assumir um namoro com uma mulher? Aliás, uma mulher, o que ela já admitiu nunca sequer ter ficado!
Analisando toda a situação naquele momento fez Violet perceber o quão estúpida estava sendo. Não beijar Caitlyn poderia ter sido sua salvação. Mas então, porque parecia tão certo, mesmo sendo tão errado?
Talvez fosse como Vander dizia: "Não dá pra vencer se não estiver disposta a arriscar, garota".
E o que estava em jogo aqui era o seu coração e um casamento.
- Vi? Alô? - Ekko, que já estava sem o avental, com sua mochila nas costas e os dreads soltos pelos ombros acena na sua frente, do outro lado do balcão, balançando a mão na frente do seu rosto - Só uma pergunta, em qual planeta você tá agora?
Violet parece finalmente acordar para a realidade, e a primeira coisa que faz é revirar os olhos.
- Terra, idiota - a bartender responde, ajeitando o cabelo e o laço do avental.
- Aposto que na sua Terra só passam garotas de cabelo azul que gostam de Sex On The Beach - Ekko dá uma piscadela, fazendo uma piada tão sem graça com o nome do drink que faz Violet soltar um arzinho risonho pelo nariz.
- E eu aposto que isso não é da sua conta, Chefinho - Violet sorri sarcasticamente, e puxa um pano e um borrifador com álcool para limpar o balcão de uma gaveta.
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A Garota Do Bar - CaitVi
FanfictionViolet vive uma vida pacata como bartender em Londres; mas tudo muda quando Caitlyn Kiramman põe os pés no A Última Gota.