Dry Martini

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Caitlyn sabia que a noite não seria fácil. Por quê? Bom, simples; seu marido havia voltado de sua longa viagem (que poderia ter sido muito mais longa, na opinião da Kiramman) e chegou com uma notícia que deveria ser muito boa, mas que a azulada ouviu com pouco entusiasmo: Jayce tinha conseguido fechar um grande acordo comercial com uma das maiores empresas do país, e é claro que a comemoração deveria ocorrer imediatamente.

A pior parte vinha agora: o local escolhido por ele para celebrar essa maldita conquista foi o aconchegante bar A Última Gota. Antigamente, quando não tinha se afeiçoado pela bartender e literalmente estar traindo seu marido com ela, Caitlyn certamente não se importaria em ir lá e beber alguns drinks em comemoração. Mas, dadas as circunstâncias, a Kiramman sentiu seus joelhos bambearem quando Jayce comentou o destino deles naquela sexta-feira à noite. Ela estava completamente fodida; Violet a odiaria no momento em que entrasse com Jayce no bar; e seu marido também, se descobrisse o que tinha acontecido naquele mesmo lugar algumas noites antes.

Ela estava na forca, a corda cada vez mais apertada.

Sinceramente, sabia que em determinado momento teria que escolher: ou ficar com Violet e largar o seu casamento que, sejamos sinceros, leitores, já estava arruinado antes mesmo de Caitlyn colar seus lábios naquela bartender; ou esquecer esse caso, viver uma vida infeliz com um homem distante, ter filhos e aturar aquele sexo horroroso pelo resto da vida. Falando assim, a escolha parecia um tanto óbvia.

Caitlyn nunca amou Jayce. Na verdade, a azulada não sentia nada por ele a não ser comodidade, e sabia que ele também não era apaixonado por ela: eles já tinham tido uma discussão bem franca sobre isso. Aquele casamento estava fadado ao fracasso no momento em que seus pais o arranjaram; no momento em que Caitlyn já não sabia se controlava sua própria vida; no momento em que beijou Jayce pela primeira vez e percebeu que ele nunca seria a sua pessoa. E é horrível viver assim, carregar uma aliança que não significa absolutamente nada além de um mero interesse financeiro.

Mas não estava pronta para largar tudo ainda. Sabe, quando se vive uma vida que escapou do seu controle, você pode acabar se acostumando com o caos. E era isso que a Kiramman sentia, mesmo que quisesse queimar aquela aliança nos seus dedos, pular nos braços de Violet e viver uma existência que, pelo menos uma vez, seria sua. Ela só precisava da coragem; mas, naquela noite, sentia que estragaria tudo.

- É aqui? - a voz de Jayce ecoa pelo carro, e Caitlyn pergunta como não percebeu o tempo passar, pois tinham chegado muito rápido. A fachada do A Última Gota brilhava contra seus olhos, e ela finge conferir o endereço no celular.

- O GPS diz que sim - ela responde, sem muita animação para o que deveria ser o início de uma celebração. Mas Jayce não perceberia sua falta de entusiasmo, pois era do tipo egocêntrico; já Violet, provavelmente perceberia; na verdade, já tinha percebido quando perguntou-lhe da sua solidão no Dia Dos Namorados. A Kiramman poderia deduzir ainda que tinha percebido muito antes disso, talvez por isso tivesse se aproximado. Por pena. Esperava que não fosse.

Mesmo assim, o pensamento quase fez Caitlyn abrir um sorriso largo, sabe, aquele sorriso. O sorriso que abrimos quando pensamos em uma pessoa muito querida, quando todos os nossos momentos ao lado dela passam como um filme em nossa cabeça, quando a imaginamos ali, ao nosso lado. O barulho da porta do motorista se abrindo faz com que Caitlyn acorde de seu paraíso (quer dizer, não apenas seu, o considerava dela e de Violet), para perceber que já tinham estacionado e agora Jayce deixava o carro em direção ao bar. A Kiramman respira fundo antes de abrir sua porta.

A caminhada até a entrada do estabelecimento foi silenciosa, como era a maioria das noites ao lado de seu marido. Quando Jayce abre a porta e o som do sino da entrada badalando preenche o ambiente, Caitlyn sabe que não deveria estar ali. O calor do bar lhe recebe como sempre, quase abraçando-a. Mas tem algo diferente, tem algo muito diferente na maneira como seus olhos se encontram com os de Violet atrás do balcão, na maneira como ela não lhe direciona aquele sorriso costumeiro; na verdade, apenas se mantém ali, estática, alternando o olhar entre Jayce e Caitlyn múltiplas vezes.

A Garota Do Bar - CaitViOnde histórias criam vida. Descubra agora